01/12/2024
UM COVEIRO MORTO NO BOTECO
(História macabra)
Amália e Luis eram dois jovens que se amavam apaixonadamente. Logo a sua felicidade seria completa, pois faltava um mês para o seu casamento, um mês para unir suas vidas para sempre!
Mas o destino tinha outros planos. De um momento para o outro, Amália adoeceu, seus pais a levaram aos melhores médicos, mas nada puderam fazer para salvar a sua vida, que se consumiu em poucos dias.
A morte de Amália foi um golpe duro para Luis, que não se resignou em perdê-la e, antes de vê-la num caixão, preferiu embebedar-se para esquecer a sua dor.
Mais tarde Luis, que não tinha assistido ao velório, chegou no cemitério com passos desajeitados, aproximou-se do caixão antes de ser fechado e, cheio de lágrimas, a contemplou pela última vez. Ele a viu tão linda, com um bonito vestido e as jóias que ela iria exibir no casamento. Parecia dormir, a não ser pela palidez do seu rosto.
Alguns olharam para ele com censura, por causa de sua embriaguez, mas ele não se importou. Tirou do bolso da camisa o anel de casamento e colocou no caixão, antes que o fechassem.
Quando a última pá de terra cobriu o túmulo, todos saíram, mas só Luis ficou. Sentia que uma parte dele tinha morrido também. Logo à noite, arrastando seus passos, saiu do campo santo e dirigiu-se ao bar, para continuar afogando-se no álcool.
No dia seguinte, quando o coveiro (com apenas cinco anos mais velho do que Luis) chegou ao cemitério, ao fazer sua rotina diária, passando por entre os túmulos, viu que a sepultura de Amália tinha sido mexida e o caixão estava fora do lugar. Assustado, foi em busca dos familiares.
Quando a família chegou, teve a ingrata surpresa de que o caixão estava aberto. Lá estava o corpo de Amália nua, os cabelos mexidos, o vestido rasgado ao lado e as jóias tinham desaparecido – tudo indicava que seu corpo tinha sido violado e as jóias roubadas.
Os moradores da pequena cidade estavam consternados, não entendiam quem poderia ter feito tal maldade. Os pais de Amália foram procurar o noivo, mas não o encontraram em casa, os pais de Luis disseram que não sabiam onde ele estava.
Luis era o principal suspeito, sua família foi apontada e repudiada pelo povo. Para os moradores da região, o noivo seria o único que tinha razões para tal atrocidade, pois não podendo consumar seu amor em vida com Amália, tinha decidido "fazê-la sua esposa" depois de morta.
Mas no dia seguinte, o corpo de Luis foi encontrado pendurado numa árvore. Seus pais se recusaram a acreditar que seu filho tinha se suicidado, e muito menos que ele teria sido capaz de abusar de sua noiva falecida. Eles tiveram a certeza de que a família de Amália o mataram por vingança.
Diferente do enterro de Amália, que toda a cidade assistiu, no de Luis só compareceram os pais. Ninguém quis acompanhá-los, porque acreditavam que esse falecido foi quem abusou do corpo de Amália.
Com o sofrimento pela dor da perda do filho e pelos boatos maldosos das pessoas, os pais de Luis deixaram a cidade. A mãe não conseguiu suportar a morte do seu único filho. A tristeza foi lhe consumindo e, meses depois, partiu para encontrar o seu amado Luis.
O tempo passou, e o que aconteceu ficou como uma má memória para aqueles habitantes.
Um dia chegou na cidade um idoso, que disse que se chamava "Álvaro", procurando trabalho. Por causa da idade, ninguém o aceitava e tudo o que ele conseguiu, foi um emprego no bar. O salário era pouco, mas pelo menos teria comida e um lugar para morar. E todos os dias, esse bar abria as portas ao meio-dia e fechava à meia-noite.
Certa noite, numa mesa, um grupo de homens bebiam, entre piadas e palavras grosseiras. À medida que as horas avançavam, foram embora, até que ficou apenas um deles, que não tendo mais dinheiro para continuar bebendo, tirou do bolso um anel de ouro, que o colocou no balcão.
O Sr. Álvaro, depois de examinar o anel, deu-lhe a cerveja. Chegando a hora de fechar, com o anel entre os dedos, ele se aproximou do bêbado, que mal conseguia se mexer e perguntou:
"– Me diga, amigo! Onde você comprou este anel?"
"– É... era da minha namorada." – respondeu.
"– Ela deve ser rica. Que sorte você tem, amigo!" – disse Álvaro, batendo-lhe nos ombros.
"– Sim... E... Você não sabe: era linda! Você não sabe... que corpo ela tinha!" – comentou com um brilho luxurioso nos olhos.
"– E onde ela está?" – insistiu Álvaro.
"– Mo... morreu... morreu! Mas, amigo... ela foi minha... Minha... Não importa... estava morta, mas foi minha! O estúpido do Luis... o muito estúpido... Sabe? Me descobriu... Mas eu o matei... Matei o estúpido!"
Álvaro ficou chocado por alguns segundos: o coveiro era quem tinha abusado de Amália, há mais de vinte anos. Luis era inocente e esse bêbado, que é o coveiro da cidade, tinha enforcado ele quando foi descoberto.
Álvaro não disse mais nada, levantou-se, dirigiu-se para trás do balcão e puxou um revólver que ele guardava. O som do tiro rebentou no local, com uma lágrima que escorreu pelo rosto do 'barman'.
Depois de anos procurando a verdade, finalmente a encontrou. Nada devolveria o seu filho, nem a mãe dele, sua esposa. Mas tinha acabado de lhes fazer justiça.
Talvez ninguém acreditasse que o verdadeiro culpado foi o coveiro, mas saber que ele não errou em defender a inocência de Luis, aliviou o seu coração cansado.
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Autora: Mery Matthw, "Elixir del Miedo", México.