02/07/2021
António Coimbra de Matos (20.12.29 - 1.7.21)
Uma vida eterna em cada um nós
António Coimbra de Matos será sempre sinónimo de amor, de iluminação intelectual, de presença humanista, de cultura, de entrega, de compaixão. Deixa-nos hoje um vazio imenso e uma saudade impossível de se esgotar.
Foi um grande humanista, pai da psicanálise moderna em Portugal, corajoso, inovador, rebelde pensador. Amigo do seu amigo, excelente supervisor, excelente clínico. Entusiasta do sucesso dos mais novos, nunca lhe conhecemos o medo da competição. Pelo contrário. O seu lema era a cooperação. Aberto de espírito, sempre a deixar-se tocar pelo novo, sem apego ao já pensado, ao já produzido, ao já intuído. Um dia, após ter-lhe dito que o que eu lhe estava a dizer tinha sido ele mesmo que me disse, riu-se e disse: "Já nem eu sei o que digo. Mas podia muito bem ter sido você a dizer." Rimo-nos os dois, num dos muitíssimos momentos de total cumplicidade, intimidade partilhada numa forma de amor eterna que permanecerá para sempre, não só no meu, como em todos os corações que por ele foram tocados. E foram muitos.
Mestre que insistia em não fazer escola, deixa, queira ou não, a maior escola psicanálise em Portugal. A escola de uma psicanálise que privilegia a relação em detrimento do intrapsiquico, o afeto em detrimento do impulso. Vamos ter saudades das conversas sérias, dos convívios, das anedotas, das gargalhadas. Felizmente temos a capacidade de o evocar dentro de nós: a presença do sujeito no interior dos seus objetos; assim se cumpre a hegemonia do afeto.
Gratos por tudo Mestre. Até breve,
Pela Direcção e Comissão de Ensino
Maria do Rosário Belo.