Relatos dão conta de que Henrique Poppe nasceu em Niterói e se radicou rapidamente em São Paulo. Mas foi em Porto Alegre que, o homem que fundaria o Sport Club Internacional em 1909, com José Poppe e Luís Poppe, escreveu as páginas mais memoráveis de sua história. Foi por sua persistência e iniciativa que surgiu o Inter, cujo hino e especialmente trajetória apontariam para o rótulo de "clube do po
vo". Nasce o clube do povo
Desde o início, a história colorada está ligada ao arqui-rival Grêmio. Os jovens irmãos Poppe vieram de São Paulo para Porto Alegre e sentiram a necessidade de praticar esportes, em especial o futebol. Procuraram a sede gremista, mas, por não serem conhecidos e, sobretudo, membros da comunidade italiana, não foram aceitos. O que se repetiu em mais tentativas fracassadas com outras agremiações. Empreendedores, os Poppe então decidiram fundar seu próprio clube e informaram à imprensa: "Há dias, noticiamos que um grupo de jovens empregados no commercio e residentes no 2º districto, havia formado uma sociedade para o cultivo do foot ball. A nova agremiação, que conta já com regular número de sócios, denomina-se Sport Club Internacional. Almejamos vida longa e perenes felicidades", anunciou o Correio do Povo . A origem do nome, apesar de adotado pouco mais de um ano após a fundação da Inter de Milão, é outra. Sport Club Internacional era justamente o clube paulistano no qual os irmãos Poppe haviam estado em São Paulo. Foi natural que se fizesse a escolha, sobretudo por membros da comunidade estrangeira. Ficava claro o objetivo de uma instituição aberta a todos: democrática e sem preconceitos. Desafiar o já estruturado Grêmio para um confronto foi prova da coragem do Internacional, que se negou a enfrentar um combinado de reservas e quis medir forças com o rival em 100%. O incrível placar de 10 a 0 dá mostras do quão avançados já estavam os gremistas em relação aos ainda incipientes colorados, que entenderam o recado e passaram a construir sua própria história. Com menos de quatro anos de vida, o Internacional já deu mostras de que seria vitorioso. Em 1913, aproveitou-se do abandono do rival Grêmio, insatisfeito com a arbitragem, para vencer o seu primeiro título, o Campeonato Metropolitano. Nos quatro anos seguintes, repetiu a dose, incluindo a camisa vermelha entre as mais poderosas do Estado. Já a partir da década seguinte, em uma época em que aceitar jogadores negros era um grande tabu, o Internacional se mostrou pioneiro. Em 1925, o defensor Dirceu Alves foi o primeiro negro a vestir a camisa vermelha. Dois anos depois, o Inter conquistou seu primeiro Campeonato Gaúcho, batendo o Bagé na decisão. Estava, definitivamente, estabelecida uma potência no Rio Grande do Sul e, também, a instituição que podia ser chamada de clube do povo. Dos Eucaliptos ao Beira-Rio
Com a inauguração do Estádio dos Eucaliptos em 1931, o Inter deu uma casa aos seus torcedores e jogadores, mas demorou a engrenar e viu o cenário local ficar aberto para outros concorrentes. Com a chegada de Hoche de Almeida Barros à presidência em 40, estava pronto o campo para o mais assombroso esquadrão que o Sul do Brasil conheceu na primeira metade do último século. O Rolo Compressor venceu oito de nove títulos estaduais da década de 40, colocando jogadores como Nena, Russinho, Carlitos e especialmente Tesourinha, nome marcante do futebol brasileiro àquele momento, na vida do Inter. A história seguiu pendendo para o lado vermelho do Rio Grande do Sul em 50, com o treinador Teté montando uma equipe quase tão boa quanto à anterior. Surgia o Rolinho, ou Máquina do Teté, que venceu mais cinco dos seis Gaúchos consecutivos. Era o time de Paulinho, Salvador, Oreco, Bodinho e Larry, entre outros. A continuidade das duas equipes se deve também ao ambiente sadio e familiar que já habitava o cotidiano colorado. Diversas propostas valiosas de clubes paulistas e cariocas chegaram aos jogadores do Internacional, que só puderam construir a história graças à permanência no Rio Grande do Sul. A comunidade de torcedores colorados se fez presente quando o Estádio dos Eucaliptos, a partir de 1947, ganhou arquibancadas de concreto, recebendo inclusive dois jogos da Copa do Mundo de 1950. Depois disso, o Inter se planejara para ter uma casa ainda mais significativa e o Gigante da Beira-Rio foi sendo planejado às margens do Rio Guaíba. A década de 60, dominada pelos gremistas, terminou com o Beira-Rio sendo concluído e inaugurado, em 1969, com sete anos de jejum sendo finalizados. Duas temporadas antes, o Inter já dava sinais de que se preparava para tempos gloriosos: em 67, veio até São Paulo, venceu o Corinthians por 1 a 0 e se transformou no primeiro gaúcho a triunfar em terrenos paulistas. No que seria o esboço do Campeonato Brasileiro, foi vice-campeão do Robertão. E quando a casa já estava pronta, se desenhava um timaço a caminho. O maior do Brasil e a queda
