Vidas Alternativas Portugal - Brasil

Vidas Alternativas Portugal - Brasil Desde 2013,
OBJECTO SOCIAL: Lutar por uma sociedade cosmopolita e diversif**ada, em igualdade de opo

A NOSSA HISTÓRIA

O projecto de rádio " VIDAS ALTERNATIVAS " começou há 22 anos na Rádio VOXX, com transmissão em directo. Éramos quatro inicialmente, agora somos dois, eu António Serzedelo e o Miguel Rodeia. O programa tem como lema: "UM PROGRAMA MUITO POUCO CATÓLICO, PARA TODOS OS PROTESTANTES SOCIAIS". Como dizíamos coisas fortes, por vezes incómodas a muita gente, um destacado membro do partid

o CDS comprou a rádio, fechando-a numa semana com o intuito de nos calar. O programa foi então para a Rádio Seixal que nos acolheu durante um ano, tendo passado a ser transmitido através sítio na internet:
WWW.VIDASALTERNATIVAS.ORG
Sítio este, que já sofreu três ciber-ataques três vezes por hackers fascistas e duas vezes por portugueses. António Serzedelo
+info in : https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Serzedelo

Parasitoses intestinais nas crianças: como se manifestam, como se tratamMário Beja SantosÉ provável que nunca tenha ouvi...
07/11/2024

Parasitoses intestinais nas crianças: como se manifestam, como se tratam

Mário Beja Santos

É provável que nunca tenha ouvido falar em ascaridíase, teníase, amebíase, giardíase e oxiuríases: são infeções causadas por parasitas que podem aparecer nos intestinos das crianças e dos adultos. O problema das parasitoses ainda persiste, mas já não é um problema preocupante de saúde pública. Contudo, a sua prevenção e controlo não deixa de ser importante.

A vulnerabilidade do organismo da criança leva-nos a compreender que devemos estar atentos aos sinais e sintomas destes parasitas.

É fundamental reter que estes parasitas se instalam no intestino, onde depositam os seus ovos, e se disseminam, por hipótese, através das mãos, dos brinquedos e de outros elementos de uso quotidianos que possam estar contaminados. Há sinais de alerta da manifestação das parasitoses: é o caso da comichão no ânus, por alterações como distúrbios gastrointestinais, gases e inchaço, e fadiga e perda de peso devido ao facto dos parasitas se alimentarem dos nutrientes provenientes da alimentação da criança. Os pais e encarregados de educação devem estar atentos sempre que ocorra uma destas manifestações, sendo importante a observação das fezes.

A higiene é um dado adquirido. Havendo animais domésticos, é essencial ter cuidados especiais, como desparasitar regularmente os cães ou gatos; lavar sistematicamente as mãos das crianças após terem tocado no animal; a higiene da casa é também importante, sendo recomendável a lavagem da roupa a temperaturas elevadas.

Diagnosticada a parasitose, prescreve-se um medicamento antiparasitário, recomenda-se o consumo de alimentos ricos em fibra. Atualmente há antiparasitários não sujeitos a receita médica, converse com o seu farmacêutico, ele deve disponibilizar-lhe toda a informação relativa ao uso correto do medicamento, e sobretudo conhecer outra medicação que a criança está a fazer.

Dependência digital, uma patologia das redes sociais que se impõe alertarMário Beja SantosO livro Dependência Digital, d...
07/11/2024

Dependência digital, uma patologia das redes sociais que se impõe alertar

Mário Beja Santos

O livro Dependência Digital, de Pedro Prostes da Fonseca, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2024, que se revela uma aprimorada obra de divulgação, lembra-nos que o mundo vive hoje colado aos ecrãs (computadores, tablets, iPads ou smartphones) e a exposição a estas tecnologias e seus conteúdos é suscetível de produzir dependentes digitais. Enviam-se sérias advertências para a geração Z e a todos aqueles que estão extremamente vulneráveis à dependência digital.

O primeiro alerta tem a ver com as posturas e nelas permanecer durante horas, situações que podem acarretar dores lombares, tendinites, epicondilites, isto para não falar em casos mais sérios. E fazem-se recomendações para uma boa postura, incluindo exercícios para as mãos, são indispensáveis atitudes positivas em relação à boa saúde.

Estima-se que mais de 3,5 mil milhões de pessoas jogam com regularidade videojogos, de crianças a adultos. Daí a necessidade da prevenção desde tenra idade. Uns autores citados, é Catherine L’Ecuyer, afirma que muitos erros foram cometidos desde aparecimento das tecnologias. Facilitar o uso destas em crianças em idades precoces foi um deles: “Se as crianças forem expostas a um ecrã antes dos três anos, não serão capazes de transpor uma imagem a duas dimensões para o mundo tridimensional.” E, mais adiante: “A criança é bombardeada com estímulos porque se presume que se não for estimulada não vai, digamos, aprender a andar, o que não é verdade. Maria Montessori (pedagoga italiana) dizia que fazer pela criança o que seria ela a fazer é substituir-se a ela, ou seja, é cancelá-la.” A preocupação dominante é um uso saudável das tecnologias, e sempre com o foco na saúde mental.

