07/12/2024
Ao acaso
Não seja casmurro, adote um b***o ...
Bessa Machado
“Não seja casmurro, apadrinhe um b***o”! Foi com este slogan que mais de três mil b***os de raça mirandesa foram apadrinhados através de uma campanha lançada pelo Centro de Valorização do B***o de Miranda (CVBM), com o propósito de angariar fundos que permitam continuar a desenvolver o trabalho de proteção do “b***o de Miranda”. Com um contributo mínimo de apenas trinta euros por ano pode-se ajudar a salvar um animal e apoiar o excelente trabalho deste Centro. Também começa a ser moda no Nordeste transmontano ter um b***o como animal de estimação e já são muitos os b***os a fazer companhia e parte das brincadeiras dos seus donos, em vez de terem de prestar ajuda nos trabalhos agrícolas ou como animal de carga. E isso deve-se ao seu temperamento dócil, à sua simpatia e trato fácil, além de serem muito brincalhões. Soube que até um casal de noivos recebeu um como prenda de casamento e só não cheguei a saber se lhes fez companhia durante a lua de mel!
Sabendo-se que por esse mundo fora há um leque variado de animais adotados para animal de estimação, desde porcos, tigres, leões, coalas, cangurus e até crocodilos, saindo dos animais tradicionais como cães e gatos, estou a pensar adotar, não o b***o que já está a entrar na moda, mas uma burra. Sim, uma burra com “a” no fim. É que, assim, “com um tiro mato vários coelhos”, ou seja, atinjo vários objetivos. Se optar por trazer um b***o cá para casa, sempre que ande montado nele a dar uma volta por aí e eu ouvir dizerem “Olha um b***o”, acreditarei que se referem ao animal de baixo, só pelo tamanho das orelhas. Também, agora que certa plateia acusa tudo e todos de racismo e discriminação, adotando uma fêmea passo a ser visto por “inclusivo”. E ainda posso aproveitar a sua capacidade de reprodutora e multiplicar o número de b***os de forma signif**ativa, dando um contribuo para a conservação desta raça autóctone que já esteve em risco de extinção.
Vou treinar bem a burra para poder dedicar-me à “asinoterapia”, isto é, terapia assistida por asinino, pois o b***o é excelente no seu papel de co-terapeuta devido às variadas características que lhe são naturais: temperamento dócil, paciente, atento, curioso e inteligente, excelente memória, robustez física, capacidade de suportar grandes cargas e estabilidade a nível físico e emocional. Os benefícios são vários e muito ef**azes no tratamento de pessoas com problemas físicos e mentais e a terapêutica adequa-se a cada criança. Vai ser um sucesso. Posso também aproveitar o leite de burra, com características únicas, não só ao nível da alimentação, mas também ao nível da cosmética.
As burras, como as vacas, só produzem leite se tiverem crias e, mesmo assim, só o fazem durante 10 meses, embora os dois primeiros sejam exclusivamente para as crias. No entanto, enquanto as vacas produzem cerca de 20 litros por dia, uma burra da raça mirandesa não ultrapassa quatro litros, o que faz encarecer muito o leite. Sendo um produto excecional, vou usá-lo cá em casa de diversas formas, sendo a primeira como substituto do leite de vaca dado o potencial nutritivo, quer seja para os adultos, quer seja para as crianças. Por conter Vitaminas, Proteínas e Ácidos Gordos que estimulam a produção de Colagénio na pele dos seres humanos e possui propriedades antioxidantes que retardam o seu envelhecimento e reduzem as rugas, as manchas e os sintomas associados a doenças dermatológicas, como a psoríase, dermatites e eczemas, vou usá-lo para ter uma pele lisa, macia e suave de fazer inveja. Aliás, Já há mais de 2.000 anos a rainha Cleópatra, do Egito, tomava o seu banho diário, imersa em leite de burra, porque na altura já se conhecia bem as suas qualidades tonif**antes, hidratantes e rejuvenescedoras da pele ao estimular a produção do colagénio, tal como o fez a Imperatriz Josefina, mulher de Napoleão Bonaparte.
Poderei utilizar ainda o leite de burra fresco para fabricar sabonetes naturais e cremes dermatológicos de grande eficácia, pois o sabonete de leite de burra é conhecido pelas suas propriedades hidratantes e nutritivas. Estes produtos são ricos em vitaminas e minerais, suavizam e revitalizam a pele, deixando-a macia e radiante. Já me estou a ver ao lado de uma beldade a fazer publicidade ao sabonete feito com leite de burra mirandesa, combinando tradição e cuidado natural num toque de luxo diário.
Mas, ao adotar uma burra o meu objetivo principal é que ela seja boa reprodutora e mãe de muitos b***os, o que me poderá dar esperanças de vir a ocupar o lugar vazio deixado pelo patrão do Banco Espírito Santo no país. Como? Eu explico através de uma conhecida fábula:
“Era uma vez um rei que queria ir pescar. Consultou o seu Ministro da Meteorologia que lhe disse que iria estar bom tempo. E então pôs-se a caminho. No entanto, quando ia para a pescaria, encontrou um velho camponês, montado no seu b***o, que ainda era mais velho do que ele, e lhe assegurou que iria chover: “Majestade, é melhor não ir à pesca pois hoje vai chover bastante”. O rei retorquiu: “Meu bom homem, eu tenho um Ministro da Meteorologia, bem informado e melhor pago, que me jurou que não choverá. Por isso, vou mesmo à pesca”. O rei, confiando mais no seu erudito Ministro da Meteorologia do que na simplicidade do velho camponês, seguiu adiante e foi pescar. Mas veio um temporal com chuva torrencial, que encharcou o rei até aos ossos. Furioso, chegou ao palácio, despediu o Ministro e mandou chamar o camponês com intenção de o contratar para o lugar dele. Mas este, na sua humildade, disse-lhe que não possuía qualquer sabedoria para prever o tempo. Simplesmente, guiava-se pelas orelhas do b***o: “Se estiverem arrebitadas, o tempo estará bom, se estiverem baixas, irá chover”. Com isso, o Rei decidiu contratar o b***o para Ministro da Meteorologia. E assim começou o costume de se nomear b***os para os lugares de governação”! E ainda há quem diga que “vozes de b***o não chegam ao céu” …
Assim sendo, com os muitos b***os que a burra me poderá dar, tenho fortes probabilidades de promover uns quantos a ministros ou chefes de qualquer coisa, que não serão mais do que meus “testas de ferro” como parece ter acontecido num passado recente, para ver se eu passo agora a ser o “dono disto tudo” ... Ou será que não é deste tipo de “b***os”, mirandeses ou não, que se trata e eu devo aproveitar as qualidades todas da burra e deixar os filhos dela em paz?