Orelha de Van Gogh

04/10/2022

Montra em execução

21/03/2022

Neste dia mundial da poesia, tralalá...

BOLSO ESCURO

Conheço cada um dos teus segredos
Conheço sobretudo os teus segredos
Conheço todas as tuas costuras
As tuas vergonhas
Os teus fundos
Ah, como conheço os teus prazeres
Apenas os mais secretos
Aqueles que trazes no bolso escuro

Tens o coração cheio de cravos
E um aperto vascular
Os cotovelos desmanchados
E os lábios desabotoados em negras frutificações
Hálitos mornos como segredos pueris
Instalam-se nos teus bolsos escuros

Metes os dedos na algibeira
E encontras os meus
Como se tivessem crescido
Dentro do casaco
E se confundissem com os teus
Sabes bem que isto é a felicidade.

-- Pedro Rondulha Gomes (Vermes e outros contos

21/03/2021

Neste dia mundial da poesia, deixamo-vos um poema de Margarida Batista, que serviu de mote para o nome deste projecto:

As ruas desertas chovem a preto e branco lá fora
Choram por omissão quando as lágrimas não evaporam
E as línguas calam o anúncio do desapego

As nuvens derramam-se num desamparo de autoclismo
Quando se aleijam na calçada capazes de até fazer acordar
Defuntos estremunhados que ainda não morreram esta noite

Alguém acrescenta sempre a esta hora um refluxo cinzento
Um verso em tons terra para uma papoila que não amanheceu
É preferível a olhar o espelho e dar pela falta da orelha de Van Gogh

Margarida Batista 2020

23/12/2020

23/12/2020

Assim nasce uma editora...

Esta editora faz-se de sonhos, mas também de cansaços. Nasce da ideia de dois autores desconhecidos que gostariam de ver o seu trabalho impresso em livro. Habituados que estão a disponibilizar online as suas criações literárias, resolveram tomar em mãos as várias etapas do processo de edição à medida das suas características individuais. Não com o objetivo de ganhar dinheiro (algo manifestamente impossível no atual panorama editorial), mas pelo seu gosto pela literatura e desejo de o partilhar.

A Orelha de Van Gogh ainda não é uma editora. Numa primeira instância é um projeto e marca sob qual publicaremos alguns dos nossos trabalhos em edição de autor.

Haja força na Orelha e poderá no futuro publicar poesia e prosa de outros autores que partilhem a mesma visão e desejem fazer ouvir a sua voz.

Van Gogh foi, durante a sua vida e sob todos os aspetos considerados de importância pela sociedade burguesa da época, um falhado: não constituiu família; era incapaz de se sustentar a si próprio, escrevendo regularmente ao irmão mais novo a pedir dinheiro para tintas; e era mesmo incapaz de relacionar socialmente. Anos mais tarde foi essa mesma sociedade burguesa que o elevou a um estatuto de ícone pop, o que não pode deixar de constituir motivo de análise. Aquilo que nos deixou, contudo, é inestimável: uma visão única sobre o mundo, sem qualquer paralelo.

Dia 23 de dezembro de 1888, antevéspera de Natal, faz hoje curiosamente 132 anos, Van Gogh volta a casa após ter seguido Gauguin pelas ruas de Arles. Atormentado por alucinações corta a própria orelha com uma navalha de barba. Depois de ter estancado o sangue como pôde, embrulha a orelha num lenço e vai ao bo**el da cidade oferecê-lo a uma pr******ta.

Acreditamos que todos têm uma perspetiva única sobre a vida, que é necessário procurar, e a que é preciso dar voz. É preferível isso “a olhar o espelho e dar pela falta da orelha de Van Gogh”.

O nome da editora, caso estejam curiosos, surgiu de um belo poema da Margarida.

Força na Orelha, Pedro & Margarida

PS: talvez este seja um anúncio um pouco imprudente, pois a ideia nasceu faz ainda poucos dias, e muita coisa está ainda em estado de ebulição, mas esta data (23 de dezembro) pareceu-nos a ideal para um anúncio desta natureza

21/12/2020