O autor analisa os videojogos na adolescência e levanta a questão de que é indispensável envolver o adolescente na procura de soluções, a realidade familiar é parte integrante, há que encontrar soluções para reduzir o tempo de exposição, substituindo-o por tempo de qualidade em família, por uma vida de relação com os outros, práticas de atividade física, etc.

As redes sociais virtuais, com o Facebook à frente têm forte atração de suscitar a criação de uma marca da nossa identidade pessoal, é uma imensa sala de conversa de representação no quotidiano, uma assembleia onde se pode fazer confissões, brigar, ter a ilusão da socialização digital igual ou superior à socialização presencial. Diz o autor que entre as causas mais conhecidas da dependência das redes sociais encontram-se a baixa autoestima, a insatisfação pessoal, a depressão ou hiperatividade e a falta de afeto, carência que os adolescentes tentam preencher através dos likes de forma quase compulsiva, para sentirem uma intensa sensação de satisfação.

Leitura semelhante ou afim se poderá ter para a adição aos videojogos como um comportamento para aliviar emoções complicadas, gera-se a ilusão de que aquela popularidade na internet extravasa para o mundo real. As dependências ao videojogo e às redes sociais constituem duas realidades diferentes. As redes vividas num quadro de compulsão estão associadas ao medo de se manter fora do que está a acontecer, e daí o smartphone ser considerado uma espécie de extensão do próprio corpo; não são de excluir potenciais perigos de desajustes emocionais no quadro da dependência das redes; o videojogo pode ter outra natureza: acreditar na sorte, ter a ilusão que essa mesma sorte irá premiar o êxito, sobretudo o material. Quando a dependência é intensa pode entrar-se em atividades de risco, é o caso das apostas desportivas online. Recorda o autor que o pano social de fundo favorece a pressão, vem de fora do mundo digital: “Hoje, serão, pelo menos, centenas as equipas de futebol patrocinadas por casas de apostas, e o número não para de crescer. Isto apesar de alguns países, como a França, a Itália, a Dinamarca ou a Espanha, terem promulgado legislação que proíbe a publicidade a empresas de apostas nas camisolas das equipas. Em Portugal não existe esta interdição, e o resultado é que 12 das 18 equipas da primeira divisão exibem nas suas camisolas o nome de casas de apostas que também patrocinam a Liga (Betclic) e a Taça de Portugal (Placard). O fortíssimo investimento das casas de apostas nos clubes de futebol não surge como um mero acaso. Estudos demonstram como os adeptos desportivos se sentem ligados aos patrocinadores dos seus clubes de futebol, conferindo confiança a estas marcas.”

Falando dos jogos de fortuna ou azar, acrescenta o autor que somavam, em 2022, um volume total de mais de 9 mil milhões de euros, qualquer coisa como 31 milhões de euros por dia. Portugal tem 15 operadoras de jogo online licenciadas, a previsão é que este número aumente; há cerca de 1 milhão de pessoas registadas em operadoras de jogo online licenciadas. A imaginação dos agentes do mercado é transbordante. E põem-se problemas que se prendem com a proteção do consumidor. Em 2022, a DECO e outras associações de 18 países expressaram em comunicado o perigo de manipulação e exploração dos consumidores dos “pacotes misteriosos”, as loot boxes, criadas pela indústria dos videojogos, exigiram uma regulação deste setor. A DECO considera que as loot boxes dos videojogos têm um design manipulador, fazem marketing agressivo e apresentação probabilidades enganosas: “Prejudicam gravemente os direitos e interesses dos consumidores, sobretudo dos mais vulneráveis, quer via mecanismos predatórios, quer promovendo o vício de jogo, visando sempre e somente o seu lucro.”

É intensa a procura das “caixas de recompensa” que se pode explicar como uma combinação de psicologia, design inteligente e fraqueza humana pela gratificação instantânea – é o mesmo desejo que leva as pessoas a comprar bilhetes de lotaria ou a raspadinha, tem a ver com a emoção de potencialmente se ganhar dinheiro com pouco investimento, é uma atração irresistível. O autor refere também as microtransações, um sistema polémico que aguarda enquadramento legal.

