18/12/2024
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Livros publicados pela não edições em 2024:
ASA DO AVÔ, Amândio Reis
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OS AMANTES DA AUTO-ESTRADA DO SUL, Susana Araújo
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AMENDOEIRAS BRANCAS E VERMELHAS, José António Almeida
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ONDA DESOBEDIENTE, Álvaro Seiça, capa/pinturas de Yannis Kotinopoulos
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PLANETA, José Ricardo Nunes, capa/fotografias de Pedro Bernardo
DE HUMANI CORPORIS FABRICA, José Ricardo Nunes, capa/desenhos de João Co**ha
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COMUNIDADE | COMUNICANTE, Ricardo Tiago Moura (poemas e colagens)
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ALFABETO, Inger Christensen, tradução de Ricardo Marques
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Algumas obras publicadas este ano, ainda que de formas muito distintas, ecoam uma consciência sobre o ambiente e o (des)equilíbrio ecológico.
ALFABETO, de Inger Christensen e com tradução de Ricardo Marques, é um longo poema de pendor enumerativo que mostra a fragilidade da natureza perante as ameaças humanas da guerra e da devastação.
(“as guerras existem, as ruas, o esquecimento / e a erva e os pepinos e as cabras e o tojo, / o entusiasmo existe, as guerras existem; / os galhos existem, o vento que as levanta / existe e o desenho único dos galhos / da árvore chamada carvalho existe, / da árvore chamada freixo, bétula, (…)”)
Em ONDA DESOBEDIENTE, de Álvaro Seiça e com pinturas de Yannis Kotinopoulos, aborda-se a procura do mar e da casa, o impacto da globalização e do turismo de massas nos saberes, profissões e linguagens locais (sobretudo no sotavento algarvio) e os desastres ecológicos em curso pela voracidade do capitalismo multinacional e tecnológico, entre muitos outros temas.
(“já houve passeios demorados pelos arbustos das falésias / e cegonhas antiquíssimas entornando cana no café / já houve ríspidas frases sobre o acento de um nome / já houve livros na neve carentes de um leitor / já houve danças concêntricas com suor e batuques / (…) lá em baixo naquele planeta já houve / a tua cara e a minha frente a frente salivando”)
PLANETA, de José Ricardo Nunes e com fotografias de Pedro Bernardo, traz uma visão do sujeito poético que abarca a “geografia do planeta” e convoca lugares e fenómenos naturais, mas também, ainda que de modo indirecto, imagens disfóricas ligadas à terra, aos céus ou aos oceanos. Deste modo, não se f**a por esse fio temático, reflectindo acerca da memória e do próprio tempo que passa.
(“A memória deve ser parecida / com a massa ondulante de plástico / que esconde, nas notícias, / a superfície do mar. A cada dia cresce, / não há comportamento ecológico / que a possa deter, inevitavelmente / atiramos tudo para a água.”)
Dialogando com PLANETA, foi também publicada na Colecção 32 a plaquete DE HUMANI CORPORIS FABRICA, um conjunto breve de poemas do mesmo autor, escritos numa intensidade quase visceral.
Sendo inquestionavelmente obras autónomas e distintas, afigura-se um tronco comum e alguns nexos de leitura sublinhados pelo lançamento conjunto.
Noutros livros editados em 2024 encontramos preocupações e exercícios formais bastante diversos dos já referidos, como por exemplo uma construção de narrativas em prosa a partir de elementos biográficos e/ou memórias outras, questionando papéis e limites para a ficção.
Em ASA DO AVÔ, de Amândio Reis, visitam-se alguns lugares da imaginação de uma criança. Esses momentos agregam-se para formar uma morada incerta. Ao passar entre eles, a criança descobre que não ganha nem perde sozinha a sua própria memória. Dez fotografias, mais uma, acompanham os textos em prosa. Umas são um espelho e outras são uma porta, mas todas têm um pouco das duas coisas. Talvez a história tenha começado com uma imagem extraviada, talvez com uma frase solta, entreouvida há muito tempo, noutro lugar.
OS AMANTES DA AUTO-ESTRADA DO SUL, de Susana Araújo, apresenta-nos uma auto-estrada com duas faixas de rodagem: de um lado temos poemas, versos que funcionam como pistas para um texto policial e, paralelamente, mas noutra direcção, temos a narrativa, a história de dois amantes em fuga. As pistas-poemas guiam-nos até uma terceira ficção, a de uma bizarra investigação criminal onde nos deparamos com o cadáver de Ezra Pound. Esta junção e sobreposição de estradas fala-nos do desejo, do sangue, da economia e da literatura.
Na chancela FORA DE COLECÇÃO, além do livro de Amândio Reis, foi publicado também o livro duplo COMUNIDADE | COMUNICANTE, de Ricardo Tiago Moura, com poemas e colagens em torno de dois conjuntos interligados. Em ‘Comunidade’ dez personagens apresentam-se isoladamente e na primeira pessoa. Em 'Comunicante’ os poemas são, de uma forma ou de outra, ocupados por leitores. O volume reúne poemas, maioritariamente dispersos e inéditos, dos últimos dez anos.
Ainda no âmbito do ciclo METAMORFOSES, de José António Almeida, foi editado o volume IV, intitulado AMENDOEIRAS BRANCAS E VERMELHAS, mais uma vez com capa a partir de colagens do autor.
Este título foi mencionado pelo ÍPSILON - Jornal Público como um dos 10 livros de poesia de 2024, com a seguinte nota de António Guerreiro:
“José António Almeida prossegue uma obra poética de grande fôlego, cheia de referência bíblicas e literárias, tão capaz de transfigurar uma cena do quotidiano mais próximo como a referência histórica longínqua. E assim se escreve uma poesia com um certo pendor impessoal e empenhada em reviver, não apenas no plano referencial, um discreto classicismo.” [A.G.]
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