A Morte do Artista - vol. 3
Fôssemos nós Pinóquio e os nossos narizes já se haviam encurvado como as unhas de quem nunca as corta. Nada do que aqui está escrito se pode ler à confiança. Nem sequer este texto. A verdade é uma mentira bem contada. E tudo o resto é trabalho de amadores. Como nós. Que mentimos com todos os dentes.
A mentira, já se sabe, é o instrumento basilar da ficção. A poesia é tida como mais sincera. Mas apenas porque mente com mais convicção. E o ensaio, assim como a ficção e a poesia, tenta apenas adivinhar a verdade. Então, pois, a literatura é mentirosa. Ou então, talvez a verdade que tanto se procura esteja lá no fundo escondida por baixo de uma camada de falsidade feita de palavras. É preciso bem mentir para chegar lá. Em verdade vos dizemos que este é o terceiro volume de «A Morte do Artista». Uma revista fundada em 2017, que tem mantido o alucinante ritmo de um número por ano. Editamos a nossa própria escrita, a nossa arte visual e também as nossas ideias, sem patronos nem patrícios. E convidamos outros que tais, admiráveis pela sua capacidade de mentir, a juntarem-se às nossas desventuras. Arriscamos, caímos e levantamo-nos. Assim aconteceu no primeiro volume, dedicado à Queda, em que oferecemos um prémio a Mário de Carvalho. E no volume dois, consagrado ao Outro, em que revelámos o M de Gonçalo M. Tavares.
Agora, mentimos com Lídia Jorge, escritora que com a verdade nos engana e nos oferece um magnífico conto inédito. Dela será o prémio «A Morte do Artista». E mentimos com todos os outros. Incluindo insuspeitos cúmplices do Brasil e de Cabo Verde, o mais literato dos músicos de Rock ou um artista plástico que nos mente por desenhos. Feitas as contas, o volume três da nossa revista é feito por 16 autores. Todos valem a pena. Deixem-se, pois, enganar nas páginas que se seguem. Se encontrarem revista melhor um outro estabelecimento, devolvemo-vos a diferença de preço.
Textos inéditos de Lídia Jorge, Adolfo Luxúria Canibal, António Sáez Delgado, Cláudia Lucas Chéu, Filinto Elísio, Hugo Mezena, João Reis, Nuno Moura, Pedro Dias de Almeida, Rita Taborda Duarte, Sérgio Tavares, Fernanda Cunha, João Eduardo Ferreira e Manuel Halpern. Ilustrações de Pedro Proença. Arte de Paulo Romão Brás.