Age-se preventivamente ou procura-se a resposta adequada quando a dependência se instala. A função educativa é primordial, o apoio psicológico poderá revelar-se indispensável. Um psicólogo explica que uma das características dos indivíduos com dependência é o não reconhecimento do seu problema. “Compete ao técnico, numa ação conjunta com os pais ou os amigos de quem sofre da dependência, elaborar estratégias que conduzam a uma consciencialização e a uma mudança de estilo de vida, em função das características de personalidade e de idade de quem vive ao transtorno.” E elencam-se estratégias que podem propiciar o tratamento da dependência digital: não usar o telemóvel quando se está na companhia de outras pessoas; desativar as notificações automáticas; reduzir o número de amigos nas redes sociais; eliminar aplicativos e abandonar grupos do WhatsApp prescindíveis, etc.

Leitura muito útil que não se circunscreve aos leitores da geração Z.

Emocionante o talento deste contador de histórias da Alemanha em escombros, a reerguer-seMário Beja SantosO livro intitu...
30/10/2024

Emocionante o talento deste contador de histórias da Alemanha em escombros, a reerguer-se

Mário Beja Santos

O livro intitula-se A Hora dos Lobos, A Vida dos Alemães no Rescaldo do III Reich, Publicações Dom Quixote, 2023, o seu autor, Harald Jähner, é um consumado desenhador de águas-fortes, acaba de cair Berlim, chegou a hora dos alemães conhecerem as maiores privações e situações traumáticas, violações, assassinatos, roubos, fome; impõem-se estratégias de limpeza dos escombros, e no meio daquele cataclismo aparece um turismo, há quem ande por ali a fotografar, abrem-se caminhos, no meio de tanto desaire os vencidos procuram novas formas de mobilidade; dá-se uma migração avassaladora, há prisioneiros errantes, despatriados, libertam-se trabalhadores forçados, os alemães veem-se confrontados dentro de um mosaico de povos em que a raça ariana passou a ser um mito; e naquele descalabro, sobretudo os mais novos procuram divertir-se, ter lazeres, no meio de uma vida tão áspera, onde praticamente tudo falta; regressaram os militares vencidos, descobrem que as suas mulheres tiveram uma vida duríssima, descobriram uma outra dimensão da sua emancipação, haverá um caudal de divórcios, muita prostituição com os vencedores; o mercado negro irá prosperar, uma lógica das senhas de racionamento que põe gente rica, gente remediada e gente pobre no mesmo plano de igualdade, e vai acontecer algo de inédito, aquele mercado negro funcionará como uma escola de cidadania; aos poucos, os alemães não ser postos perante o grande desafio da recuperação, a reforma monetária em muito contribuiu; ainda não chegámos à guerra fria, os aliados ocidentais põem uma reeducação que apague o nazismo e molde a mente alemã para os valores democráticos; quem veio de Moscovo traz outros planos, vai germinar a formação de duas Alemanhas; esta é a saga da geração Carocha (Carocha era o termo usado para falar do modelo popular do Volkswagen). É esta a sumula da narrativa espantosa, escrita com imensa sensibilidade, uma lição para qualquer europeu sobre quanto custam estes horrores da guerra, agora que vivemos uma nas fronteiras da Europa, e profundamente destruidora.

A saga desta geração Carocha e dos dois estados alemães, como observa Harald Jänher no posfácio tem aspetos muito relevantes. “O facto de, apesar da recusa generalizada em lidar com o passado e apesar do regresso em massa das elites nacionais-socialistas aos seus altos cargos, ambos os estados alemães se terem conseguido purificar do nacional-socialismo é um milagre muito maior que o dito milagre económico.” E, mais adiante: “Um fator que contribuiu de forma crucial para o desfecho feliz da história do pós-guerra foi a força da retoma económica. Permitiu acomodar 12 milhões de expatriados, 10 milhões de soldados desmobilizados e, pelo menos, o mesmo número de desalojados em virtude dos bombardeamos em instalações provisórias algures, às quais seria prematura chamar pátria.” Os alemães, durante gerações, também tiveram que enfrentar a acusação de culpa coletiva. Durante décadas, o país evitou de forma sustentada ter de lidar com os milhões de assassinatos – até aos processos de Auschwitz, que duraram entre 1963 e 1968. Ter de ver os filhos transformados em acusadores arrogantes, embora muitas vezes desesperados, foi uma das consequências tardias da repressão que os alemães exerceram sobre si mesmo, após 1945.

