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SAGAZ -  Arte & Cultura Arte & Cultura, essa é a vibe da nova revista SAGAZ que a Talu Cultural está lançando.

28/02/2024
09/04/2022

“No Brasil atual mais brasileiros são assassinados do que os judeus mortos de Babi-Yar. Parafraseando Yevtushcenko, cada bala que atingiu Marielle atingiu-me, sinto-me como cada pobre brasileiro que perdeu uma defensora, como cada mulher brasileira que perdeu sua líder, como cada membro de qualquer minoria desprivilegiada de nosso país que perdeu uma de suas melhores representantes. Os sons dos tiros não param de ecoar. Seu sangue não seca, seu corpo não esfria. Os selvagens fascistas continuam a se esgueirar nas ruas, nas redes sociais, nas mídias.
Babi-Yar é aqui. Os judeus de lá são os esquecidos daqui. Os antissemitas de lá são os fascistas daqui. Estamos em um país violento, e as pessoas violentas exibem desavergonhadamente e futilmente o seu mais puro ódio. A história está aqui, ao vivo. A diferença é que o abandono não se dá por um ato de ofício como o de Stálin. Ele se dá pelo abandono crônico, pela inércia, pela insensibilidade, pela violência do capital ultraliberal e pelo incenso das grandes mídias."
(Trecho da crônica Shostakovich, Yevtuschenko, Marielle e eu)

09/04/2022

“LA JUDÍA DE TOLEDO”: UMA MULHER, MÚLTIPLOS PERSONAGENS
Por Elias Salgado*

RESUMO
Através do personagem ficcional e histórico(?) de Raquel, é possível refletir sobre o imaginário coletivo espanhol relativo à imagem dos judeus em Espanha.
Seguindo a trilha apontada por Lion Feuchtwanger, autor do livro La judia de Toledo, nossa análise será baseada, principalmente, em estudo de algumas peças teatrais espanholas escritas e encenadas no período que vai do século XVI ao XIX.
As grandes questões aqui levantadas são:
* Por que o personagem da Judia de Toledo (que no século XIII é chamada de “La Fermosa” pelas crônicas reais e, a partir do século XVI, será conhecida como Raquel), atravessa tantos séculos e dezenas de autores escrevem peças sobre tal figura?
* “La Fermosa” foi uma lenda ou um ser histórico?
* No romance de Feuchtwangter, há “um jogo” narrativo no qual o autor nos apresenta os personagens principais (Afonso VIII, Yehudá Ibn Ezra, Raquel e a nobreza cristã) baseando-se (numa referência) nos/aos personagens do Livro de Esther – Ahashverus, Mardoqueu, Esther e Aman.
O livro La Judía de Toledo é um clássico romance de cavalaria, gênero que, acredito, melhor nos permite vivenciar alguns aspectos fundamentais do universo medieval.
Escrito pelo autor judeu alemão Lion Feuchtwanger, foi editado pela primeira vez em 1954, em alemão, com o título Dien Judin Von Toledo. A primeira edição em espanhol é de 1992 (Edaf, Madrid). Usamos para leitura e elaboração do presente trabalho, a 16ª edição da publicação espanhola.

Os personagens centrais da trama são: a judia Raquel (“La Fermosa!); seu pai, o rico comerciante judeu Don Yehudá Ibn Ezra e o Rei de Espanha, Afonso VIII. A narrativa se dá no século XI.

UM POUCO DE HISTÓRIA DO PERÍODO:
No ano de 711 da Era Comum, os muçulmanos almorávidas, vindos do Norte da África, cruzaram o estreito de Gibraltar e invadiram a Espanha, vencendo os visigodos cristãos. Uma parte destes fugiu e se refugiou no norte do país.
Os mouros trouxeram com eles uma cultura altamente sofisticada. Córdoba, a capital do Califado, tornou-se a cidade mais importante do mundo muçulmano ocidental à época.
Fundaram 3 mil escolas, uma universidade e inúmeras bibliotecas. Aos judeus que ali viviam e que antes sofriam restrições dos cristãos, foi concedida igualdade de cidadania.
Quatro séculos depois, os visigodos avançam rumo ao sul na tentativa de expulsar os muçulmanos, dando início ao que a História chama de Reconquista, período que se estenderá do século XI ao XV.
No século XII, os amoadas, oriundos do Marrocos e comandados pelo Califa Yussuf, derrotam os almorávidas e estabelecem, como capital do Califado, a cidade de Sevilha.
Os judeus são obrigados a se converter ou abandonar o califado. Muitos se foram para Portugal e para Castela e Aragão, onde a princípio são bem aceitos, dada sua importância na reconstrução dos reinos destroçados pela guerra. Outros permaneceram e se converteram por vontade própria, para manter seu patrimônio. Estes ficaram conhecidos como os mesumad. Este é o caso de Ibrahim de Sevilha (Yehudá Ibn Ezra), o pai de Raquel, personagem que dá nome ao livro.

O LIVRO E SUA TRAMA:
Um grande romance. Trabalho de enorme documentação e grande cuidado na elaboração. Narra as paixões humanas de um rei, de um homem. As contradições de um amor passional, as convicções religiosas e a política. Muçulmanos, judeus e cristãos coexistem em Toledo no período anterior e posterior ao desastre da batalha de Alarcos, em 1195.

