09/04/2024
O novo número da nossa/vossa Revista já se encontra em pré-encomenda. :)
Editorial
Que alegrias virgens, campesinas, fremem
Neste imaculado, límpido arrebol!
Como os galos cantam! ... como as noras gemem!...
Nos olmeiros brancos, cujas folhas tremem,
Refulgente e novo passarinha o sol! ...
Guerra Junqueiro
Estimados leitores e leitoras que ao longo desta nossa aventura editorial nos vêm acompanhando por estas terras celtas, por estes mares, rios e arquipélagos desta nossa Terra-Mãe comum, feita das palavras, das imagens, das metáforas, dos contos, das lendas e das narrativas de todos nós. Aqui chegados estamos, todas e todos, a mais um portal, mais uma liminaridade desta nossa Roda do Ano, um tempo em que saímos a Terreiro, com as nossas cores e coroas de flores, prestes a partilhar cantares e danças, junto às as Fogueiras de Bellenus, a entrelaçar histórias e expectativas, a revisitar o mundo do Além e o nosso além Mundo feitos da matéria ígnea e líquida das histórias e das lembranças das nossas realizações, mais as suas andanças, neste tempo sem Tempo, ou nesta meia estação que é Beltane. Não será, por mero acaso, que toma o subtítulo deste número desta Vossa Revista o nome de Fogos Sagrados: Alquimias E Transmutações... Sabe-se que, outrora, acendiam os Druidas as Fogueiras Sagradas, pelas planícies e cumeadas, com intuitos purificadores, de gentes e de animais que por entre esses braseiros passavam, fogos purificadores, também, eram dos campos, preparando-os, assim, todos, para novas semeaduras e colheitas, formas, pois, de desbravar, simbolicamente, os escolhos crescidos, em Abred, pelos Caminhos. Adequados nos pareceram, então esses versos supra citados do file que também foi vate, o poeta Guerra Junqueiro (1850-1923),
que, qual velho Druida de antanho, gostava de se perder pelos matos, campos e florestas da Lusitânia recebendo e recitando em longuíssimos versos, as vozes das pedras, das flores, das raízes das árvores, dos animais pequenos e grandes, das ervas e das gentes, das heras e das eras do longínquo passado, do presente, por vezes terrível do seu tempo – pois de todos, sempre se nos afigura como mais temível o tempo das nossas vidas –, ou do futuro
incandescente, adivinhado, em poderosas e intermináveis e amorosas odes. Nos Maios ou nas Maias Lusitanos, tal como Junqueiro, levamos ao Campo a nossa interioridade, o nosso ser mais profundo, os nossos desejos vontades, mais honrosos, e quanto deles realizámos e, generosamente, capazes fomos de dar de nós, desse bem que alcançámos, aos outros. Abrimos os nossos corações à Luz doirada do Dia que tudo, com clarividência ilumina,
como se, de novo, na Adolescência da Vida fôramos. De novo escutamos, por toda a parte, na Natureza inteira, a voz sábia dos nossos Antepassados e ao seu Encontro vamos, na Luz ensolarada do Terreiro comunitário, para com eles repetir sob esta benfazeja Luz soalheira os passos ancestrais da Dança do Mastro, sob o auspicioso canto das vozes primaveris dos pássaros. Que Vos sussurrou, então, ao ouvido, o logos, que histórias Vos contaram rios e crepitares de lume?
Da Sageza nos falou, o nosso muito estimado Arqui-Druida /¡\ Adgnatios, em A Questão Da Corporeidade À Luz Da Tradição Celta E A importância Da Dança Ritualística, “desafiando (...) a visão platónica segunda ao qual estas
duas ‘entidades’ (corpo e alma) apresentam interesses diferentes”, propondo solução céltica, “ao integrar a unidade
fundamental «corpo-alma» numa prática ritualística significativa, a Dança Ritualística [que] amplifica a conexão com o cosmos”. Em Do Conto E Do Canto, a Druida /¡\ Adgatia Vatos propõe-nos uma revisitação de Satios, Ou [a]O Mistério De Desnascer, indagando “que fervilha neste nosso caldo druídico aportado ao ritual equinocial primaveril? Que fogo é este resultante do Brilho do Lustre de Satios?” Pelas Clareiras e Bosques encontramos o
Druida /¡\ Gaisos do Colégio Druídico Austral que nos propõe que com ele meditemos nos valores dos Dragani: [ou] O Caminho Dos Guerreiros Na Tradição Lusitana. Dando conta Dos Testemunhos E Dos Tempos, aporta o Druida /¡\ Artuuiros, do Nemeton Arduenis Correacon, uma interessante reflexão acerca da Activation Rituélique Des Rouelles e a sua íntima relação com as diferentes funções operativas dos oficiantes.
