12/08/2023
A mãe do bebê n°5, era assim que me chamavam na UTI neonatal. Quando um bebê nascia e tinha poucas chances de sobreviver, os enfermeiros e médicos se referiam a ele pelo número da incubadora.
E esses foram os piores dias da minha vida, além do sofrimento, das incertezas. Sofri assédio moral por parte da equipe de profissionais. Foram momentos de muita dor.
Planejei a gravidez, fiz meu plano de parto e optei pelo normal e deixei explícito que o obstetra teria autonomia em escolher outra forma parto para garantir as nossas vidas. Contratei 2 obstetras para que fosse bem assistida.
Com 39+5 fomos para maternidade. O trabalho de parto transcorreu dentro do esperado. Porém, no período expulsivo, a bolsa rompeu com mecônio e o bebê teve ser retirado por fórceps. Começou sua luta pela sobrevivência. Apgar 3.5, Hipoxia, Hipertensão pulmonar, infecção, baixa saturação. As chances eram mínimas, eu via isso diariamente nos olhos dos médicos e enfermeiros.
No 20° dia eu já estava exausta, não tive resguardo, mal conseguia me alimentar, só não chorava nos períodos que me permitiam ficar na UTI. Eu precisava estar forte ali. Quando estava perdendo minhas esperanças rezei e pedi a Deus que não tirasse meu bebê de mim, que eu a aceitaria qualquer forma, com qualquer deficiência, que minha vida só teria sentido se continuasse com ela.
No dia seguinte, ao voltar para a UTI, a enfermeira disse:
Venha ver mamãe, como a Marjorie acordou bem!
A minha filha estava reagindo e, pela primeira, vez pude segurá-la nos meus braços.
Foram 45 dias de internação. Quando teve alta, os médicos disseram que a sua recuperação tinha sido impressionante, mas que teria sequelas.
Hoje, aos 7 anos, Marjorie continua superando todos os prognósticos. Teve seu desenvolvimento psicomotor dentro dos marcos e para quem teve a sentença de que não iria andar, hoje dá cambalhotas. Ela foi diagnosticada com autismo nível 1.
Amo minha filha incondicionalmente e a maternidade atípica deu um novo sentido à minha vida. A luta pela minha filha é por todas as pessoas com deficiência da minha cidade. Quero que ela viva em uma sociedade menos capacitista e mais inclusiva.
✍️🏼 Marijane Botelho