19/06/2024
Recebi hoje no "Germano Campos Entrevista", a fadista Célia Leiria, que tem no mercado um novo álbum, estreado 11 anos depois do primeiro.
"Mulher Amor" foi o pretexto para um conversa fantástica, onde se falaram das novas vozes do fado, do que dizem portugueses e estrangeiros desta arte, mas também das oportunidades que faltam e do que é preciso fazer para cativar os mais novos.
Uma conversa para ver e ouvir muito brevemente.
Fonte: Lusa:
A fadista Célia Leiria estreia-se como compositora no seu novo álbum, “Mulher Amor”, assinando com Pedro Amendoeira uma das dez composições do alinhamento.
O álbum foi editado a 8 de março, Dia Internacional da Mulher, uma escolha da fadista que, em declarações à agência Lusa, afirmou que “a mulher, infelizmente, ainda tem muito que batalhar para alcançar algo, nunca são partes iguais ao nível de homem/mulher”.
“É sempre com muito trabalho e esforço, que a mulher consegue chegar a algum lado”, afirmou.
Célia Leiria recuperou do repertório de Teresa Tarouca (1942-2019) o tema que dá título ao álbum, “Mulher Amor” (Lima Brummon/António Chainho).
A escolha deste título “foi pelo significado em si, do amor de uma mulher, seja qual for, um amor não correspondido, um amor proibido, um amor à cidade de Lisboa. O amor da mulher é sempre muito especial”, argumentou.
“Sempre gostei de cantar o amor, e este tema acompanha-me há muitos anos”, acrescentou.
O novo álbum sucede a “Caminhos”, editado há 11 anos. Para a fadista, há que editar “na altura própria e não editar por editar”, mas sim quando se sente preparado e “amadurecido” o conceito do disco.
“Faz sentido deixar as coisas que eu quero gravar e as coisas feitas à minha maneira, de uma forma madura e que fazem sentido a mim”, acrescentou à Lusa.
“Foi um longo tempo de um disco para o outro, para chegar a este resultado, mas no espaço de um disco para o outro houve um amadurecimento em mim, enquanto pessoa, enquanto mulher, entretanto fui mãe, e há um crescimento e um amadurecimento entre um disco e outro que a mim faz todo o sentido”, disse a fadista.
Referindo-se à recuperação deste tema e de outros que fazem parte do alinhamento do disco, criados por nomes como Maria da Fé, Fernanda Maria ou Anita Guerreiro, Célia Leiria afirmou: “Temos coisas tão bonitas no nosso legado fadista que não é só apresentar coisas novas, mas também trazer ao presente temas muito bonitos que ficaram lá atrás, mas continuam muito atuais”.
De Maria da Fé, Célia Leiria gravou “Vem de Longe o Teu Sorriso” (José Luís Gordo/Mário Raínho/Carlos Alberto Moniz/Braga Santos) e “Meu Amor, Meu Sangue Novo”, do mesmo quarteto de autores, de Fernanda Maria “F**a Sabendo” (Frederico de Brito/Martinho d’Assunção), e de Anita Guerreiro “Calçadinha à Portuguesa” (César de Oliveira/João Nobre).
“A Anita faz parte do meu caminho, trabalhei muito tempo com ela numa casa de fados, O Faia, porque gosto da cidade de Lisboa, não sendo eu da capital, mas é ela que me acolhe no meu trabalho e no meu dia-a-dia e gosto muito da calçada portuguesa, que é muito bonita e nem sempre nos apercebemos”, explicou.
Referindo-se ao legado fadista, acrescentou: “Se cá estamos hoje, a eles o devemos, como costumo dizer, nunca esqueço de quem me carregou às costas”.
Além de Marta Rosa, Célia Leiria desafiou outro fadista, Gonçalo Salgueiro, “a escrever um poema” para a sua filha, Maria Ana, que também participa no álbum.
“O nascimento da minha filha foi uma das coisas que me amadureceu. Eu quis que ele escrevesse um poema, mas sem dizer ‘minha rica filha’, porque sei que o Gonçalo tinha uma relação muito bonita com a mãe dele e tem um coração enorme, e desafiei-o, ele ficou um bocado nervoso, mas apresentou-me ‘Maria, Flor de Jade’ que inicialmente era para um fado tradicional, mas depois, com o passar do tempo, com a pandemia, fez-me todo o sentido ser eu enquanto mãe e o Pedro [Amendoeira], que é o pai da criança fazermos a música”, disse.
A fadista qualificou o tema como "familiar", pois foi feito para a sua filha com música composta por si, o que é uma estreia, e pelo pai, Pedro Amendoeira, tendo sido criada uma frase musical para permitir a participação da filha no clarinete.
Além da participação simbólica de Maria Ana, no clarinete, neste álbum, surgem outros instrumentos como o contrabaixo (Varlos Menezes), e outro menos habitual na prática fadista, o acordeão, pelo músico brasileiro Luciano Maia.
À Lusa, a fadista disse que a opção pelo acordeão não foi a procurar de novas sonoridades, “pois já muito gente usou o acordeão no fado”, e surgiu de um acaso.
“O Luciano Maia é um gaiteiro brasileiro aterrou em Lisboa na pandemia da covid-19” e participa no tema “Não Digas que Sou Tua”, que experimentaram com guitarra portuguesa e viola. “Achámos que podíamos fazer uma coisa diferente, e achámos que ficava bonito, e é um tema diferente e tem muito de fado tanto da parte do acordeão como do contrabaixo”, contou.
Neste álbum Célia Leiria é ainda acompanhada pelos músicos Pedro Amendoeira, na guitarra portuguesa, João Filipe, na viola, e Carlos Menezes, na viola baixo e contrabaixo.
O álbum conta com outros temas, de autoria de fadistas, como “Jogo” (Teresinha Landeiro, Fado Edmundo, de João Filipe), e “Eu sei que o Amor és Tu” (Elsa Laboreiro/Fado Rigoroso, de José Marques ‘Piscalarete’).