Os putos do jazz

Os putos do jazz 🎺PlataformaJAZZísticaTransDuriensE🥁
Promoção📢/Crítica✍/Programação📅 Silva - "Mt.
(5)

Certo dia uns putos transmontanos e alto durienses lembraram-se de disseminar a cultura Jazz em Portugal e assim nasceu esta página;
Jazz retangular, à beira mar plantado mas como os socalcos do Douro: livre, espontâneo e improvisado. Músicos já abordados/propagados/homenageados pelos Putos:

Bernardo Sassetti - Pianista (1970 - 2012)
João Barradas - Acordeonista (1992)
André Fernandes - Guitarris

ta (1982)
Carlos Bica - Contrabaixista (1958)

Críticas de álbuns, por ordem cronológica:

João Barradas - "Directions" (Inner Circle Music / Nischo - 2017)
https://www.facebook.com/osputosdojazz/posts/1285156681552483

SongBird - "SongBird Vol.II" (2017)
https://www.facebook.com/osputosdojazz/posts/1310951528972998:0

Vítor Rua & The Metaphysical Angels - "Do Androids Dream of Electric Guitars" (Clean Feed - 2017)
https://www.facebook.com/osputosdojazz/posts/1350538645014286

João Mortágua - "Axes" (Carimbo Porta Jazz - 2017)
https://www.facebook.com/osputosdojazz/posts/1375599459174871

Dan Costa - "Suite Três Rios" (Hypnote Records - 2017)
(Brasil)
https://www.facebook.com/osputosdojazz/posts/1417888458279304

André B. Meru" (Clean Feed - 2022)
https://www.facebook.com/osputosdojazz/photos/a.1281242245277260/4806168266117956/

Mário Costa - "Chromosome" (Clean Feed - 2023)
https://www.facebook.com/osputosdojazz/posts/pfbid02YLVxqCej5eJZHTtfQPt1J7vMibZqUurukH9QakHmoMciW9dKahhxrPX2aeMtBqpKl

Resenhas filosóficas/ounão/sobre concertos/festivais/eventos avulsos:

04/10/2017 - João Paulo Esteves da Silva e Ricardo Toscano (CCB, Lisboa)
https://www.facebook.com/osputosdojazz/posts/1405967782804705

22,24 e 25/11/2017 - Creative Sources Fest XI (O'culto da Ajuda, Lisboa)
https://www.facebook.com/osputosdojazz/photos/a.1277514055650079.1073741826.1277204775681007/1457002227701260/?type=1&theater

07/05/2022 - Salvador Sobral (Teatro de Vila Real)
https://www.facebook.com/osputosdojazz/photos/a.1281242245277260/4892414014160047/

04/02/2023 - 13ºFestival Porta-Jazz (Teatro Rivoli, Porto)
https://www.facebook.com/osputosdojazz/posts/pfbid0ZeNpgQMKCAqvMnWXhzNfAoSkMRrNoiLKa3EFq1SGXc3QBE7Zjh7A1UPBdpNPFcFgl

02/03/2023 - Pedro Melo Alves+Luís Vicente (Café Concerto Maus Hábitos, Teatro de Vila Real)
https://www.facebook.com/osputosdojazz/posts/pfbid02HcUbs6z3PWEhZmCwaEhmCv3nNdzjeZAVFEPxPRfNGePdJLvLFV7MGXwZGMZgwcv3l

10/12/2024

Os Prémios RTP / Festa do Jazz 2024 distinguiram José Soares (Artista do Ano), MOVE (Grupo do Ano), Vera Morais (Artista Revelação) e Maria João (Prémio Mérito).

Começa hoje na Cidade onde Dom Dinis - "O Lavrador" - passava férias a 8°edição de Ponto de Guitarra (Festival de Guitar...
07/12/2024

Começa hoje na Cidade onde Dom Dinis - "O Lavrador" - passava férias a 8°edição de Ponto de Guitarra (Festival de Guitarra em Trás-os-Montes e Alto Douro) com Direção Artística de Paulo Vaz de Carvalho e inserido na programação trimestral do Teatro de Vila Real.

