14/09/2024
𝐎𝐒 𝐊𝐇𝐎𝐈𝐒𝐀𝐍:𝐆𝐔𝐀𝐑𝐃𝐈𝐎̃𝐄𝐒 𝐃𝐀 𝐇𝐈𝐒𝐓𝐎́𝐑𝐈𝐀 𝐄 𝐂𝐔𝐋𝐓𝐔𝐑𝐀 𝐀𝐍𝐂𝐄𝐒𝐓𝐑𝐀𝐋 (𝐵𝑟𝑒𝑣𝑒 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑚𝑜)
𝐎𝐛𝐬𝐞𝐫𝐯𝐚𝐜̧𝐚̃𝐨:
Este artigo oferece apenas um breve resumo sobre alguns dos aspectos mais interessantes dos povos Khoisan, destacando suas origens, cultura, e crenças. Para aqueles que desejam aprofundar seu conhecimento sobre a rica história e a vasta herança cultural dos Khoisan, recomendamos a consulta de fontes acadêmicas especializadas que abordam o tema com maior profundidade.
Explorar essas fontes permitirá uma compreensão mais abrangente e detalhada das complexidades e contribuições dos Khoisan para a história da África Austral e da humanidade. Encontre no final deste artigo algumas fontes bibliográficas que nos serviram de suporte.
𝐎𝐒 𝐊𝐇𝐎𝐈𝐒𝐀𝐍 𝐔𝐌 𝐏𝐎𝐕𝐎 𝐀𝐍𝐓𝐈𝐆𝐎 𝐍𝐀 𝐓𝐄𝐑𝐑𝐀
!Kung e Kwadi são alguns etnónimo constituem variedades do grossónimo Khoisan. Terminologia pelo qual são geralmente conhecidos cientificamente. Esta palavra “Khoisan”, resulta de uma combinação de duas palavras khoi- khoin e san. Estas duas palavras indicam duas principais variedades desta grande família etnolinguística (Khoisan). O termo Khoisan, é uma combinação de duas palavras khoi‑khoi: khoi, que significa “homem” e san, cuja raiz sa significa “acumular, colher frutos, arrancar raízes da terra, capturar pequenos animais.
Trata‑se, portanto, da qualificação de um grupo humano em função de seu género de vida e modo de produção.
Antropologicamente os Khoisan são compostos por dois grupos: pelos Khoi-khoi, (Khoi) é uma palavra da língua Khoikhoigowab, que significa pessoa. Com uma população estimada em 200.000 falantes, em África, distribuídos em diversas variedades de povos com culturas aparentadas, entre eles temos a Kwadi ou Ovakedi.
Estes povos, são considerados os habitantes mais antigos da Terra. Os “bushmen” (do afrikaans, buschjersman, “homens do mato”), em português traduzido para “bosquímanos”, foi o nome pejorativo dado a este povo, pelos primeiros fazendeiros europeus (Holandeses-Boers) a chegarem à região que os viam como uma tribo de selvagens. Este povo, denominam-se a si mesmos de “𝐎 𝐏𝐨𝐯𝐨” e com razão, pois são a civilização mais antiga conhecida no Mundo, havendo registos arqueológicos da sua existência que remontam a 200.000 anos atrás o que faz deles os ancestrais de toda a humanidade. Uma das contribuições mais notáveis dos Khoisan para a arte africana, é a sua arte rupestre. Há milhares de anos que eles utilizavam as paredes das cavernas para criar pinturas vibrantes, retratando cenas de caça, animais e rituais.
No entanto, são pejorativamente conhecidos por diversos nomes: Bosquímanos, Hontetontes, Mussequeles, Ovakede, Ova-Kwangala, Mukuassekele, Camussequele, Tuzala-Majimo, Ova-Kwankala, Cacuengos, Vakwengo, Ovassekele, Kazama. Os !Kunge os Kwadi do Oshilomolo (no Cunene) chamam aos Ovakwanyama de !kai, significa negro e !nany a todos povos negro Angolanos que não sejam Ovakwanyama
𝐎𝐑𝐈𝐆𝐄𝐍𝐒 𝐇𝐈𝐒𝐓𝐎́𝐑𝐈𝐂𝐀𝐒
Os KhoiKhoisan são descendentes dos primeiros caçadores-coletores da Idade da Pedra, que habitaram a África Austral. Eles se estabeleceram em regiões que hoje correspondem a Botswana, Namíbia, Angola, Zâmbia, Zimbábue, Lesoto e África do Sul. A arqueologia revela que os Khoisan viveram em harmonia com a natureza, utilizando ferramentas de pedra e abrigando-se em cavernas e sob rochas.
