30/10/2024
Theoricus, Practicus e Sapiens
Na minha primeira juventude tive um fascínio profundo pelo Homo Theoricus. Achava deslumbrante a capacidade de alguém ver para além do óbvio e natural e conseguir enxergar as estruturas invisíveis, mas determinantes da realidade observável, propondo uma explicação de enquadramento que permitia entender e até prever o que o real nos preparava.
À medida que amadureci fui descobrindo a superioridade do Homo Practicus, porque a sua ação aparentemente modesta e pouco ambiciosa acaba por demonstrar diariamente as limitações da teoria enquanto modo de relação com a natureza, incluindo nesta os humanos.
O Homo Praticus, com uma abordagem inteligente às dificuldades e aos problemas do dia a dia acaba por evidenciar que a beleza das teorias raramente se transmite às ações por ela enquadradas e jamais uma teoria se comparou à capacidade da prática para alterar o que é relevante para a vida.
Numa fase mais sénior da minha existência, venho descobrindo as vantagens do Homo Sapiens, criatura que sabe fazer mas pensa profundamente sobre o que faz, desenvolvendo uma habilidade sem limite para aprender um saber prático cujo resultado vai melhorando à medida que a reflexão sobre os processos, os recursos e o propósito essencial da ação vai correndo no seu tempo histórico.
O Homo Sapiens promove o autoconhecimento no próprio acto de fazer e traduz em teoria tudo o que seja relevante para outro Humano não ter de fazer o processo sozinho, circunstanciando tanto o conhecimento técnico como o conhecimento espiritual do fenómeno de aprendizagem e ensino.
Infelizmente não tenho conhecido muitos Sapiens, ultimamente, mas quando os reconheço tributo-lhes a minha admiração e o meu agradecimento. Gosto de aprender com eles.