02/03/2022
Foi preciso que um país que busca segurança e autonomia para seu povo, forjado em meio às maiores barbaridades como o Holodomor (o holocausto soviético contra ucranianos), para que a União Europeia e os Estados Unidos recobrassem a consciência da importância da defesa do mundo livre, da democracia liberal, da soberania, independência e autodeterminação dos povos, e das livres trocas entre cidadãos e empresas, evidenciando o mal que as oligarcas e plutocracias fazem ao mercado e ao mundo.
Durante as últimas décadas, especialmente após o fim da Guerra Fria, o Ocidente se esqueceu que a liberdade e a democracia são bens tão caros e em permanente risco, e negligenciou as ameaças externas — isso quando seus governos não foram os primeiros a solapar o direito de escolha de seus cidadãos. Líderes europeus e americanos puxaram a frente como leões ferozes na promoção da agenda da esquerda identitária, progressistas, ecossocialista e autoritária, que enfraquece valores nacionais e comunitários baseados no bem comum. Ao mesmo tempo, esses mesmos governantes fechavam os olhos e passavam pano para autocracias e ditaduras abertamente opressivas como Rússia, China e monarquias absolutistas do Oriente Médio, violadoras da liberdade e dos direitos humanos.
Se tem algo que a invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin é que precisamos de um capitalismo de princípios e valores elevados, e não deixar que se use o capital para subverter esses valores, o que oligarcas russos e comunistas chineses fazem dia após dia.
Quando falo de capitalismo de valores elevados e genuíno, me refiro a comunidades globais que possam se desenvolver politica, econômica e socialmente a partir do livre mercado de produtos, serviços, ideias e ideais, com trocas juntas e benéficas entre cidadãos e empresas, e não num capitalismo de compadrio entre Estado e oligarcas, onde a corrupção e a autocracia ditam as dinâmicas que só beneficiam o governo, seus membros e poucos bilionários amigos, em sufoco aos seus cidadãos, tornados reféns direta ou indiretamente. Em complemento, os problemas decorrentes desse capitalismo de compadrio é justamente utilizado pela esquerda desonesta como crítica ao capitalismo e à liberdade econômica.
Durante muitos anos, democracias liberais do Ocidente esqueceram isso para fazer negócios com Estados autoritários como Rússia e China, dando legitimidade, poder e influência na arena global a gente como o ditador saudosista do Império Russo Vladimir Putin e ao comunista chinês Xi Jinping. Percebendo a fraqueza de um Ocidente em crise existencial, com a esquerda enfraquecendo por dentro os princípios da liberdade, autocratas que não fazem outra coisa se não jogar contra a democracia liberal maquiaram suas condutas autoritárias com mercantilismo imperialista, oligarca, mafioso e comunista, aumentando sua participação ao redor do mundo, obrigando países a fazer vista grossa ao expansionismo militar de Rússia e China.
Hoje vivemos um ponto de inflexão. Foi necessário que o horror da guerra nos abatesse para que o Ocidente se unisse em torno de si mesmo e de princípios basilares como liberdade, soberania e autodeterminação. É um marco que encerra o ciclo pós-Guerra Fria. Espero que com mais liberdade, em uma sociedade de mercado que crie valor através da cooperação, da produção e do comércio.
FOTO: Wolfgang Schwan/Agência Anadolu via Getty Images