Este livro é comovente e emocionante, permitam-me que registe alguns parágrafos que considero esplendentes, elucidativos:
“As pessoas estavam constantemente de pé, na rua, à espera de saber notícias. Os correios não funcionavam, o telefone também não, por isso a comunicação tinha de ser feita de pé. No caos carregado de medo dos meses que se sucederam à guerra, as notícias eram um bem essencial à vida- Informações sobre vivos e desaparecidos, sobre onde arranjar o quê ou qualquer coisa que se quisesse saber estavam reservadas a quem se fizesse à estrada. A situação era incerta, as rotas de fornecimento haviam sido cortadas. Deixar mensagens sobre o paradeiro de alguém e dar um sinal de vida era, por isso, de importância elementar. As pessoas estavam famintas de pistas, de novidades, deambulavam de visita em visita para contar e para escutar. Até mesmo para arranjar artigos de primeira necessidade no mercado negro era necessário percorrer caminhos inconcebivelmente longos por várias partes da cidade.”
“O momento de regresso a casa era ansiado por muitos. Nas salas de estar, os homens que combatiam na frente foram substituídos por fotografias. As crianças eram instadas a olhar regularmente para as fotografias, para que mantivessem a ideia do pai, nem que fosse na imaginação. A fotografia do pai ocupava o seu lugar no aparador como se de um altar se tratasse. Ele estaria algures na Rússia ou no Egito; em casa, as mães procuravam a suposta localização no atlas e apontavam-na com um dedo para mostrar às crianças. Tão distante do dia a dia. tornou-se uma figura que prometia uma vida melhor, a qual chegaria com o fim da guerra. Com o regresso do marido, pressuponha-se o fim para a solidão, para a sobrecarga constante que era criar os filhos sempre sozinhas e em condições extremas.”

“A solidez estava fora de moda. Tudo tinha de ser fácil de arrumar e mudar de sítio. Até os candeeiros de pé com quebra-luzes cónicos obedeciam ao mandamento da flexibilidade; os quebra-luzes assentes em braços articulados de metal móveis permitiam adaptar constantemente a intensidade da iluminação. O ideal desta nova leveza devia-se em parta também à pura necessidade: nas exíguas condições provisórias, eram amiúde necessário mudar a disposição dos móveis e aconchegá-los. Já não havia espaço para o acarinhado estilo colossal, o que agora se vendia eram móveis que se pudessem dobrar e empilhar. Isto permitia acomodar quatro pessoas em três divisões e ainda transformar o quarto de dormir em escritório.

Este modo de viver descomplicado agradava a ricos e a pobres. As delicadas e dispendiosas estantes da Knoll International renunciaram totalmente aos apoios laterais, o que lhes conferia leveza. As escrivaninhas tinham pernas finas de aço, nas quais as gavetas pareciam flutuar. Um mundo de sumptuosidade e móveis pesados em carvalho como que se esfumara e as pessoas agora queriam respirar ar puro com uma estética despreocupada.”

“Qualquer região que fosse capturada pelos Aliados era subitamente dominada pela paz. Os soldados invasores mal poderiam crer no que viam: estes alemães, que pouco tempo antes haviam combatido com uma raiva cega, mesmo já tendo perdida toda e qualquer esperança de saírem vitoriosos, assim que capitulavam, revelavam ser os cordeirinhos mais mansos do rebanho. Parecia que o fanatismo se desprendia deles como uma pele.”

De leitura obrigatória, um sério aviso sobre o que é reconstruir uma sociedade a partir do caos.

Água em Portugal? Só parte dela, era escusado um título enganadorMário Beja SantosO livro intitula-se Água em Portugal, ...
28/10/2024

Água em Portugal? Só parte dela, era escusado um título enganador

Mário Beja Santos

O livro intitula-se Água em Portugal, o seu autor é Rodrigo Proença de Oliveira, professor universitário e investigador. A sua área de interesse é a hidrologia e os recursos hídricos, o ensaio que escreve é sobre a gestão dos recursos hídricos em Portugal. O título da obra e o grafismo da capa com uma torneira doméstica ou, vamos lá, de equipamentos públicos, sugerem que o livro tem a ver com as características da água de abastecimento público. Não é isso que acontece, o autor adverte que “este ensaio analisa a gestão dos recursos hídricos em Portugal Continental”, num contexto em que “apesar de a disponibilidade per capita ser confortável, a irregularidade temporal e a assimetria espacial provocam situações de escassez”. Acresce que o autor define este seu trabalho como “ensaio para o grande público.”

O enfoque está, por conseguinte, na gestão dos recursos hídricos na perspetiva estrita da hidrologia, isto é, das quantidades e movimentação da água na terra nos seus diversos estados físico-químicos, na natureza e nas infraestruturas criadas pelo Homem para armazenamento, transporte e utilização agrícola, industrial e urbana.

