27/01/2024
Quem pensa em cantar sertão
Pode sentar do meu lado.
Se canta coisa rasteira
Que causa riso ou lorota
Se expõe bituca ou meiota
Que desenboca em zoeira;
Mas, meia lua em porteira,
Enxada, ração e gado
Até rebanho e cajado
Abro espaço, estendo a mão!
Quem pensa em cantar sertão
Pode sentar do meu lado.
Tem ventre livre a nascente
Já que a natura é parteira
Desmama na corredeira
Sempre autossuficiente
Se cresce saudavelmente
Meio f**a equilibrando
Se o meio é violentado
Resta a poeira no chão
Quem pensa em cantar sertão
Pode sentar do meu lado.
Galo cantando em poleiro
Sabiá sendo flautista
Pavão um belo estilista
Pega pinto um grande arqueiro
Jumento abrindo o berreiro
Vaca leiteira em cercado
Noite orquestra um ruminado
De dia canta o chorão
Quem pensa em cantar sertão
Pode sentar do meu lado.
Sertanejo persevera
Investindo em terra seca
O solo sente enxaqueca
Mas, chovendo recupera
Barra do dia se esmera
Como um ser iluminado
Deixa o chão esturricado
Dependendo da estação
Quem pensa em cantar sertão
Pode sentar do meu lado.
Fertilidade do solo
Debuta a vida nos brotos
Orvalho processa os gotos
Os sulcos servem de colo
Tempo faz seu protocolo
Sem ter abaixo-assinado
Pouco importa se delgado
Ou denso na aparição
Quem pensa em cantar sertão
Pode sentar do meu lado.
Sonata dos animais
Rasgando a barra do dia
Sai do berço a sinfonia
No apogeu dos madrigais
A plumagem nas vestais
Como um manto atapetado
Tem todo tipo de uivado
Solfejando a imensidão
Quem pensa em cantar sertão
Pode sentar do meu lado.
Glosas e mote: Silvano Lyra O Poetizante