Os Khoisan são um dos catorze povos ainda existentes da chamada “população ancestral”, a partir da qual todos os seres humanos modernos conhecidos descendem. Oriundos de uma sociedade de partilha, onde a competição e a inveja não têm lugar, os Khoisan vivem em pequenos grupos familiares e não têm um líder. Segundo alguns eruditos, são a mais antiga cultura do mundo e teriam sido eles que, há milhares de anos, pintaram as cavernas de África.
A ancestralidade dos Khoisan remonta a tempos imemoriais, ligando-os às raízes mais profundas da humanidade. Através de uma linhagem ancestral que perdura até hoje, eles carregam consigo a sabedoria e a herança das gerações passadas.
Diz a lenda que, quando foram expulsos dos seus territórios ancestrais, lançaram uma maldição nas terras entre os rios Zambeze e Limpopo (actual Zimbabwe). Juraram que outros podiam ali viver, mas nenhum outro iria conseguir controlar a região e nunca haveria paz.
Em tempos idos, dominaram toda a região da África Austral, mas aos poucos, este povo de caçadores-recolectores, foram sendo empurrados para as areias do deserto do Kalahari, onde vivem presentemente. Primeiro pelos povos Bantu que na sua expansão em África, os rechaçaram mais para o sul dos seus territórios e depois pelos fazendeiros Boers europeus.
Através das suas representações artísticas, os Khoisan comunicavam e registavam informações sobre o seu estilo de vida, crenças espirituais e práticas culturais. As pinturas rupestres eram criadas com cores vivas e detalhes meticulosos, revelando a habilidade artística e a observação atenta desses antigos artistas.
𝐂𝐔𝐋𝐓𝐔𝐑𝐀 𝐄 𝐌𝐎𝐃𝐎 𝐃𝐄 𝐕𝐈𝐃𝐀
A cultura Khoisan é rica e diversificada, marcada por um profundo conhecimento da flora e fauna locais. Eles são mestres na caça e coleta, utilizando técnicas de rastreamento e armadilhas engenhosas. A vida comunitária é central, com grupos pequenos e móveis que se reúnem periodicamente para trocar notícias, presentes e organizar casamentos.
A vida em pequenos grupos familiares é uma característica marcante da organização social dos Khoisan. Eles valorizam a interdependência e a cooperação entre os membros da comunidade, compartilhando recursos e responsabilidades de forma igualitária. A ausência de um líder centralizado permite que cada membro contribua com seu conhecimento e experiência para o bem-estar coletivo.
A cultura dos Khoisan é enraizada em uma visão holística do mundo, na qual os seres humanos estão intrinsecamente ligados à natureza e aos outros seres vivos. Essa cosmovisão respeitosa e harmoniosa reflete-se nas suas práticas cotidianas e na forma como se relacionam com o meio ambiente ao seu redor.
A arte rupestre encontrada nas cavernas africanas é um testemunho vivo da ancestralidade dos Khoisan. Através dessas pinturas, eles expressam as suas histórias, crenças e ligação profunda com a terra. Cada traço, cada imagem retratada nas rochas revela um legado cultural duradouro e uma ligação indissolúvel com as suas origens.
𝐀𝐒𝐏𝐄𝐂𝐓𝐎𝐒 𝐒𝐎𝐌𝐀́𝐓𝐈𝐂𝐎𝐒
Geralmente, os KhoiKhoisan apresentam estatura média de 1,60 metro para os homens e 1,50 metro para as mulheres membros de ossatura fina, com os pés e mãos pequenas a cabeça, em geral é dolicocéfala, o cabelo cresce em pequenos tufos enrolados, distanciando-se uns dos outros, assemelhando-se a graus de pimenta.