Avisa-nos na introdução que a água tem características peculiares, é um recurso sujeito às leis da natureza, é igualmente um recurso económico, e clarifica que o uso da expressão gestão dos recursos hídricos procura distinguir da gestão dos serviços de águas, isto é, dos serviços de abastecimento de água para consumo humano e de saneamento das águas residuais. É de prever que a Fundação Francisco Manuel dos Santos venha a publicar outro ensaio intitulado Água em Portugal II. Ficamos depois a saber que a gestão dos recursos hídricos compreende todas as utilizações da água dentro e fora dos seus cursos, incluindo as necessidades dos ecossistemas. E o leitor recebe mais informação, esta gestão está associada à hidrologia (a ciência que estuda a distribuição, a movimentação e as propriedades físico-químicas da água nos diferentes compartimentos do sistema hidrológico natural), abrangendo também as infraestruturas hidráulicas, os instrumentos de governança e de gestão.

São caracterizados estes desafios da gestão, explanam-se conceitos como bacia hidrográfica, quais as que temos, quem as gere e entra-se numa explanação sobre o regime hidrológico de Portugal Continental, figuras e quadros não faltam; segue-se uma breve perspetiva histórica das infraestruturas e quadro legal institucional, como se fazem os aproveitamentos hidráulicos existentes, não se esquece de mencionar a Lei da Água (Lei nº58/2005) e a Lei da Titularidade dos Recursos Hídricos (Lei nº54/2005), fazem parte da transposição para o Direito Nacional da Diretiva-Quadro da Água da União Europeia, até chegarmos aos convénios luso-espanhóis sobre águas internacionais. Para a porção de leitores que pretendam este esclarecimento parcelar das políticas da água, a narrativa é rigorosa, trabalho de escola não falta.

Subsistem, porém, sinuosidades da escrita. Diz-se que “Portugal não é um país pobre em recursos hídricos”, compara-se os valores de escoamento anual (?) em Portugal (7100 m3/ano/hab) com os da França, Itália, Espanha, Grécia e Reino Unido. No mesmo sentido acrescenta-se que “250 m3/ano/hab é considerado por muitos (?) como a referência a baixo da qual o país se torna vulnerável à escassez de água.” No parágrafo seguinte acrescenta “No entanto, vários fatores determinam uma acentuada simetria espacial da disponibilidade do recurso”… com o rio Tejo a dividir o território entre um Norte húmido e um Sul seco. O leitor fica esclarecido?
Somos depois sujeitos a um curso acelerado de hidrologia e assim se chega aos usos da água, e aqui, palavra de honra, se isto é um livro de divulgação estou mesmo néscio. Para que o leitor entenda que nada tenho contra este escrito a não ser o seu despropósito de não ser destinado ao grande público, cinjo-me ao uso industrial da água, escreve-se que é estimado o volume captado em Portugal Continental para fins industriais em 387hm3/ano. A maior parte deste volume de água (79%) é satisfeito a partir de origens superficiais. As RH com maiores volumes captados são as do Tejo, Sado e Mira e Vouga, Mondego e Lis. Em 2018, o volume acrescentado bruto (VAB) das indústrias transformadoras e extrativas foi de 24,4 mil milhões de euros, correspondendo este valor quase exclusivamente às primeiras, uma vez que o peso da indústria extrativa é inferior a 2%. É interessante verificar que o volume captado para usos industriais nem sempre acompanha o VAB de cada região. A RH5 – que inclui a Região Metropolitana de Lisboa, as zonas industriais do Arco Ribeirinho Sul e o polo industrial em torno da Volkswagen Autoeuropa – é a que apresenta maior VAB e maior uso de água…” Realça-se os consumos da agricultura, a produção de energia elétrica, como se processa a proteção de ecossistemas aquáticos e ribeirinhos. Questiona-se disponibilidades de água e balanço hídrico. Quanto aos desafios do futuro, recorre-se a uma linguagem tecnocrática muito útil para não sobressaltar ninguém:

“A resposta ao desequilíbrio entre disponibilidades e necessidades de água exige uma estratégia ativa, eficaz e integrada, que assegure simultaneamente o desenvolvimento social e económico do país e a proteção e valorização dos ecossistemas naturais.

Essa estratégia deverá consubstanciar-se numa política pública coerente e consistente que, idealmente, resulte de um consenso esclarecido e alargado a toda a sociedade, mas particularmente entre aqueles cuja atividade mais se relacione com a água. No seu papel regulador de diferentes interesses que são, naturalmente, em parte antagónicos, cabe ao Estado mover essa política, assumindo responsabilidades, reconhecendo direitos e distribuindo tarefas.

Nesse sentido, é fundamental existir um sistema de governança capaz de assegurar uma utilização eficiente e sustentável dos recursos hídricos, o que exige um quadro legal e institucional adequado, infraestruturas operacionais, sistemas de monitorização, capacidade técnica e acesso a recursos financeiros.” Assim se sacode a água do capote para estar bem com gregos e troianos, não compete ao professor universitário meter as mãos na massa do alguidar, com generalidade, ambiguidades e lugares comuns não se motiva o leitor, porque isto da gestão dos recursos hídricos e da hidrologia não é assunto direto da cidadania, tenham paciência.