Já a partir de 67 e até 74, o Inter havia se mantido sempre entre os cinco primeiros colocados no Robertão e, a partir de 71, no Campeonato Brasileiro. Depois de sete anos espreitando conquistas, chegava a hora de mostrar ao Brasil que havia um novo campeão. Rubens Minelli chegou para dar mais peso a um time que já tinha grandes figuras como Caçapava, Falcão, Figueroa, Carpegiani e Valdomiro. Embora 2006 seja a temporada que deu os títulos mais expressivos ao Inter, os esquadrões da década de 70 são os mais marcantes da camisa vermelha. O bicampeonato em 76, com o melhor aproveitamento da história do torneio, ainda foi seguido pelo título invicto em 79, com Ênio Andrade no comando e algumas alterações em relação ao time anterior. Entre 69 e 75, foram ainda sete títulos gaúchos consecutivos. Apesar do vice-campeonato da Libertadores no início dos anos 80, a década seguinte significou um recesso de glórias na vida centenária do Inter, especialmente a partir de 1984, quando viu interrompida uma seqüência de quatro títulos gaúchos. O Grêmio roubava a cena com o título da Libertadores, do Mundial Interclubes e ainda com um hexacampeonato gaúcho. Estava indicado que o Inter precisava se reciclar para formar outro time forte, capaz de medir forças. Entre 88, com a vitória no Gre-Nal do Século no Brasileiro e o vice-campeonato nacional, a ida às semifinais da Libertadores em 89, e o título da Copa do Brasil em 92, o Inter flertou com o retorno aos holofotes, mas não conseguiu engatar a quinta marcha. O Grêmio novamente estava em evidência, com as fortes e vitoriosas equipes forjadas por Luiz Felipe Scolari. Com times frágeis, pouco orçamento e as contas em frangalhos, o Inter passou a conviver com o rebaixamento no Campeonato Brasileiro, o que por pouco não aconteceu em 1999 e 2002, quando só se salvou nos instantes finais. Mas, ao contrário de clubes que precisam da queda para se reorganizar, os colorados mudaram da água para o vinho já em 2003 e sem deixar a elite. As coisas em seu devido lugar
Já em contagem regressiva para o centenário, o Inter voltou a se fazer respeitado. A gestão de Fernando Carvalho superou a ameaça de rebaixamento e começou a trabalhar de maneira diferente. Foi criada a meta de vender pelo menos um bom jogador por ano e incentivar as categorias de base, fazendo surgir jogadores bons como Daniel Carvalho, Nilmar, Diogo Rincón, Cleiton Xavier, Diego, Edinho, Renan, Rafael Sobis e Alexandre Pato. O primeiro objetivo, de recuperar a hegemonia regional, foi conquistado com o tetracampeonato gaúcho a partir de 2002. Com boas campanhas nos Brasileiros seguintes, o Inter, especialmente sob o comando de Muricy Ramalho, começava a mostrar que estava pronto para as grandes conquistas. Por pouco, em 2005, não tirou do Corinthians o título nacional, mas preparou o terreno para ganhar o mundo em 2006. Abel Braga, que já tinha três passagens pelo Beira-Rio, chegou para seguir tocando o barco, e o elenco recebeu uma maior injeção de investimento para a disputa da Libertadores. O quadro social forte já era uma característica no orçamento e foi possível, então, brigar com qualquer adversário de igual para igual. O "clube do povo" então ultrapassou os adversários, um a um, e ainda venceu o então campeão São Paulo, na final, para levantar o primeiro título de Libertadores em sua história. Com mudanças pontuais e a saída de quatro titulares - Bolívar, Tinga, Jorge Wagner e Rafael Sobis - para a Europa, o Inter seguiu forte e chegou ao Japão como o vice-campeão brasileiro pelo segundo ano seguido. Diante de um Barcelona que todos diziam ser imbatível, o Internacional se agigantou e, anulando o melhor do mundo, o ex-gremista Ronaldinho, venceu graças a uma jogada arquitetada por Iarley e concluída por um herói improvável: Adriano Gabiru. Bancado por Abel e criticado pela torcida, o meia fez o gol mais importante da história do clube. Com um modelo de gestão consagrado por títulos, o Internacional seguiu com elencos fortes nos anos seguintes. Em 2007, as coisas não deram certo e Abel Braga chegou a deixar o cargo e retornar logo depois, mas sem conseguir qualquer façanha. No ano do 99º aniversário, o Inter venceu o Gaúcho novamente e ainda conquistou a Copa Sul-Americana.