A forma do rosto é fracamente triangular, devido à saliência dos pómulos, os olhos ligeiramente oblíquos; o nariz é largo e achatado com os orifícios muito largos e por vezes ligeiramente virados para cima; genericamente apresentam a barriga saliente, o mesmo acontece com a parte posterior ao s**o para as mulheres «esteatopígia». A pigmentação é mais clara em relação à dos Bantu e Vátua, rugosidade precoce da pele, principalmente os de s**o feminino.
𝐋𝐈́𝐍𝐆𝐔𝐀
A língua «é um sistema abstracto de palavras e símbolos para todos os aspectos da cultura. Ela inclui o discurso, os caracteres escritos, os números, as expressões não verbais, os símbolos e os gestos. A língua é essencial para dinamizar as relações interculturais, no quadro do dinamismo social. A língua é um factor importante na formação, manifestação de identidade, na distinção étnica e é símbolo de etnicidade.
Os estudos antropológicos tratam sem dúvida,
de uma extrapolação da classificação linguística, que reúne as línguas dos san e dos khoi-khoi num mesmo grupo, caracterizado pela presença de consoantes e cliques Alguns autores, como Estermann, de forma descontextualizada, enquadram as línguas dos !Kung e Kwadi no grupo de língua camita, mas a classificação de 1968, apresentada por Ki-Zerbo (2010, p. 335), os classifica no grupo etnolinguístico “KhoiKhoisan”.O certo é que as línguas dos KhoiKhoisan apresentam uma característica monossilábica e o uso de cliques ou estalinhos.
Uma palavra é parecida a outra na composição de consoantes, vogais e cliques, mas muda de significado segundo o tom com que são pronunciadas as diversas sílabas, ou seja, algumas palavras começam num tom alto, médio ou baixo e terminam igualmente em tons altos, médios ou baixos. Acredita-se que o fato de este povo possuir uma língua própria e de difícil apreensão, traz vantagens na segurança dessa cultura antiquíssima e defende-se facilmente contra a penetração de elementos estranhos
𝐎𝐑𝐆𝐀𝐍𝐈𝐙𝐀𝐂̧𝐀̃𝐎 𝐒𝐎𝐂𝐈𝐎𝐏𝐎𝐋𝐈́𝐓𝐈𝐂𝐀
Estes povos vivem agrupados em pequenos núcleos cujos membros são geralmente unidos pelo laço de consanguinidade. Cada núcleo ocupa um acampamento composto de poucos abrigos. Normalmente, um núcleo é composto por um número que varia entre 15 e 50 pessoas, sendo o poder exercido pelo mais velho do núcleo, cada indivíduo pode deixar o seu núcleo e ligar-se ao outro quando quiser. As dificuldades para a satisfação das necessidades mais elementares da vida impossibilitam formar grupos maiores, às vezes essas famílias são obrigadas a separarem-se porque o mesmo local não comporta o sustento de todos.
Em tempos mais remoto, a organização sociopolítica dos san difere dos Khoi-khoi, por causa do seu modo de vida. A dos Khoi é mais complexa do que a dos san e é mais próxima a dos povos Bantu. Cada etnia tem um chefe, um território fixo. A etnia compreende diversos clãs patrilineares e exógamas, com um sistema classificativo em que cada clã usa o nome do seu antepassado. Uma hierarquia severa, baseada na idade, rege as relações sociais no interior do clã. O chefe da etnia é o primeiro, por ser chefe do clã mais antigo.
𝐏𝐑𝐈𝐍𝐂𝐈𝐏𝐀𝐈𝐒 𝐀𝐂𝐓𝐈𝐕𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄𝐒 𝐄𝐂𝐎𝐍𝐎́𝐌𝐈𝐂𝐀𝐒
Entre os Khoisan, existem diferenças nas atividades econômicas, pois, enquanto os !Kung são essencialmente caçadores - recoletores, os Khoi são pastores não agricultores. Entre os Khoisan existe divisão social do trabalho. As mulheres e as crianças dedicam-se da recoleção de vários alimentos vegetais, notadamente ervas, tubérculos, rizomas, bagas e resinas, cebolas ou “raízes bulbosas”; os alimentos de origem animal, como lagartas, insetos, formigas, cigarras, gafanhotos, térmites e tartarugas, bem como o mel e outros produtos que o seu habitat pode oferecer.