O que beneficiamos com uma atividade física adequada à idade e ao estado de saúdeMário Beja SantosAo que parece, este gu...
28/10/2024

O que beneficiamos com uma atividade física adequada à idade e ao estado de saúde

Mário Beja Santos

Ao que parece, este guia prático de atividade física e emagrecimento para todos, assinado pelo Dr. J. L. Themudo Barata, está esgotado, o que se lamenta, passados uns bons anos de pelo menos duas edições, o seu conteúdo é mais do que premente; é uma vasta incursão sobre a atividade física que enquadra o estilo de vida fisicamente ativo, mas com outras incidências que apontam para o desporto, não deixando de alertar para os perigos do sedentarismo; quando há disposição dos interessados em mexerem-se, há que ter em conta as várias atividades físicas compatíveis com a idade e a condição, o mesmo é dizer que há implicações e riscos nos esforços que fazemos, e em determinado momento o autor confronta-nos com a equação a atividade física, peso certo, prevenção da obesidade.

Mexer-nos com gosto e determinação, de acordo com as nossas possibilidades é um indispensável propósito para a nossa saúde e bem-estar. Temos atividade física espontânea e atividade física programada, a primeira integra-se na nossa vida diária, a segunda obedece a um esquema prévio, tem objetivos, regras de intensidade. Aos 79 anos, já não concebo o ideal olímpico da maratona, do judo ou do lançamento de peso, o que idealizo para mim é um estilo de vida fisicamente ativo e ir três vezes por semana fazer ginástica de manutenção, e não esquecer que um peso certo contribui para prevenir doenças. Não quero afrontar a minha condição física, pretendo ganhos em saúde, enquanto as crianças, os adolescentes e os homens em idade vigorosa podem encarar atividades mais empolgantes, sempre dentro da lógica das possibilidades, das necessidades e dos gostos de cada um.

A que propósito trago à consideração do leitor um título e um conteúdo de obra de difícil aquisição? É que estes propósitos que ele menciona devem fazer parte da agenda de saúde de cada um de nós: temos que saber os tipos de esforços e que efeitos provocam; os benefícios e compatibilidades das várias atividades físicas (tais como a marcha, o jogging, a natação, os desportos de raquete, etc.), a intensidade dos treinos, os equipamentos necessários. E temos, igualmente, a atividade física para nos ajudar a ter o peso certo. A obesidade (sobretudo a obesidade abdominal) tem riscos que merecem ponderação na área cardiovascular, na predisposição para as varizes, para o aumento do ácido úrico e gota, ela é o principal fator de risco de litíase biliar (cálculos ou pedras da vesícula), fonte de complicações ortopédicas e reumatológicas e até frequência de certos cancros. A resposta exige saber escolher qual e quanto à atividade física, não ignorar que há estratégias erradas de perda de peso e que nenhum de nós deve ignorar as suas limitações (caso da tensão arterial alta, dos problemas de coração, da epilepsia ou da asma ou dos problemas reumatismais). Acresce que a boa atividade física requer hábitos e comportamentos do beber e comer; e aqueles que podem ter atividade física programada devem conhecer os problemas associados, caso das lesões, os riscos cardiovasculares, a síndrome do excesso de treino.

Tudo conjugado, ciente que só aqui deixo um punhado de títulos e advertências recorra ao acompanhamento médico, esteja magro ou gordo para conhecer os problemas médicos existentes que possa interferir na sua atividade física; o acompanhamento médico pode revelar-se indispensável a par do controlo de treino para quem tem uma atividade física programada. Não se esqueça que há farmácias habilitadas a dar-lhe apoio informativo e se sofre de determinada doença crónica deve pedir ajuda à respetiva associação de doentes.

Dor ciática: pode ser dolorosa, mas tem tratamentosMário Beja SantosDá-se o nome de dor ciática a qualquer tipo de dor c...
19/10/2024

Dor ciática: pode ser dolorosa, mas tem tratamentos

Mário Beja Santos

Dá-se o nome de dor ciática a qualquer tipo de dor causada por uma irritação ou compressão do nervo ciático. É o nervo de maior dimensão do nosso corpo, estendendo-se desde a parte detrás da bacia, ao longo das duas pernas, terminando nos pés.

Habitualmente, esta dor afeta apenas um lado do corpo e ocorre, na maior parte das vezes, como resultado de uma hérnia discal, de um esporão ósseo na coluna vertebral ou do estreitamento da coluna vertebral (a chamada estenose espinhal) que comprime parte do nervo. A consequência dá por vários nomes: dor, dormência, formigueiro, fraqueza muscular na perna ou no pé afetados.