Programa completo da 8.ª edição do Ponto de Guitarra - Festival de Guitarra em Trás-Os-Montes e Alto Douro | 2024.
Direcção artística de Paulo Vaz de Carvalho.

Mais informações em www.teatrodevilareal.com.

Hoje faz anos o Trompetista, Improvisador e Compositor Luís Vicente!👏🎶🎺
06/12/2024

Hoje faz anos o Trompetista, Improvisador e Compositor Luís Vicente!👏🎶🎺

Luís Vicente - trumpetLive at Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra, during Jazz ao Centro FestivalVideo by Mediagroundprod, Hugo Sales

Parabéns Carlos Azevedo! 👏🎹🎉
04/12/2024

Parabéns Carlos Azevedo! 👏🎹🎉

Serpente é o nome do disco que o pianista Carlos Azevedo editou no ano de 2022 pelo Carimbo Porta-Jazz e que aqui apresenta ao vivo neste 13º Festival Porta-...

27/11/2024
“Espetáculo com e sem lágrimas pintado de poesia, Abril e músicas mil da nossa Identidade SOnora”Depois do projeto “Riff...
24/11/2024

“Espetáculo com e sem lágrimas pintado de poesia, Abril e músicas mil da nossa Identidade SOnora”

Depois do projeto “Riff Out”, do guitarrista e compositor Sérgio Pelágio, ter feito às honras de abertura do ciclo “Jazz à 4ª” do Teatro Municipal de Bragança (TMB), coube ao Inquit’Ensemble propor uma viagem na cápsula do tempo abrileira ainda na efeméride redonda, continuamente marcante e cada vez mais urgente relembrar, que são os 50 anos de Abril. O projeto saído da pena e do labor de Miguel Calhaz, cantor e contrabaixista, propôs-se levar a palco o álbum “Que dia é hoje? – Homenagem a José Mário Branco”, editado em 2022 e produzido em parceria com a Convívio Associação e Município de Guimarães, provavelmente uma das primeiras homenagens póstumas ao ícone da música portuguesa que faz por esta altura precisamente 5 anos desde que nos deixou fisicamente falando. Miguel Calhaz (MC) é um caso raro no panorama jazzístico português se não vejamos: para além de ter consolidado uma carreira na área do ensino da Ed. Musical e pedagogia do Jazz – Lic. em Ed. Musical pela ESE do Politécnico da Guarda e Contrabaixo/Jazz da ESMAE - Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, sendo Mestre em Ensino da Música Jazz por esta última instituição pertencente ao Politécnico do Porto, é Professor no Escola Artística do Conservatório de Música de Coimbra – tem vindo a trilhar uma discografia própria, para além de outros projetos paralelos, deveras interessante no que toca à exploração tanto da rica Música Tradicional Portuguesa e dos caminhos trilhados pela pesquisa resultante do trabalho de Giacometti, Fernando Lopes-Graça, BRIGADA VICTOR JARA, Julio Pereira, entre outros, como da própria música nascida na segunda metade do Séc. XX que tinha a urgência de nos tentar libertar das amarras obscuras e opressivas em que vivíamos e que se “banalizou” como canção de intervenção mas que eu prefiro chamar "Músicas de Abril". Já o ofício de cantautor continua atual, sendo que para além de José Mário Branco (JMB) foram ao longo da noite homenageados outros mestres da "cantiga como arma e das palavras como balas" como Correia de Oliveira (ACO) e José Afonso (JA). Para concluir a introdução, à qual recorri ao arquivo da Meloteca e Discorama de António José Ferreira, e não perdermos o fio à meada é de salutar importância destacar igualmente os recentes álbuns a solo de MC: “Contra: Contemporânea Tradição” (JACC Records, 2023), “Contra Cantos, Vol.1” (JACC Records, 2024) e avizinha-se já um novo volume desta epopeia performativa em voz e contrabaixo.
