06/09/2024
Hoje tivemos uma edição particularmente importante na newsletter VamoLáVer. Read my lips: Macron rasgou o cordão sanitário que salvava o sistema da infeção anti-democrática da extrema-direita.
Importante, também, porque temos o primeiro cross-post, com uma tradução de um artigo publicado em The French Dispatch e na Europe Letter.
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Cá vai:
GOLPE DE TEATRO: MACRON NOMEIA UM PRIMEIRO-MINISTRO MAIS PRÓXIMO DE LE PEN QUE DELE PRÓPRIO
Num minuto Emmanuel Macron parecia indeciso entre três homens com quem manteve repetidas conversas, com a França suspensa da encenação dramática do presidente que convocara eleições para clarif**ar a política francesa. No minuto seguinte, colhendo literalmente de surpresa toda a gente (exceto, talvez, Marine Le Pen), anuncia que escolheu Michel Barnier para futuro Primeiro-Ministro de França.
Nomeado esta quinta-feira, 5 de setembro, para Matignon, o veterano de Les Républicains, partido que obteve 5,41% dos votos nas eleições legislativas, terá de navegar entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen, “a quem deve a sua nomeação”, segundo o chefe de Redação do Libération, Dov Alfon.
Ao nomear o primeiro-ministro conservador, Macron passa a depender do apoio de Marine Le Pen e do seu partido Rassemblement National para sustentar o governo. A aliança de esquerda, vencedora das eleições antecipadas de julho, prometeu apoiar um voto de não confiança em Barnier. Isto dá a Le Pen uma forte influência sobre a agenda governamental, incluindo possíveis cortes orçamentais para resolver os graves problemas de dívida da França. Esta situação põe em causa a manutenção do "cordão sanitário" que mantinha a extrema-direita afastada do poder em Paris.
Aprofundamos o assunto no artigo seguinte, depois do ponto da situação à hora de fecho desta edição:
Michel Barnier promete mudanças e deve agora formar um governo que demonstre capacidade de união e independência de Emmanuel Macron
Reuniu-se com líderes do seu partido e contactou personalidades de vários quadrantes políticos para possível participação na sua equipa
O novo chefe de governo enfrenta desafios imediatos, incluindo a apresentação de um projeto de orçamento para 2025 até 1 de outubro, num contexto de finanças públicas deficitárias
Na cerimónia de transferência de poder com Gabriel Attal em Matignon, prometeu "mudanças e ruturas", expressando o desejo de "agir mais do que falar" e "dizer a verdade" sobre "a dívida financeira e ecológica"
Mas “nada se fará sem nós”, declarou Gabriel Attal, o Primeiro Ministro de saída, após a reunião
O novo primeiro-ministro, apoiado pelo campo presidencial e pelos Republicanos, mas sem maioria na Assembleia, precisa formar um governo capaz de sobreviver a uma moção de censura, pondo fim à pior crise política desde 1958