A Culpa é das Estrelas

A Culpa é das Estrelas Programa emitido na Rádio Terra Nova - www.terranova.pt
Uma hora semanal de música cuidada com as palavras de Gente com veia de Escritor.

Dias da Semana: Quarta-feira, com reposição ao Domingo
Horário: 22:00-23:00 (GMT+1)

16/01/2025

“No tornado da vida” *
Autor: Guilherme Teiga

A Vida pode ser um verdadeiro tornado.
Um corrupio de sentimentos, de sensações e vivências que nos arrancam por vezes as raízes que seguram as nossas verdades, as certezas e espalham no nosso mundo as dúvidas e enchem cada recanto do coração de angústias e tristezas. Parece que ficamos tontos de tantas voltas que damos... sentimos que o mundo uniu ventos para provocar e deixar em pedaços cada essência, cada voz interior, cada pedaço de alma que não conhecia outro lugar!
Sim, há tornados da Vida que chegam assim... no entanto, eu gostava de ser “caçador de tornados”, correr o mundo atrás desse fenómeno, cujo nome arrepia e faz tremer, mesmo em tardes de calor. De mansinho, aproximar-me, colocar no regaço as cores do arco íris, perfumes de flores, sementes das plantas da paz e do amor e deixar-me apenas rodopiar por esse mundo e no assobiar dos ventos, deixar palavras doces e ternas que acalmassem corações e vontades!
Que bom que seria esse Tornado de Amor!

* A CULPA É DAS ESTRELAS Emissão #227 – 15JAN25

16/01/2025

“A flor da vida” *
Autor: Guilherme Teiga

A Vida pode ser um verdadeiro tornado.
Um corrupio de sentimentos, de sensações e vivências que nos arrancam por vezes as raízes que seguram as nossas verdades, as certezas e espalham no nosso mundo as dúvidas e enchem cada recanto do coração de angústias, e tristezas. Parece que ficamos tontos de tantas voltas que damos... sentimos que o mundo uniu ventos para provocar e deixar em pedaços cada essência, cada voz interior, cada pedaço de alma que não conhecia outro lugar!
Sim, há tornados da Vida que chegam assim... no entanto, eu gostava de ser “caçador de tornados”, correr o mundo atrás desse fenómeno, cujo nome arrepia e faz tremer, mesmo em tardes de calor. De mansinho, aproximar-me, colocar no regaço as cores do arco íris, perfumes de flores, sementes das plantas da paz e do amor e deixar-me apenas rodopiar por esse mundo e no assobiar dos ventos, deixar palavras doces e ternas que acalmassem corações e vontades!
Que bom que seria esse Tornado de Amor!

* A CULPA É DAS ESTRELAS Emissão #227 – 15JAN25

11/01/2025

“A caixa mágica” *
Autor: Virgílio António Nogueira

O arco desliza sobre as cordas e o barco de casco de madeira sulca a água, beijando-a. A tua mão direita avança e depois recua, convidando o som a vencer o silêncio, percebido através do contacto com as finas linhas férreas, arrancando daí os comboios para as estações onde a inteligência e a sensibilidade tornem as mercadorias tocantes, alimentando a faminta população do lugar.
Auspicioso o passageiro da carruagem atada à tua locomotiva, ele a espreitar pela janela as paisagens sonoras, campos verdes, bosques encantados, florestas de árvores cujos cumes arranham o céu, manchas de frutos vermelhos a ensanguentar o cinzento dos dias de chuva.
Deste a paz a uma guerra que se alastrava igual ao avanço do tumor maligno, a lançar metástases de ódio e raiva, o coice emocional autêntico, forte, duro, que aleija a alma, deixa uma nódoa negra na ambição e corta os pulsos quando se encontram os sonhos falhados, tantas vezes por motivos comezinhos, os comerzinhos diários que é necessário colocar na mesa da prole.
Apresentaste-me Stéphane Grappelli, cirandava na banda sonora do filme de Woody Allen. Gostei do som insubmisso do violino que não estava na fileira para obedecer a qualquer que fosse o maestro, mas para ser o protagonista da história. Rebelde sem perder majestade, as notas swingavam sempre com a elegância de jovens bailarinos que ensaiavam sem a preocupação de falhar o passo na noite de estreia do espetáculo. Grappelli reproduz a doçura do croissant de Paris ou, numa outra geografia, no andamento mais lesto, evoca a confusão da avenida buliçosa de Manhattan.
Recordo a primeira vez que te vi, Renatinha, a menina que parecia retirada a um tempo em que a sobriedade exercia mais fascínio que o espalhafato e o sorriso tinha a delicadeza da composição da bossa nova. Fantasiei com o sorriso tímido, com o cabelo a ondular sem encontrar o areal e aí descalçava os sapatos de lona, caminhava no fim do mar, mergulhava dentro da água e tentava ver os teus sonhos para saber se fazia parte de algum deles.
Tanto estarias no palácio de chão encerado com a pasta laranja que se usava para rejuvenescer o soalho das antigas mansões, a trazer a europa encarcerada no domicílio pelo frio inclemente do inverno, como habitarias a casa do jazz, sem endereço, provavelmente nómada, sem ponto de partida, irrequieta. Fossem os clássicos desenhados nas partituras, ou antes as construções irreverentes, do teu violino, da caixa mágica, nasceram graciosas mensagens de amor que os amantes facilmente compreenderam. Os outros jamais entenderão.