A voz doce e profunda de MC e os primeiras notas lançadas pelo seu contrabaixo fazem-se ouvir no nobre auditório do TMB juntando-se um ritmo quebrado do baterista Nuno Oliveira (NO), saudáveis devaneios da flauta transversal de Luísa Vieira (LV) em contraponto com a guitarra elétrica de Mauro Ribeiro (MR). Tanto o baterista como a flautista, que ao longo do concerto irá oferecer segundas vozes, são recentes adições, uma vez que substituem Ricardo Formoso, trompetista galego membro da Orquestra Jazz de Matosinhos e um habitué do círculo musical da Porta-Jazz, e Alexandre Coelho, baterista barcelense dono já de uma interessante discografia via Sintoma Records, Carimbo Porta-Jazz e Nischo. Se este último é digamos, uma “troca direta”, no 1º caso “mudam-se os timbres”, mas não se muda a qualidade dos intérpretes e da própria música debitada. Entretanto ao longo desta célebre música charneira de JMB, com letra adaptada de Luís Vaz de Camões, é muito interessante a forma como João Mortágua (JM) pontuava o refrão em contratempo com os restantes instrumentos, lançando-se de seguida para um primeiro solo bem repescado a fazer lembrar a sonoridade típica dos eternos álbuns de António Pinho Vargas composer, editados entre 1983-91 do século passado. Excelente arranjo de MC, Diretor Musical do projeto, a “esfrangalhar” o tema com mestria e sem desvirtuar a mensagem potente do mesmo. Espaço ainda na parte final para um belo solo de MR, numa guitarra atmosférica, notando apenas que a voz poderia subir alguns decibéis, corrigidos de pronto no 2º tema em que o cantor se fez ouvir na perfeição – apesar de estar visivelmente constipado. Nesse entretanto, referência à efeméride dos 5 anos da morte de JMB (já?!) nas primeiras palavras da música para uma plateia bem atenta, mas que deveria estar mais composta dado o nível dos músicos e respetiva interpretação desta nossa música intemporal e que precisa de ser propagada pelas novas gerações muito confusas que por aí andam.
Em “Maio Maduro Maio” brilhou NO em escovas numa subtileza rítmica a que se aliou a flauta transversal de forma elegante. Solos de guitarra, sax.alto e regresso ao tema com uma nuance final ao estilo de um carrossel – imaginem a canção do nosso Zeca em Paris em cima de um cavalo branco nuns campos elísios que poderiam ser um mote para que as pessoas que governam este mundo caótico e onde reina a desumanidade, amadurecessem para as causas que o “cantor andarilho” propagou a sete ventos, sempre com a liberdade, igualdade e fraternidade como bandeira máxima e inegociável. Continuamos no universo JA em “Tu Gitana” (música em castelhano de autor desconhecido retirada do Cancioneiro de Elvas do séc. XVI) numa melodia tão hipnotizante como harmoniosa captada na sua essência pela voz/interpretação de MC, a ser dobrada numa 2ª volta pela voz de LV, que rapidamente encarnou um motivo incrível soprado pela sua flauta “transversa”, como dizem os amigos do outro lado do Atlântico, abrindo espaço para um solo em crescendo de JM, do “alto” do seu saxofone. Das características centrais da música de MC que rapidamente nos assalta o ouvido é a sua "veia percutiva", pois para além de bem tocar no seu contrabaixo, não raras vezes, recorre com precisão e envolvência à sua madeira, fazendo dele também um instrumento de percussão. Essa espécie de multi-diálogo entre o músico e o seu instrumento, em fusão com a mensagem que o tema vai passando, é fulcral nos seus discos a solo destacados no preâmbulo desta crítica – uma espécie de “trademark” – sendo que em contexto deste “Ensemble’Inquieto” é mais regrada, até porque existe um baterista para a função, mas aqui e ali continua a dar um tempero especial à sua música. O tema tem o seu epílogo com MC e LV em altas deambulações melódicas.
