09/06/2022
Por Ana Heloisa
A DEPRESSÃO SILENCIOSA QUE ACOMETE CADA VEZ MAIS JOVENS NA ATUALIDADE
Metade dos problemas de saúde mental inicia-se aos 14 anos, mas a maioria dos casos não é detectada ou tratada
As pessoas estão adoecendo silenciosamente no mundo apesar dos esforços de levantar discussões sobre a questão mental em sociedade. Um dos tópicos acerca disso que não recebe atenção o suficiente justamente por ser um assunto considerado delicado – mas necessário – é a depressão durante o período da adolescência.
De acordo com um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), 36% dos jovens no Brasil apresentaram sintomas de depressão durante a pandemia, um período de longa reclusão social e que teve o seu pior efeito de patologias psíquicas em indivíduos entre 12 e 18 anos. Esse número ressalta a necessidade de debates sobre uma doença que se tornou um grande problema de saúde pública.
A adolescência é um período turbulento e cheio de mudanças na vida de uma pessoa. Há diversas variações de humor e modif**ações no corpo por causa da puberdade, além das pressões sociais que começam a surgir em consequência da passagem para a vida adulta; e para alguns jovens este pode ser um momento de transição muito difícil.
Os principais sintomas são semelhantes aos que acometem os adultos, como falta de motivação para realizar tarefas do dia a dia, isolamentos de atividades sociais, não formular mais planos para o futuro, baixa autoestima, entre diversos outros indícios que variam de indivíduo para indivíduo.
Segundo a psicóloga Aline Lima, formada pela Universidade de Sorocaba (Uniso) que atualmente realiza atendimentos no Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (Caps) na cidade de Sorocaba, é necessário f**ar atento aos sinais desses sintomas, principalmente no ambiente escolar, pois a doença altera a forma e velocidade de raciocínio, o que consequentemente faz o rendimento escolar cair. Além disso, as faltas nas aulas é outro fator que deve-se ter atenção.
No geral, existe uma perda de interesse em ações que anteriormente gostava, não demonstrando somente melancolia mas também irritabilidade. A depressão não é um sentimento, mas é caracterizada como um transtorno.
As causas podem variar entre fatores internos: genética, desenvolvimento de hormônios, doenças crônicas, assim como fatores externos relacionados com questões sociais, emocionais e eventos traumáticos.
Em entrevista com a adolescente Beatriz (nome fictício) de 16 anos, para ela vários motivos podem levar a uma pessoa da sua faixa etária a f**ar deprimida, “principalmente as redes sociais, por ser uma “Terra de Ninguém” onde tem muita negatividade e exposição excessiva”, ela também cita os padrões de beleza que são propagados nesse meio como algo que também contribui para o desenvolvimento de depressão.
“Eu como mulher sinto-me triste em relação a isso. Uma vez comentaram em uma foto pessoal minha que eu estava “fora dos padrões” por ser gordinha. Isso me fez f**ar muito mal e eu comecei a comer menos para emagrecer e conseguir entrar nesse padrão”, relata a jovem. O estado depressivo pode levar a outras patologias nessa idade, como transtornos alimentares para se encaixar socialmente, além do sentimento profundo de baixa autoestima.
Para Fernandez (nome fictício), 15, estudante da rede de ensino pública, “todo dia tem muitos comportamentos tóxicos e de ódio nas redes sociais, isso só aumenta as chances de uma pessoa desenvolver depressão”. O adolescente declara que as redes sociais acentuam sentimentos de alguém que já possui indícios da doença.
Quanto a casos de automutilação e pensamentos suicidas, a psicóloga Aline Lima ressalta a necessidade de dar importância ao que o jovem está pensando e sentindo, e escutar ativamente o que o adolescente está dizendo, “não deve-se negligenciar e generalizar, pois pode piorar a situação. Além disso, é necessário buscar ajuda profissional muito rapidamente caso o indivíduo se encontre neste estado.”
Os adolescentes passam a maior parte do tempo na escola, lugar no qual mais socializam. Conforme Aline, “as redes de ensino deveriam trazer esse assunto a escola, pois ainda é considerado um tabu na sociedade, então trazer isso à tona poderia ajudar a identif**ar melhor e não deixar o adolescente sofrer sozinho”, ela também destaca como seria importante inserir uma rede apoio dentro das escolas, para oferecer suporte e levantar debates.
Segundo os jovens entrevistados, o tema deveria ser mais discutido e normalizado, principalmente pelos pais e responsáveis legais.
O jovem pode levar consequências para a vida adulta, caso esse transtorno não seja tratado. A psicóloga cita como limitações as futuras opções de tratamento, qualidade de vida do paciente, na área profissional e na socialização, além de aspectos biológicos como o desequilíbrio dos neurotransmissores.
Na região de Sorocaba existem locais que fornecem auxílio a jovens que estejam passando por uma situação de sofrimento.
A Uniso oferece atendimento psicológico de forma gratuita para toda a população. A Clínica de Psicologia é o local onde os alunos fazem o estágio clínico, realizado pelos estudantes do último ano do curso e supervisionado pelos professores.
Para informações sobre os horários e datas de assistência, ligar para o telefone (15) 2101-7050.
Existe o Centro de Valorização da Vida (CVV), que também realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, com atendentes de forma voluntária e gratuita para toda a população que necessitam conversar. O acolhimento é sob total sigilo, com as opções por meio de telefone, e-mail ou chat que funcionam 24 horas todos os dias.
O número de atendimento é 188 para todo o país, e o acesso ao site é pelo endereço www.cvv.org.br.