A maioria dos casos tem resolução após algumas semanas, graças a tratamentos não invasivos ou, mesmo, desaparecendo espontaneamente com o tempo. Mas atenção: os doentes com dor ciática manifestamente grave, com significativa fraqueza das pernas ou com alterações no funcionamento do intestino ou da bexiga, são potenciais candidatos ao tratamento cirúrgico. É indispensável consultar um médico quando se sente uma dor intensa e repentina na parte inferior das costas ou das pernas, ou dormência ou fraqueza muscular nos membros inferiores. É também importante ter em atenção os diferentes fatores de risco para a dor ciática, caso da idade, a obesidade (o excesso de peso aumenta a pressão sobre a coluna vertebral), a postura (transportar pesos, estar sentado ou conduzir um veículo por longos períodos de tempo, ou ter um estilo de vida sedentário) e a diabetes (já que o risco de deterioração dos nervos é superior em pessoas com diabetes).

Como se disse, a causa mais comum para a dor ciática é uma hérnia discal, que ocorre quando um dos discos que existem entre os ossos da coluna se encontra danificado existindo uma pressão sobre os nervos.

Compete ao médico os procedimentos para diagnosticar a ciática, tais como uma radiografia à coluna, análises ao sangue e urina, uma tomografia axial computorizada (TAC) ou uma ressonância magnética. Muitos dos casos de dor ciática passam após algumas semanas sem necessidade de recorrer a um tratamento específico. Há, contudo, um leque de medidas que podem ser adotadas de modo a atenuar a dor e prevenir o seu agravamento, entre elas: colocar compressas frias na área afetada enroladas numa toalha durante cerca de 20 minutos, várias vezes por dia, contribui-se para reduzir o inchaço e aliviar a dor; colocar compressas quentes (embora seja recomendada a utilização de gelo nos primeiros dias, a seguir aconselha-se a aplicação de calor e se a dor persistir devem alternar-se os tratamentos com gelo e com calor; a toma de analgésicos orais para alivio da dor; praticar atividade física não demasiado exigente (caminhar) de modo a fortalecer os músculos; realizar alongamentos suaves da região lombar.

Não há nada de bizarro em dizer que a dor ciática tem prevenção, há comportamentos que podem ser adotados para ajudar a prevenir lesões: praticar atividade física com regularidade; manter uma boa postura; prestar atenção aos movimentos do corpo (será o caso de levantar objetos pesados de maneira correta); adotar um regime alimentar apropriado.

Como me fiz um homem inteiro, feito de todos os homens e que vale por todos elesMário Beja SantosAntes de se tornar no P...
17/10/2024

Como me fiz um homem inteiro, feito de todos os homens e que vale por todos eles

Mário Beja Santos

Antes de se tornar no Papa do existencialismo, em grande romancista e dramaturgo, teatrólogo brilhante, ativista de grandes causas, Jean-Paul Sartre foi criança, teve uma infância marcante, viveu num ambiente familiar tratado com desvelo e atribui àquela atmosfera de livros o gosto em tornar as palavras que leu na sua própria escrita. As Palavras, romance autobiográfico dado à estampa poucos meses antes de lhe ser atribuído o Prémio Nobel da Literatura, é esse estupendo exercício.

Escavando a memória, libertando recordações, vai dar-nos essencialmente o que foi a sua infância no meio dos livros, no recato do meio familiar e como a leitura lhe definiu o modo de escrever, na pessoa em que se transformou. Dirá mesmo que “comecei a minha vida como provavelmente a irei terminar: no meio dos livros”. E adianta: “No escritório do meu avô, havia-os por toda a parte; era proibido limpar-lhes o pó, exceto uma vez por ano. Ainda não sabia ler e já reverenciava essas pedras erigidas; direitas ou inclinadas, robustas como tijolos nas estantes da biblioteca ou nobremente espaçadas em áleas de menires, sentia que a prosperidade da família dependia delas. Tocava-lhes às escondidas para honrar as minhas mãos com a sua poeira, mas não sabia bem o que fazer delas e todos os dias assistia a cerimónias cujo sentido me escapava: o meu avô – normalmente tão desajeitado que a minha mãe lhe abotoava as luvas – manuseava esses objetos culturais com uma destreza de oficiante. Vi-o mil vezes levantar com um ar ausente, dar a volta à mesa, atravessar a divisão em duas passadas, pegar num volume sem hesitar, sem se dar tempo de o escolher, folheá-lo ao voltar para a poltrona, com um movimento combinado do polegar e do indicador.”