Seguiram-se “As Balas” de ACO com letra de Manuel da Fonseca (por falar neste poeta procurem pf um destes a interpretação de “Domingo” por parte de Mário Viegas com música original de Luís Cília, outro decano que Abril nos presenteou, que aos dias de hoje conta com 81 anos sendo igualmente urgente redescobrir a sua fabulosa obra). O tema iniciou com uns delírios disparados pelos sopros, fazendo a cama para a entrada vocal e profunda de MC. Nos tempos correntes, com multi-conflitos e guerras várias pelos mundos deste mundo doente, esta letra e canção charneira da nossa resistência libertária e contra a opressão do Estado Novo nas antigas colónias, tem uma pertinência atual brutal e é um bálsamo para aqueles que acreditam na força da música e das palavras que lhe advêm para mudar o mundo e torná-lo num espaço mais justo e saudável. Contrabaixo pleno de feeling seguido de um longo “statement” de JM sobre como improvisar com estilo em sax.alto, arrancando os primeiros aplausos da plateia já bem embalada e estimulada pela música que o Ensemble ia brindando os presentes. Seguiu-se um singelo e inventivo s**t de LV a evocar a nossa grande Maria João, expoente máximo da improvisação vocal em Portugal e uma pioneira no jazz, um mundo sempre muito fechado a nichos masculinos e escolas de “elite”, num final do tema em “tutti”. Breves palavras de MC sobre a pertinência e atualidade do tema.
O concerto ia caminhando a passos deveras revolucionários para a 2ª parte regulamentar quando ainda antes da intemporal e sempre comovente “Canção com Lágrimas” de ACO com letra de Manuel Alegre, fiquei a saber pelas palavras de MC que Adriano, tal como o benfiquista e magriço José Torres, também era conhecido pelo “Bom Gigante”. Uma canção plena de sentimentalismo e mensageira de outros tempos bem difíceis e repletos de negritude. Um senhor, que eu não conhecia, sentado ao meu lado soltou-me o seguinte desabafo mesmo antes do tema começar: “Sabe, esta é para mim uma das músicas mais marcantes da minha vida”. Perante estas palavras senti um calafrio e absorvi o tema ainda com mais intensidade através de um curto mas belo solo da guitarra de MR e uma improvisação vocal de MC em diálogo mútuo com o seu cb, com recurso a subtis harmónicos sacados com mestria do topo do longo braço do seu instrumento de 4 cordas, num acastanhado bem polindo e envernizado enfim… vintage.
Ao 6º tema surge “Inquietação”, tema que dá nome ao Ensemble e que reflete o propósito de Calhaz e seus pares: semear o pensamento crítico através do canto destes nossos gigantes da música portuguesa prestigiando o seu enorme legado. MR dá o mote na guitarra, juntando-se rapidamente a bateria de NO e o sax. de JM. De repente fechei os olhos e fiz uma viagem ao passado: seria José Nogueira no saxofone e os irmãos Pedro Barreiros e Mario Barreiros na secção rítmica? De repente surge um solo de LV na sua flauta mágica e volto ao momento presente... com Mortágua, um dos mais brilhantes intérpretes