09/12/2024
Uma análise realista:
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A MILENAR E TOLERANTE SÍRIA CAI ANTE A BARBÁRIE JIAHDISTA
A exultação a que assistimos nos meios de comunicação ocidentais face à queda do regime de Assad deixa-me espantado ante a curteza de vistas e ignorância que tal atitude demonstra. À esquerda e à direita, o desmoronar do regime que dominou a Síria nos últimos 50 anos é ligeira e estupidamente apresentado como se fosse uma espécie de 25 de Abril, uma libertação rumo à democracia e à liberdade.
Cruel e dramático engano!… O regime de Assad era uma autocracia, sem dúvida. Mas de facto não há naquela região regime que o não seja. Porém, diferentemente de todos os outros regimes, o regime sírio apoiava activamente todas as minorias religiosas, nomeadamente os cristãos, obrigando todos os municípios a observar os feriados cristãos, especialmente o Natal, festejado em todo o país. Os presidentes da Síria (tanto o pai Hafez Al-Assad como o filho Bashar Al-Assad) compareciam sempre pessoalmente em todos os momentos solenes dos cristãos sírios (Natal, Páscoa) coisa única em todos países islâmicos do mundo.
A primeira coisa que os jihadistas fizeram no seu avanço rumo a Damasco foi, além de cortar as cabeças de dignitários do regime (autarcas, etc), destruir e queimar todas as iluminações e árvores de Natal que já estavam montadas nas cidades, vilas e aldeias da Síria. Mas os que derrubaram o regime de Assad não são libertadores nenhuns, pelo contrário, é gente intimamente ligada às mais negras forças do fundamentalismo islâmico em todas as suas mil e uma formas, desde a Al Qaeda, à Frente Al Nusra, ao DAESH, ao ISIS, ao Estado Islâmico...
A Síria era até hoje o último regime laico e religiosamente pluralista e tolerante no mundo muçulmano, onde as mulheres desfrutavam de respeito e igualdade de oportunidades, ascendendo aos mais elevados cargos de estado. Sublinho que a vice-presidência da Síria era ocupada até hoje pela senhora Najah al-Attar, antiga ministra da Cultura, escritora e linguista formada em Edimburgo, facto único no mundo islâmico.
Infelizmente prevejo para a Síria, com muito pesar para mim, o despontar de uma nova Líbia, ou uma nova Somália. Os grupos que derrubaram o regime odeiam-se entre si e estavam provisoriamente reunidos sob a liderança de Al-Julani porque tinham um inimigo comum: Hafez Al-Assad. Esse inimigo deixou de existir. Agora vão começar a digladiar-se entre si.
Ou seja, vem aí mais uma interminável guerra civil, vem aí mais um estado falhado em permanente conflito, com a consequente nova onda de refugiados rumo à Europa. Oxalá me engane!…
Ora tudo isto é bom, mesmo magnífico, é para Israel, que assim acaba com o Hezbollah de vez já que enfraquece e põe em cheque o Irão, que f**a privado do corredor sírio através do qual alimentava de armas e provisões o movimento chiita libanês; é bom para os EUA (os ‘paladinos dos direitos humanos e das mulheres”) que continuarão ali, sem problemas de consciência, a fomentar a guarra e a dividir para reinar, prosseguindo tranquilamente na literal pilhagem do petróleo (barato e muito bom) sírio com a ajuda dos jiadistas. E é também bom para a Turquia do proto-sultão Erdogan, que fortalecerá a sua ocupação do Norte da Síria, fixando simultaneamente com as mais livres para ajustar contas com o irredentismo curdo e dando mais um passo rumo ao sonho de reconstituir o vasto Império Otomano…
Só os tolos e os ingénuos celebrarão este triste acontecimento… Percebem agora porque é que Israel se retirou tão prontamente do Sul do Líbano? E logo, que coincidência fantástica, exactamente no mesmo dia em que começou a investida dos jiadistas de Al-Julani contra o regime de Damasco! Que coincidência, repito!!! Israel retirou-se porque sabia que os americanos, através de Al-Julani iam dar a estocada final no Hezbollah. A ocupação do Sul do Líbano tornou-se perfeitamente desnecessária. O Hezbollah está liquidado, nunca mais voltará a ser a ameaça que foi nas últimas seis décadas. Acabou. Podem agora os sionistas voltar a concentrar-se tranquilamente em Gaza…
A Europa vai pagar isto bem caro. Tal como acontece com a guerra na Ucrânia, o principal perdedor (além da Ucrânia) é a Europa que ficou com as economias dos seus estados-membros de pantanas.
Quanto aos EUA, sempre na mó de cima, pelo menos até agora. Veremos até quando!...
Partilhado de Zé-António Pimenta de França
o ante-título é meu.
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V L R