* A CULPA É DAS ESTRELAS Emissão #226 – 08JAN25

11/01/2025

“Havia tempo” *
Autor: Virgílio António Nogueira

Havia tempo para escutar o eco das palavras
A precipitarem-se do disco de vinil
Caindo-lhes no íntimo resguardo do ouvido
Mergulhos perfeitos nas águas de almas franzinas
Ferros para a solidez de uma construção humana
Havia tempo para os instrumentos ressoarem corpo adentro
Gritos de um saxofone que brilhava com as luzes
A travessia pelo túnel em que seguia o oxigénio era, porém, obscura
O disco ensinava os adolescentes a respirar o ar
A voar sobre o banco corrido do parque
Sentados nas tábuas pouco seguras da incerteza
Havia tempo para os sons bizarros que prediziam estradas futuras
Depois o relógio avisava para o efeito do tempo perdido
Alertava para as repetições dos caminhos cansados
Dias sem novidade, sem ti, sem expetativas
Havia tempo para seguir na prancha do solo da guitarra
Uma corrente de vento louco que empurrava até à porta do abismo
Cansado demais para cair, velho demais para sentir o medo
Incapaz de recordar as palavras do menino, as cartas de amor perderam o viço erótico e azedaram na refeição que o rancor apoderou
Havia tempo para testar a imortalidade
Para pedir aos pulmões para darem tudo até explodirem quais granadas que se estilhaçam e jazem quebradas em peças
A voz que se transforma e recomeça depois com a luz suave do despertar do dia, sussurrada para não ofender o poder dos deuses
Eles detestam perder os louvores humanos e ofendem-se se a adulação ficar terrena, desatado o cordel da submissão aos reis dos céus
Havia tempo para acreditar que uma canção era genuína, um limão, feita de sumo ácido, arrancada da árvore de galhos agressivos, pontiagudos, não da outra que crescera ao lado, a cameleira bonita e terna
Eu e tu, nós e eles, afinal, todos seres humanos
Havia tempo para rebolar no ervado fresco
Fazia-se do verão uma experiência de liberdade, de atrevimento
Desafiava-se o mar na hora da lua
A água do oceano tinha mãos que tocavam o corpo
A brisa noturna reportava a loucura dos barcos piratas após o saque
Os fantasmas da noite dançavam a imitar mancos
Os navios navegavam até Singapura a desoras
Havia tempo para rir toda uma temporada
O homem perverso não havia ainda aparecido à porta
A forçar a entrada e a empurrar o incauto para o lado escuro da existência
A retirar da mala de caixeiro viajante os adereços do cinismo
As doses de ódio prescritas para os momentos antes do sono
A preceder o eclipse do tempo em que havia tempo.

* A CULPA É DAS ESTRELAS Emissão #226 – 08JAN25

2024 foi assim, n' A Culpa é das Estrelas...
03/01/2025

2024 foi assim, n' A Culpa é das Estrelas...

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02/01/2025

“Ilha do Faial” *
Autor: Fernando Morgado

Quero manhãs de areia e mar nas asas da alma-negra
Quero barco e remos para lá chegar no leito ilhéu dos meus sonhos
Quero contar as ondas em braçadas de baleias
Quero dançar a valsa das cagarras em vaivém de sobrevivência
Quero um faial de picos altos no canal das cefaleias
Quero a sombra das urzes na paz e repouso das ferfolhas
Quero cantar com o sachão na aurora das traineiras
Quero a sorte das águas calmas nas arribas que me guardam
Quero ter os horizontes que os meus sonhos desenham
Quero velas e chaminés em chegadas de outros mares
Quero noticias do meu amor que que se esconde noutros lugares
Quero gritar aos quatro ventos que sou feliz nesta geira
Quero ver um tule branco que a traga ao meu altar
Quero desenhar-te inteira nas lendas deste paredão
Quero ser o teu comandante na viagem que prometemos
Quero o que quiseres se a vida te oferecer sonhos
Quero dar-te os capelinhos na beleza desta paixão
Quero mergulhar contigo no dorso do cachalote.
Quero correr contigo nas areias de Porto Pim
Quero sentir-te mulher na fajã onde me disseres que sim.