de sax. alto da sua geração (compositor igualmente profícuo, desafiador e inventivo, ver o projeto AXES, nomeadamente o seu álbum de estreia homónimo, lançado em 2017 via Carimbo Porta-Jazz e que foi alvo de crítica nesta plataforma) possui uma bagagem lírica e uma limpidez tímbrica que assentam que nem uma luva na reinterpretação jazzística do cancioneiro abrileiro. Final caótico num acelerando uptempo até à pausa final. Tema seguinte sem direito a pausa em formato declamado, onde MC assume o também o papel de, como diria o já citado Mário Viegas, “dizedor” de poesia, enquanto os restantes músicos do I’E iam recorrendo ao experimentalismo. A meio deste poema brutal de Natália Correia, “Queixa das Almas Jovens Censuradas, genialmente adaptado a música por JMB na obra/compêndio “Ser Solidário” (Edisom, 1982), MC começa a cantar e a versão vai ganhando asas. A mensagem é dilacerante…sobre aqueles negros tempos, versos que vão ao osso da desumanidade vivida naqueles tempos em nome de algo ou de alguém fora de si.
Regresso ao brilhante reportório musical de ACO, com outra marca da época que para a minha geração (80’s) começa a ser também um porto de abrigo: “Cantar de Imigração”, presenteada com um arranjo mais arriscado, fruto dos acordes quebrados da guitarra de MR e do leve “breakbeat” recriado por NO na bateria. Belo solo com reverb e delay q.b. de MR que passou a bola “por alto” a JM, por sua vez assistindo NO para este apontar um solo bem dinâmico entre peles e pratos diversos, finalizando com estilo antes do regresso final ao tema. O concerto revelou o seu equinócio sonoro com o tema “O que faz falta” de José Afonso, de forma a mudar o paradigma mais triste e melancólico dos temas anteriores e podermos regressar a casa com um sentimento mais alegre/vivo pois este transmite uma alegria contagiante, seja em versão jazz, pop-rock, erudita, eletrónica ou outro estilo qualquer. Na entrada da melodia principal há uma desaceleração, mas mal esta finda, regressa o "circo", respetiva dança dos instrumentos do quinteto e não sei porquê veio-me à memória não uma “frase batida” mas sim os Sitiados do saudosíssimo João Aguardela, também ele um visionário noutra época posterior já em liberdade mas com alguns comportamentos e mentalidades presas àquele passado que aqui foi exorcizado. Este “Cantar…” vai evoluindo e MC br**ca com a toada melódica do tema, improvisação a rodos e a canção cada vez mais espaçada e prolongada no tema. Destaque final para o Pjbproductions, promotora deste concerto em parceria com o TMB, por nos ter disponibilizado uma folha de sala sempre muito bem vinda, com a respetiva sinopse, alinhamento e ficha artística, sendo que a foto que uso neste post/crítica é pertencente à PjB (retirada da sua página de facebook). Uma palavra de especial carinho para o Paulo Boaventura por ter articulado o contacto com o Miguel Calhaz e restantes músicos que se revelaram extremamente afáveis, pacientes e generosos num curto mas salutar convívio no final do espetáculo.
Um belo concerto num Novembro (sim em maiúscula, como antigamente, como se querem os meses frios do Nordeste Transmontano) ainda sem neve mas com uma aragem pré-invernal vinda da SANABRIA e que assim aqueceu e de que maneira o espírito dos presentes. Faça frio ou faça sol, em Bragança ou em Faro, passando pela sua semente na Universidade de Coimbra berço desta epopeia, Abril Sempre!

