30/01/2021
2011, 29 de Janeiro, Rifa Foz Do Arelho [Repúbica Independente da Foz do Arelho]
Há 10 anos atrás, por esta hora, o Edgar e eu (Tomás) tocávamos o nosso primeiro set de sempre. Era a estreia absoluta dos Fat&Slim, algo que tinhamos engendrado entre nós, com a simples razão de que ambos gostávamos de música e de acid jazz. Eu o Fat, ele o Slim, porque as aparências iludem e os preconceitos exageram.
Estávamos nervosos. Logo na estreia desafiámo-nos: além de ser um estilo de música desconhecido ou diferente do habitual, quisemos logo pôr música e vídeo ao mesmo tempo, mas entre nós sempre foi assim, encontrar a maneira de conseguir fazer mais do que já nos era confortável. Lá montámos o a parafernália toda, cabos e mais cabos, botões e mais botões, até acho que foi a primeira vez que passei som num bar com computador e o Traktor, coisa que o Edgar me incutiu (ele passava som com comandos da Nintendo!!), coisa estranha… E foi assim durante uma década portanto.
Lembro-me que já nesta primeira vez a nossa conversa era: “Põe aquela”, e o outro respondia “Yaaa, estava a pensar mesmo nisso, bora bora!”. Contudo, a coisa estendeu-se no horário além do que era esperado, e acabámos por ter repetir músicas, o que para nós sempre foi um crime!!
Nesse ano tocámos quase todos os meses e acabámos com um set de Passagem de Ano com o Mike Stellar no MUSICBOX LISBOAx. E durante os anos seguintes foi muita bom! No meio de ensaios e noitadas, claro, criámos mais do que uma dupla de djs, deslizámos numa grande amizade, fomos o escape um do outro, dois putos sempre prontos para uma aventura, dois irmãos.
Fomos a Paris a convite do Kiwistar e acábamos a meter umas músicas com os BartandBaker no Moulin Rouge, mas o engraçado é que só uns anos mais tarde é que vimos muitas muitas maminhas ao léu a caminho da cabine de som do Electro Swing Club de Paris (ia haver um show de burlesco a meio do set), onde o Edgar partiu uns grandes “secretos de porco preto” por cima de Entre Aspas - Criatura da Noite!
Apanhámos umas pielas (saudáveis) de Hendricks quando eu nem gostava de Gin e o Edgar nem bebia, mas era o que havia para matar a sede e olha... Despedimos o Verão repetidamente no CaisdaPraia, misturámos em cima duma carrinha de caixa aberta no Caldas Cln, gravámos para Kassetes Pirata e saimos bronzeados de Santa Cruz, treinámos para a Maratona e fugimos da Toca da Onça - Bistro. Ainda enganámos as mentes mais perversas quando produzimos o West Swing Clube, onde o único swing era mesmo só a música dos Cottas Club Jazz Band e a dança da Swing Station - acho eu... Andámos a tocar de calçãozinho e laçarote em casamentos, a comer hambúrgueres pelo meio do ensaio geral de Quincy Jones em Montreux (vergonha), a jogar à sardinha no degrau de uma porta em Barcelona (Bo? No Bo?)... Aprendemos a dançar pelo meio do Andanças, onde o Edgar, sempre pronto a fazer magia com uma lente, também pelo meio já tirava fotos para a produção… Houve uma altura que o Enzo Senfreddi nos enviava EP’s: as fotos das capas eram do Libas, niinnnja!
Pelo caminho conhecemos imensa gente boa, fizemos amigos para a vida e tivemos vida para os nossos amigos. Isto nunca passou de um hobbie, de uma brincadeira nossa. Crescemos… Passámos de ensaios a conversas profundas, a apoiar-nos nas dificuldades e nos desabafos, que por acaso aconteceram muitas vezes à frente da mesa de mistura lá de casa, ou até do clube, ou no “backstage”.
A aventura passou a ser outra. E a pior parte começou nos últimos anos desta tão linda década. O Edgar conta-me que o seu diagnóstico de leucemia confirmava-se. Começou a luta, que durante anos o Edgar superou sempre com o maior dos sorrisos e montes de piadolas e gargalhadas que o caracterizam. Mesmo no IPO a conversa não era o problema, mas sim as novidades que tinham saído deste ou daquele produtor: “Já ouviste a nova música do Parov? Já comprei” dizia-me ele, já a pensar na mistura que ia fazer quando voltássemos a tocar. A esperança foi sempre o sustento… e moveu montanhas.
…
2021, 29 de Janeiro.
Há praticamente 2 meses atrás, despedimo-nos do Edgar. A luta terminara da pior forma. As trouxas tiveram outro sabor. O Slim partiu noutra aventura. Discos novos continuam a chegar a casa dele.
[vazio]
Este vazio é a razão deste texto ser longo e com muitos pretéritos, é a razão deste jeito de despedida... É a razão pela qual os Fat&Slim não serão mais Fat&Slim ao vivo, porque o Laurel só é Laurel se houver o Hardy, o Yin tem que ter o Yang.
As boas recordações serão o que nos faz sorrir de tão bom...que foi, e que já não é mais, mas que foi tão bom por ser com quem foi, que nos irá fazer sorrir sempre, tal como ele o fazia dia sim...dia sim e dia não também.
A todos um grande agradecimento por estarem, dançarem, sorrirem… e por terem sorrido, dançado e estado presentes nestes dez anos de alegrias.
A ti Edgar, tudo, mas mesmo tudo. Sempre contigo. Allways bombating.
A música vive. Até swingas.