Muito se fala da Alsácia Lorena, o avô domina fluentemente o alemão e o francês. A biblioteca é volumosa, a vida social era fluente, como Sartre observa: “Frequentávamos pessoas ponderadas que falavam alto e com clareza, baseavam as suas certezas em princípios sãos, na sageza das nações, e não desdenhavam distinguir-se do comum apenas por um certo maneirismo da alma, ao qual eu estava perfeitamente habituado. As visitas despediam-se, eu ficava sozinho, evadia-me desse cemitério banal, ia juntar-me à vida, à loucura dos livros. Bastava-me abrir um para nele redescobrir esse pensamento inumano, inquieto, cujas pompas e trevas ultrapassavam o meu entendimento, que saltava de ideia em ideia, cem vezes por página, e eu deixava-o seguir, atordoado, perdido.”

Para gozar na plenitude As Palavras, de Jean-Paul Sartre, Livros do Brasil, 2024, é preciso aceitar este passeio na memória até uma biblioteca do início do século XX, dela extrair a formação de uma mentalidade, a descoberta de que foi nesta infusão de leituras que nasceu o prazer da escrita. O menino Sartre é puxado pela mãe e pelo avô, da leitura que hoje se designa por infato-juvenil, um autêntico mundo de aventuras, a estudar em casa é depois inscrito no liceu onde se descobre que era demasiado avançado para a sua idade. Vai olhando à volta os adultos da sua família, confessa que e o seu corpo formavam um estranho casal, é educado no catolicismo até que a fé, um dia, se esvaiu. Teve as suas doenças e foi mimado nas suas convalescenças. Deus o angustia, e Dele passa a descrer: “Se Deus me livrasse das aflições, eu teria sido uma obra-prima assinada; seguro da minha parte no concerto universal, teria aguardado pacientemente que Ele me revelasse os seus desígnios e a minha necessidade. Eu pressentia a religião, aguardava-a, era o remédio. Se me a tivessem recusado, eu próprio a teria inventado. Que não ma recusassem: educado na fé católica, apreendi que o Todo-Poderoso me criara para a Sua glória: era mais do que aquilo que eu ousaria sonhar.”

Educado nesta atmosfera de gente cumpridora dos preceitos culturais burgueses, vai-nos deixando registos esplendentes desta sociedade antes da Primeira Guerra Mundial. O teatro, por exemplo:

“Os burgueses do século passado nunca se esqueceram do seu primeiro serão no teatro e os seus escritores encarregaram-se de nos relatar as circunstâncias. Quando o pano subiu, as crianças julgaram-se na corte. Os ouros e as púrpuras, as luzes, as pinturas, a ênfase e os artifícios punham algo de sagrado até no crime; no palco, viram ressuscitar a nobreza que os seus avós haviam assassinado. Nos entreatos, a estratificação das galerias oferecia-lhes a imagem da sociedade; foram-lhes mostrados, nos camarotes, ombros nus e nobres vivos.“

Aprendeu a ler, sente-se um beneficiário do amor familiar, é nisto que, surdamente, o vai minando a epopeia da escrita. A segunda parte de As Palavras é em si própria a génese da sua aventura na escrita, ele vai descrevendo as sinuosidades em todas estas tentativas dos seus queridos juvenis, a mãe orgulhosa com estes primeiros escritos, o avô mais cético. Em retrospetiva, faz a sua confissão:

“Há alguns anos, fizeram-me notar as personagens das minhas peças e dos meus romances tomam as suas decisões bruscamente e em crise, que basta um instante, por exemplo, para que o Orestes das Moscas conclua a sua conversão. Sem dúvida: é que os faço à minha imagem; provavelmente, não tal como sou, mas tal como quis ser (…) À falta de me amar, fugi para a frente; resultado: amo-me ainda menos, essa inexorável progressão desqualifica-me incessantemente aos meus olhos; ontem, agi mal, visto que era ontem, e hoje pressinto o julgamento severo que farei incidir sobre mim amanhã.”

E dá-nos uma despedida que é a sua assumida condição humana posta em palavras:

“Durante muito tempo, considerei a pena como uma espada, agora conheço a nossa impotência. Não importa: faço, farei livros; é preciso que o faça; servem para alguma coisa, apesar de tudo. A cultura não salva nada nem ninguém, não justifica. Mas é um produto do homem: este projeta-se nela, reconhece-se nela; apenas esse espelho crítico lhe oferece a sua imagem (…) Lancei-me por inteiro à obra para me salvar por inteiro. Se arrumo a impossível Salvação no armazém, que resta? Um homem inteiro, feito de todos os homens que vale por todos eles, e por quem valem todos os outros.”

Um monumento autobiográfico no topo da grandeza da escrita.

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