* A CULPA É DAS ESTRELAS Emissão #225 – 01JAN25

02/01/2025

“E nos salvaremos” *
Autor: Fernando Morgado

Venho de cima, do lado do farol,
desço a calçada até ver o rio,
eu e tu no barco que me cativa o olhar,
estás sempre onde eu quero ver-te,
por vezes na proa, outras na ré,
sentada na ponte, de pé a acenar-me,
mas sempre na outra ponta do cabo que prende
a embarcação aos meus olhos.
Mergulhas para me teres. E eu te salvarei.
Venho de baixo, do lado da maré,
subo a calçada coberta de algas,
com o cuidado de passos seguros,
tu és o corpo do meu abraço,
a cesta de pérolas que devo cuidar,
o ramo de flores que me enfeitiça.
E tu me salvarás.
Tu és o barco e o leme,
eu sou o remo e a bússola.
E nos salvaremos.
Vamos viajar!

* A CULPA É DAS ESTRELAS Emissão #225 – 01JAN25

02/01/2025

“Lua” *
Autor: Fernando Morgado

Mulatei os meus sonhos
com a tua pele negra,
com a tua negra voz.
Senti-te o suor e o sabor
no tato e na boca,
fermente e sem regra,
despudor de mandioca.
Mulatei os meus desejos
na tua pele de cetim,
em profusão de beijos
nos teus excetos carmim.
A tua pele tão negra,
em corpo de dança,
era a minha loucura.
Chamei-te sempre viúva.
Escura, negra e preta!
Chamei-te sempre viúva,
o teu nome era Doçura!
Escuros são os olhos
que não veem a tua claridade.
E então chamei-te Lua.

* A CULPA É DAS ESTRELAS Emissão #225 – 01JAN25

29/12/2024

“Agora sim, pensou o avô: Somos Natal!” *
Autor: Rosa Fonseca

Jerónimo era um avô sem chapéu e sem barbas brancas. Também não usava bengala ou um roupão de flanela aos quadradinhos.
Em vez de se sentar à soleira da porta a apanhar sol com os vizinhos, gostava de vaguear e beber o seu café numa rua estreita da cidade. Era de lá que apreciava o vaivém dos moliceiros e das pessoas atarefadas.
Havia uma altura do ano que gostava particularmente de descer à cidade: Os dias anteriores ao Natal.
Vestia a samarra e ia com o vento… às vezes um vento norte que o empurrava e chegavam até a barafustar um com o outro. Dois teimosos.
Por estes dias observava as pessoas mais apressadas a entrarem e a saírem das lojas, como se tudo à sua volta corresse como um comboio a alta velocidade.
Carregavam sacos adornados de laços, quase sempre vermelhos ou verdes, prateados ou dourados. Mas o que ele não gostava era de ver os rostos acabrunhados, sem brilho. Questionava o espírito natalício que se apregoava na publicidade. Tudo lhe parecia fugaz e intransigente. Demasiadamente incoerente para a festa da família. Do reencontro. Das crianças.
As crianças já não se viam pelas mãos das mães, estavam guardadas nos infantários e escolas. Ou talvez pior, ligados a um jogo online sem verem o mundo cá fora.
Preocupava-o estes tempos novos de alguma alienação. Também tinha netos e bem os via nessa senda. Não era contra o progresso, ele próprio usava as redes sociais.
Mas nada substituía o calor do outro. O encontro do olhar.
Sentia a sociedade carente de afetos.

Numa dessas tardes em que o vento estava a fazer das suas e voavam os chapéus e folhas e despenteava quem por ele passava, de repente lembrou-se de fechar as portas à volta da Rua da Alegria – era o nome que lhe dava desde esse dia em que teve a ideia.
O avô Jerónimo sussurrou ao vento que se juntassem numa roda e cantassem e dançassem.
Lentamente, de todos os lados saiam crianças e pessoas de sorrisos e braços abertos. Havia alegria e sobretudo fraternidade.
Reinava na roda a união. O encanto.
Agora sim, pensou o avô: Somos Natal!
E o vento no seu bailado pousava de mansinho, fios de luz, nas mãos abertas.
Quando já a noite se fazia sentir, Jerónimo fechou as portas da Rua da Alegria e voltou para casa. O vento acompanhou-o.
Hoje, mais serenos e sem resmungos. Quase de braço dado.
Adormeceram com um largo sorriso, dando lugar aos sonhos dos meninos.
Voltarão no próximo Natal.
O Natal é em cada momento e em todos os momentos a festa do reencontro.

* A CULPA É DAS ESTRELAS Emissão #224 – 25DEZ24

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