Francisco M. Sousa
(Os putos do jazz)

Ficha Técnica:
Miguel Calhaz – Voz, Contrabaixo e Composição
Luísa Vieira – Flauta Transversal e Voz
João Mortágua – Sax. Alto
Mauro Ribeiro – Guitarra Elétrica
Nuno Oliveira - Bateria

📸Pjbproductions

Quarta, 20 de Novembro 2024 – 21h
Teatro Municipal de Bragança
(Ciclo Jazz à 4ª)

“Eles disseram: cheguem-se aqui…E nós chegamos, ouvimos e gostamos!”No passado sábado, 16 Nov., desceu o pano 33ª Edição...
20/11/2024

“Eles disseram: cheguem-se aqui…
E nós chegamos, ouvimos e gostamos!”

No passado sábado, 16 Nov., desceu o pano 33ª Edição do Guimarães Jazz no Centro Cultural Vila Flor, festival já mítico no panorama musical português, que durante duas semanas coloca a cidade minhota como berço também do jazz e seus derivados. Este ano não foi exceção e cada vez mais podemos falar num case study de como uma cidade que não corresponde ao binómio "comilão" das duas grandes metrópoles Lisboa-Porto, foi desenvolvendo, articulando e maturando um universo que não tem paralelo em Portugal. Desde os programas/cartazes sempre apelativos agradando tanto às gerações mais velhas e conservadoras como piscando o olho aos ouvintes mais recentes e abertos a novas sonoridades, passando pela componente educativa de integração de jovens estudantes através de projetos e colaborações múltiplas entre Escolas, Instituições, Associações e claro, músicos proeminentes especialmente convidados para o efeito e, não menos importante, sempre muito bem enquadrado ao nível informativo/cultural – repare-se na qualidade dos cadernos que são anualmente fornecidos, onde para além do habitual detalhe descritivo dos músicos e respetivos projetos, o próprio jazz é alvo até de uma resenha filosófica, uma espécie de programação jazzística de autor, no caso Ivo Martins, programador artístico do festival numa comissão organizador que envolve uma tripla parceria: A Oficina, Município de Guimarães e Convívio Associação Cultural. Destaque final para o próprio merchandising e respetivo design sempre com uma marca de água muito própria no que toca às formas, cores e caracteres utilizados.
Tive o privilégio de assistir ao concerto de abertura Ambrose Akinmusire “Honey from a Winter Stone”, uma visão de um jazz sem-fronteiras de abas largas para o domínio multidisciplinar – poético e performativo com uma visão contracultura adjacente virada para linguagens do underground americano. Voltei a picar o ponto no último dia do Festival, presenciando os 3 concertos finais e sendo que esta página/plataforma incide as suas críticas (seja concertos ou discos) no jazz português esta recairá precisamente sobre o Luís Vicente Trio feat. Camila Nebbia, apesar de tanto o Quinteto de Tommaso Perazzo como, especialmente o Projeto Orquestra de Guimarães com Dzijan Emin Octeto terem proporcionado belos concertos. Durante o festival tive pena de não ter marcado presença no quarteto/colaboração especial de Sara Serpa & André Matos, Craig Taborn e Jeff Ballard bem como Daniel Bernardes & Drumming GP.
O título deste artigo remete-nos para o álbum de Luís Vicente Trio “Come Down Here” editado pela Clean Feed em Junho deste ano e que certamente irá figurar nas listas de lançamentos do ano, uma vez que apresenta uma qualidade deveras assinalável. Luís Vicente (LV) é um dos grandes improvisadores portugueses da nossa época, com um rasgo criativo ímpar e uma composição/interpretação fora dos cânones habituais focando-se na área do jazz improvisado, revelando um extenso e profícuo trabalho e múltiplas colaborações dentro e fora de portas.
Acompanhado por Gonçalo Almeida (GA) no contrabaixo e Pedro Melo Alves (PMA) na bateria e percussão, “Come Down Here” é descendente direto de “Chanting in the Name Of” (Clean Feed, 2021), estreia arrebatadora do Trio, sendo que este novo registo consegue ainda elevar mais o patamar da sua música para níveis de impressionante criatividade, urgência e livre expressão. Acresce a isto tudo a participação especial para este concerto de uma jovem saxofonista em grande ascensão, a argentina Camila Nebbia (CN), também ela dinamizadora da arte do improviso com diversas colaborações, como por exemplo o contrabaixista Michael Formanek.