O livro de Lion Feuchtwanger, é uma apaixonada história de amor e violência e que, através de séculos vem ocupando a imaginação dos espanhóis. Ele narra a paixão que o rei Afonso VIII de Castela, sentiu pela judia Raquel, fato que registram as crônicas de seu bisneto, o rei Afonso X, o Sábio.
O romance entre Raquel e Afonso será causa de grandes intrigas da nobreza e do clero cristão castelhano, que não concordavam com ele, por ela ser judia.
Raquel e Afonso tiveram um filho, Emanuel, que o rei fazia questão de converter. E temendo alguma consequência trágica com o bebê, Yehuda, o avô, tirou-o de Toledo, mandando-o para um lugar que ninguém sabia, nem mesmo Raquel, para que estivesse a salvo.
O destino da história é bastante trágico: Raquel e seu pai, Yehuda Ibn Ezra, são assassinados pelos nobres, que aproveitaram a ausência de Afonso, quando este estava na batalha de Alarcos, em 1195, contra os muçulmanos, na qual foi derrotado.

RAQUEL: UMA LENDA OU UM SER HISTÓRICO?

Os historiadores e estudiosos que se debruçaram sobre o tema da paixão de Afonso VIII pela judia Raquel estão divididos em dois grupos:
O daqueles que a veem como uma lenda criada para justificar a derrota do rei na batalha de Alarcos, em 1195. Estes apontam, como primeiro testemunho da dramática história, um trecho que aparece em Los castigos e documentos para bien vivir, de Sancho IV, o Bravo (1284-1295), no qual adverte seu filho de que deve evitar os “pecados de fornicio”, para que não lhe ocorra o que aconteceu ao rei Afonso VIII.
O segundo grupo acredita ser Raquel um personagem histórico e não uma lenda, baseando-se no único rastro histórico deste apaixonante conto de amor, que está nas Crónicas Reales de Afonso X, o Sábio, bisneto de Afonso VIII, que reinou um século depois que ocorreram os fatos. Ele conta que seu bisavò:
“pagóse mucho de una judía que auie nombre Fermosa, e olvidó la muger, e ençerróse con ella gran tiempo en guisa que non se podié partir d’lla por ninguna manera, nin se pagaua tanto de cosa ninguna: e estouo ençerrado con ella poco menos de siete años… Entonçe ouieron su acuerdo los omes buenos d’l reino cómo pusiesen algún recado en aquel fecho tan malo e tan desaguisado… e con este acuerdo fuéronse para allá: e entraron al rey diziendo que queríen fabrar con él: e mientras los unos fabraron con el rey, entraron los otros donde estaua aquella judía en muy nobres estrados, e d’golláronla”.

RAQUEL E O JUDEU NO TEATRO ESPANHOL DO SÉCULO XVI AO XX
O judeu está presente no teatro espanhol no período que vai do século XII ao XIX.
O personagem Raquel, em particular, é tema de dezenas de textos teatrais, entre os séculos XVI e XIX, os quais ainda são encenados até os dias atuais.
Já os textos nos quais Leon Feuchtwanger se baseou para escrever seu romance, têm como autores:

-Drama, Las paces de los reyes y la judia de Toledo - Félix Lope de Vega y Carpio – século XVII – 1617
- Raquel - Vicente Antonio Garcia de la Huerta – Sec. XVIII - 1778
- Die Jüdien von Toledo - Franz Seraphicis Grillparzer – Sec. XIX - 1851
História ou lenda, o tema tem sido abordado pela ótica antissemita do Século de Ouro, a xenófoba do século XVIII contra os ilustrados Bourbons e também pela mediavelística do pós-romantismo alemão, com poemas, obras teatrais e novelas como Las Paces de los Reyes y Judía de Toledo, de Lope de Vega (1617).
Em meados do século XX, Lion Feuchtwanger, como já dito, talvez eleve o tema a uma obra mestre com sua documentadíssima Spanische ballade ou Die Jüdin von Toledo (1955), na qual tece o relato a partir do ponto de vista judaico.
Quanto à resposta ao intrigante fato de o personagem Raquel ter atravessado tantos séculos, uma das hipóteses mais aceitas pelos estudiosos do período seria que a atmosfera antissemita gerada pela proteção que Olivares dispensava aos judeus (Auto de Fé de 4 de julho de 1632) e a execração contra os judeus em 20 de julho de 1233, etc.) pode ter levado tais autores a escrever sobre Raquel com uma visão tão negativa.

A RAQUEL DE LION FEUCHTWANGER
A Raquel de Lion Feuchtwamger não é outra se não a Esther bíblica. E não somos nós quem afirmamos isto.
O autor do romance La judia de Toledo, escreveu no seu Epílogo, em 1955, como sentiu, por décadas, atração pela rainha Esther (Hadassa), elevada à posição de rainha pelo rei persa Ahashveros. Como esposa do rei, ela salvou seu povo, os judeus, do extermínio. Ele considera o ”Livro de Esther” um dos mais populares e cheios de efeitos, da Bíblia Hebraica. E que o livro o comoveu profundamente e a muitos, nos mais de 2 mil anos transcorridos desde sua escrita. E finaliza o Epílogo, afirmando:
“ Eu disse a mim mesmo: aquele que conte de novo a história dessas pessoas, não só estará escrevendo História, se não, que esclarecerá e dará sentido a alguns problemas de nosso tempo.”

*Historiador, escritor e editor. Pós graduado em História pela Universidade Hebraica de Jerusalém (HUJI). Fundador e Diretor do Portal e do Arquivo Histórico Amazônia Judaica – www.amazoniajudaica.com.br - Email: [email protected]

Em seu último número a Revista Sagaz Arte & Cultura,em sua capa, levantava a seguinte questão: Se 2020 deveria ser ou nã...
06/07/2021

Em seu último número a Revista Sagaz Arte & Cultura,em sua capa, levantava a seguinte questão: Se 2020 deveria ser ou não esquecido?
Como esquecer um ano que ainda não acabou?
Portanto, a leitura de Sagaz se torna obrigatória.

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20/03/2021

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