Revisitando os rituais da presente Roda do Ano, em Supervivência Do Sagrado, a Druida /¡\ Adgatia Vatos evoca Lembranças Do Último Samónios E Do Encontro Lusitano. Porquanto, a Druida /¡\ Adalthena recorda n’A Sagrada Noite Das Brumas (...) a Receção Das Sementes De Luz, relembrando a importância simbólica desta “décima celebração da Noite das Brumas realizada pela ATDL”, marcada que foi, também, pela chegada da grande Harpa
Céltica Lusitana ao Centro Druídico, obra do Mestre artificie da madeira Arthius Runesius; sublinhando como,
neste ritual, “a afetividade e a emotividade (...) marcaram presença, sobretudo aquando da atribuição da função de Mestre Dinâmico de Cerimónias a Arthius Runesius”. A Druida /¡\ Adalthena conta-nos ainda como À Lareira De Trebaruna, (...) O Nosso Conhecimento Se torn[ou] Luz Constante e, ainda, como em Satios – Do Lustre Da Geleia [aportamos] Ao Acalento Das Almas.
Em Olhares De Yowankos, seguimos, com Lurdes Lourenço, numa revisitação da Espiritualidade Celta, glosando e meditando, alguns dos seus princípios. Temos o gosto de entrevistar o nosso muito estimado Irmão da Irmandade Druídica Galaica, o Durvate Mor /¡\ Xóan Milésio no sempre tão aguardado, Momentum Metáxis, que nos recorda “na tríade básica da filosofia celta, os conceitos de Responsabilidade, Honra e Compromisso”, sempre tão atuais e
necessários tanto nos tempos antigos, quanto hoje, sublinhando o carácter “comunitário” e não “solitário” da “Druidaria”.
Publicamos, neste número todos os Poemas vencedores de nomeações do Concurso de Poesia Pagã. E em Saberes Em Forma De Sabores, o Bardo Lavezüs revela-nos os segredos da confeção das Comidas De Acalento que tão justamente celebrizam a nossa Tradição. Em Andanças Pela Lvsitânea andou a Barda Dula Maïstis, na senda arqueológica do Monte Da Ponte (Évora) [indagando se será este]: Um Cruzamento Entre O Positivo E O Negativo?, questão que muito tem intrigado investigadores e especialistas...
Pelos Trilhos Dos Credimacos, encontrámos rostos familiares, como, a reviver o último Samónios, o Rui Kamacete; ou a Caminhar Com Sentido, pelos trilhos da Lusitânia, a Carla Gaspar. E... o novo Mestre de Cerimónias, Norberto Domingues, mestre artífice
de altares, púlpitos e de Harpas..., conta-nos por Trilhos Do Passado, Do Presente E Do Futuro, do seu encontro com a Tradição e das suas peregrinações ao santuário de Endovélico. Do gentil testemunho de Indira Leão damos, também, aqui conta. Pelos Caminhos De Achale, andou Alva More d’O Templo De Inanna E Astarté. E, finalmente, em Vivências... ...Pagãs Na Península Ibérica, andaram Elisabete Martins Carneiro, a escutar os magníficos
Caretos: Símbolo Pagão, recordando-nos como “Esta tradição ancestral sobreviveu até aos dias de hoje, apesar da tentativa de a eliminar, em Portugal, na altura do Estado Novo, já que era contra os ideais católicos da época.”; e Carla Mourão, que Ao Sol Do Amanhecer, Ao Sol Do Meio Dia E Ao Sol Do Entardecer fez jus aos Fogos Sagrados, Alquimias E Transmutações. E, por fim, encerra, como de uso é, o volume, Agostinho Veras, com o intrigante título, O Sangue Na Religião E Na Cultura Popular.
Encerramos este périplo pelos diferentes artigos desta Vossa Revista como se navegássemos ondas diversas de um
mesmo mar comum, onde, como as barcas de outrora, fundeamos, ancoramos corações a bom porto. Já nos chamam as vozes de moços e moças para a Dança do Mastro. Já nos acende o desejo do reencontro o perfume das flores, o zumbido das abelhas, o canto inebriado dos pássaros da Luz Primeira. No Terreiro dos Maios com todos seremos Fogo, dança e canto, entrelaçados, do Romper ao Anoitecer do Dia.
Direcção Editorial