O concerto iniciou com “Penumbra” última faixa de “Come Down Here”; GA abriu as hostes através de um som luminoso debitado pelo seu outonal contrabaixo, Luís Vicente recorre a uma kalimba enquanto CN ia respirando/soprando lentamente através do seu tenor bem vintage. PMA iniciou com escovas e o quarteto começa a sair dos “escombros”. Um caos silencioso. Ainda com a poeira sonoro-experimental por assentar LV resgatou o seu trompete, bem como a respetiva surdina, expondo o tema em uníssono com CN e com a secção rítmica já bem sincronizada. O toque de caixa é dado por PMA - parte integrante dos projetos The Rite of Trio e Omniae Ensemble - através de um brake mais incisivo, seguido de um tempo lento quase evocando uma marcha fúnebre evolvendo um delicado diálogo entre sopros...que culminou num curto, mas belo solo de tenor. Aqui LV faz uso de 2 sinos que acompanham um crescendo de PMA, onde a toada fúnebre inicial vai-se transformando num ambiente imperial/caótico. Grande entrada de Nebbia que passa a bola a Vicente e a montanha rítmica dá lugar ao abstracto para que a música no seu todo possa respirar de forma mais pacífica. Os sopros transformam-se em pássaros metalizados aprisionados numa espiral de experimentalismo e criatividade. O som de CN contrasta com o Trio na perfeição pois revela uma limpidez e uma veia lírica assinaláveis. Regresso ao tema inicial agora num formato mais introspetivo e tudo isto ao longo de um tempo com mais de 10 minutos.
O 2º tema, “Hope To”, inicia com os sopros em uníssono e preciosos detalhes tímbricos presentes na bateria de PMA, recorrendo a objetos metalizados para um efeito sonoro quase cortante/assustador e até mesmo fantasmagórico quando GA recorre ao arco do seu contrabaixo para deambular linhas bastante expressivas. Mais tarde CN dá um "boost" ao tema impulsionando-o e juntando-se à secção rítmica com classe e uma presença super envolvente. A parte final do tema vai-se desfragmentando e este termina num vazio resgatado pelo tema de abertura. A passagem para “Mandei Caiar o Meu Sobrado” tema bastante irónico e provocador, é feita sem pausas nem silêncios pois o cb de Almeida transforma-se numa espécie de capoeira em formato ultra grave, potenciado por um apito de 2 sons soprado por LV (qual pássaro exótico) e onde a percussão vai empurrando o tema ao de leve. Ao mesmo tempo que apita Vicente manipula um kabulete pairando no ar um efeito hipnótico e repetitivo. O "groove" de Melo Alves, também ele um criativo ímpar na arte de percutir, é simplesmente incrível – uma autêntica locomotiva que anda em vários carris rítmicos ao mesmo tempo, apresentando texturas tímbricas de extrema complexidade. Um tratado de saber escutar e envolver-se com os restantes músicos, como demonstra a interligação com o solo de LV nos píncaros do tema, seguido de um autêntico fogo cuspido pelo tenor de Nebbia evocando mestres como Peter Brötzmann ou Mats-olof Gustafsson. Por esta altura o concerto vai ultrapassando o seu meridiano temporal quando GA, músico sediado nos Países Baixos parte integrante de projetos super dinâmicos como Lama Trio e The Selva, arranca um solo muito bem gizado do alto do seu contrabaixo com uma imponente escultura africana e animalesca no seu topo. E já que estamos em período de pormenores, destaque igualmente para um pedaço de esferovite em cima do suporte do prato de choques de PMA.
À entrada do tema título do álbum – “Come Down Here” – surgem as primeiras palavres de Vicente, apresentando os músicos e anunciando os temas tocados até então. Este tema é também aquele que abre o disco- uma autêntica pedrada de adrenalina “coltraniana” numa emergência sonora inerte à obra cada vez mais vasta e aglutinadora do trompetista, compositor e acima de tudo, brilhante improvisador. A escrita de LV é urgente, repentista e furiosa, sendo que o seu universo “incendiário” só encontra paralelo no nosso retângulo à beira-mar plantado em Rodrigo Amado, outro sopro, no caso saxofone, que há muito saltou as fronteiras tanto musicais no que toca ao jazz mais clássico/convencional como reais em termos geográficos, ambos músicos com estatuto europeu e até mesmo transatlântico. Regresso ao tema e uma grande ovação de pé de um Pequeno Auditório que infelizmente não estava cheio, mas notava-se um espírito de empolgamento na plateia que estava presente e um ambiente mais quente/frenético do que em muitos concertos lotados. O quarteto estava visivelmente satisfeito e regressou para um desejado encore, apesar das restrições de tempo, uma vez que o 2º concerto do certame iria começar brevemente, não sem antes uma longa despedida solene de 3 minutos para a consagração final.
Termino este artigo com uma saudação muito especial à Sonoscopia Associacão, coletivo portuense sempre na vanguarda do experimentalismo sonoro e responsável pela curadoria deste concerto, por ter acertado na "mouche" com a escolha deste Trio + 1 e desejando igualmente longa vida ao melhor e mais completo festival jazz realizado no nosso país.
Venha a 34ªEdição em 2025!