Os homens dedicam-se à caça em que a sua arma principal é o arco que não só o manejam com grande destreza e habilidade, como também o sabem tornar terrivelmente eficaz pelo envenenamento da ponta da flecha. Com efeito, é muito violento o veneno que é extraído de uma serpente. Eles caçam todos animais, de preferência os de grande porte (a gunga, olongo, kissema, humba, palanca, o gno, zebras, etc.), pois basta abaterem um destes animais para terem abundante ração de carne para alguns dias.
𝐑𝐄𝐋𝐈𝐆𝐈𝐀̃𝐎 𝐄 𝐂𝐑𝐄𝐍𝐂̧𝐀𝐒 𝐏𝐎𝐏𝐔𝐋𝐀𝐑𝐄𝐒
As crenças dos Khoisan são profundamente enraizadas na natureza e no mundo espiritual. Eles acreditam em um ser supremo e em espíritos ancestrais que influenciam a vida cotidiana. Rituais de cura e danças trance são práticas comuns, usadas para comunicar-se com o mundo espiritual e curar doenças.
Os !Kung e Kwadi realizam ritos de iniciação masculina e feminina, depois destes ritos, o indivíduo está pronto para contrair matrimonio. Antes de ser considerado adulto, o jovem !Kung é submetido a um ritual que consiste em fazer incisões nas costas, nos braços, nas quais se esfrega carne carbonizada, para que a força e a agilidade da caça o penetre e cicatrizes entre os olhos servem para terem uma visão aguda. Por duas ocasiões se organiza, no acampamento, uma pequena festa para um jovem. A primeira vez, quando ele acaba de matar o primeiro bambi, para oferecer a pele do bicho à sua noiva; a segunda, quando, depois de casado, repete a mesma proeza.
Testemunha-se entre os !Kung e Kwadi a existência de um único ser divino, causador de todo mal e do bem. Eles o denominam !Gama, o seu Ente Supremo, à quem atribuem a criação de todas as coisas. Se alguém for fulminado por um acontecimento !Gama é tido por causador. Ele também agradecem à !Gama, mostrando-lhe uma pequena prece, !Gama nyn!andule, que os caçadores costumam fazer todos dias, antes de iniciar a faina da caça e por quaisquer rendimentos laborais. Também acreditam na boa ou más influências dos espíritos dos antepassados, prestam-lhes um culto e servem de protecção das novas gerações. Os curandeiros usam esses espíritos para diagnosticar os pacientes e posteriormente indicação do tratamento.
𝐍𝐎𝐓𝐀𝐈𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:
Os povos Khoisan são um elo vivo com as origens da humanidade, representando uma das culturas mais antigas e resilientes do mundo. Embora enfrentem hoje em pleno século 21 desafios consideráveis, sua história, cultura e espiritualidade continuam a oferecer uma rica fonte de conhecimento e inspiração.
Os Khoisan são um povo notável, cuja história e cultura oferecem uma visão sobre a riqueza da diversidade humana. Através do seu estilo de vida baseado na cooperação, habilidades de sobrevivência no deserto e ligação profunda com a natureza, os Khoisan mostram-nos uma forma de existência em harmonia com o mundo real, a natureza.
Valorizar e respeitar os seus conhecimentos tradicionais, habilidades de sobrevivência e a sua arte, é essencial para manter viva a herança desse povo ancestral. Os San são uma lembrança valiosa da diversidade cultural e da história da humanidade, oferecendo-nos uma oportunidade de reflexão e apreciação sobre a riqueza da nossa própria existência.
𝐑𝐄𝐅𝐄𝐑𝐄̂𝐍𝐂𝐈𝐀𝐒:
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Partilhado por: Uma África Desconhecida
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