Francisco M. Sousa
(Os putos do jazz)

Ficha Técnica:
Luís Vicente – Trompete e composição
Gonçalo Almeida – Contrabaixo
Pedro Melo Alves – Bateria
feat. Camila Nebbia – Saxofone Tenor

Sábado, 16 de Novembro 2024 – 16h
Pequeno Auditório
(Centro Cultural Vila Flor, Guimarães)

Roy Haynes, uma lenda da 🥁 partiu com 99 anos! 🙏🎶🎶🎶☄️Com recurso ao ChatGPT partilhamos aqui 5 citações que achamos bem ...
14/11/2024

Roy Haynes, uma lenda da 🥁 partiu com 99 anos! 🙏🎶🎶🎶☄️
Com recurso ao ChatGPT partilhamos aqui 5 citações que achamos bem interessantes deste Músico, Improvisador e Pedagogo da arte do contra-tempo:

"Roy Haynes é um dos bateristas mais influentes no jazz, com uma carreira que abrange mais de sete décadas. Ele tocou com músicos lendários como Charlie Parker, John Coltrane, Miles Davis e muitos outros. Abaixo, compartilho algumas citações que refletem sua visão sobre a música e a bateria:

Sobre a IMPROVISAÇÃO:
“A música é sempre sobre o momento. Eu tento ser espontâneo, fazer o que o momento pede. Às vezes, é uma coisa calma, às vezes é algo mais energético, mas a improvisação está sempre no centro do que eu faço.”

Sobre a BATERIA:
“A bateria não é só sobre fazer barulho. O segredo está em ouvir, sentir e depois reagir. Eu tento sempre trazer algo novo, mas sem esquecer os fundamentos.”

Sobre a INFLUÊNCIA de outros músicos:
“Eu aprendi muito com os grandes, mas o mais importante é saber o que você pode adicionar à conversa musical. O segredo é manter sua identidade enquanto respeita as tradições.”

Sobre seu ESTILO único:
“Eu sempre procurei fazer algo um pouco diferente, mas a coisa mais importante é ser você mesmo. Quando estou tocando, minha bateria tem a minha assinatura. Acontece naturalmente. Não é algo forçado.”

Sobre o TEMPO e o GROOVE:
“O tempo é o mestre. Se você tem tempo, tem tudo. E, claro, o groove é algo que você não pode ensinar – tem que sentir.”

Essas citações ajudam a ilustrar a abordagem única e inovadora de Roy Haynes à música, sempre equilibrando respeito pela tradição com uma busca constante por novas formas de expressão."

Morreu Roy Haynes, um dos grandes bateristas da história do jazz. Tinha 99 anos de idade.

🎧Quincy Jones🎺 (1933-2024)https://www.youtube.com/watch?v=kjE-lIx5xFwLionel Hampton and his Orchestra swings "Slide, Ham...
05/11/2024

🎧Quincy Jones🎺 (1933-2024)

https://www.youtube.com/watch?v=kjE-lIx5xFw

Lionel Hampton and his Orchestra swings "Slide, Hamp, Slide" in 1951.
(Quincy Jones plays trumpet at 1:01)

Lionel Hampton and his Orchestra - Slide, Hamp, Slide (1951). Quincy Jones plays trumpet at 1:01.

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