Semema

23/12/2024

Oração: Santo milagre da normalidade

15/12/2024

Soneto das Decisões Precisas

É preciso berrar o urro que acorde.
Ganhar, no rasgo ao dia de seu grito,
O vigor para o que vai ser vivido,
Conforme calhe ser a nossa sorte.

É preciso saber calar, mais tarde.
Ganhar, na voz cortante do silêncio,
a eloquência de seu não-som esplêndido,
esse nada com ares de verdade.

É preciso, ainda, mais do que tudo,
Aprender a distinguir os seus usos,
Quando seja o caso de cada uma,

Pois que não há nada pior, em suma,
Que o gritar em vão com que se acostuma,
Ou o calar que deixa a todos confusos.

Adriano Dias
Composição híbrida do americano James Petrucci (http://www.jamespetrucci.com/)

06/12/2024

Sigo
O melhor possível
Os trilhos dos caminhos ao meu dispor
Com o quanto melhor consigo
Governar os dispositivos de meu maquinário interior
Administrando juízos e argumentos
Entre os assaltos dos instintos
E os boicotes dos desejos

Mas se estas rédeas
Diárias
Ardem-me
Demais
À palma
Das mãos
Da alma
Ela
Simplesmente
As larga

Adriano Dias
Ilustração do sul-coreano JaeHoon Choi

https://www.behance.net/plato_o

04/12/2024

Tenho respeito aos protocolos,
que acho lindo tanta p***a
dando tons menos animalescos
aos gestos que descontrolo,

Mas, no seu caso, dispenso o talher,
que você é de comer com as mãos, mulher!

Adriano Dias
Ilustração do uruguaio Graf n'Arq

03/12/2024

Lembra a dor na cabeça no dia daquela escolha maldita?
Lembra o arrependimento após a briga,
Ocorrida quando o corpo pedia cama, mas não dormia?
Lembra a alegria das decisões todas tomadas depois de enchida ou esvaziada a barriga, ou da noite bem dormida?
Lembra a graça de cada pensamento depois do gozo, como tudo concerta conosco e faz sentido?
É que a gente pensa com o corpo.
Pena que se esquece disso...

Adriano Dias
Desenho dogrego Nicolas Skorupka
[https://www.behance.net/Nicolas-Skorupka]

25/11/2024

Em mim não finca raízes verdade alguma

24/11/2024

"No princípio só havia heróis
todos eles morrendo
um a um
peito aberto
cara à tapa
boquiabertos
heroicamente...

Então sobrevieram os sábios,
que, sábios,
migraram em bando
quando surgiram os covardes,
mais resistentes.
Estes prosperaram gerações
contendo focos fortuitos de sabedoria e heroísmo.
Permitiram entre si,
sem consenso,
o florescimento de poetas
contanto que os louvassem,
criativos que são,
conferindo heroísmo e sabedoria
à sua frágil civilização..."

Adriano Dias
Ilustração sobre foto de Corinne Vionnet (http://www.corinnevionnet.com/)

12/11/2024

Na encruzilhada da escolha

É como a encruzilhada,
Em cuja escolha residirá o imperativo de sair daqui,
onde estou tão bem,
Mas as setas berram seus destinos: Vá!
Não quero.
Quero ficar mais um pouco,
Observar o trânsito dos que escolhem,
seus seguires:
- Um resoluto,
passo firme e queixo alto,
exibirá ao mundo o brilho de seu caminho tão certo,
destino que todos invejarão;
- Há quem não,
titubeia e resolve movido por um empurrão de quem vem atrás,
trôpego na intuição de ter errado já,
mas vai,
relanceando constantes olhares para trás;
- E quem apenas continua,
feito nem houvesse escolha – linha reta.

Lugar tão bom,
embora tanta trombada e toda gente nos implicando rumar algo que seja,
Ou convencendo o seu norte, apontando a inquestionável bússola.

Estranho não ver em ninguém o descanso desse pouso,
Tão confortavelmente solitário...

Adriano Dias
Aquarela da ucraniana Knysh Ksenya

(https://www.behance.ne
t/knyshk326656d)

30/10/2024

Amanhã estarei em uma entrevista na Tv Unesp sobre a redação Enem e Vunesp.
Também vou transmitir do meu perfil do Instagram.
Da uma zoiada lá 😃
Instagram:
Semema

22/10/2024

Tanto quanto toda tensa provocação prévia,
Nossa disputa em pleno público
Como prenúncio da busca pelos nossos pelos púbicos,
Pelas brechas na carne bruta

Melhor que os meandros melados demais,
Mesmificando nossas massas corporais
Na masmorra macia e molhada dos lençóis

Talvez só a paz após

Adriano Dias
Aquarela de Valeria Lemeshevskaya

(https://www.behance.net/12l1212)

21/10/2024

Declamação e diálogo sobre uma poesia de Adriano Dias:
Há uma mitologia que nos permeia,
esconde-se amorfa à espera.
Infinitas histórias inteiras
que ainda nos existirão,
existindo, no entanto,
enquanto aguardam a invenção.
Basta olhar de esguelha,
daquele jeito que embaça a visão,
ao redor das árvores mais velhas...

Foi pelas frestas da realidade, estreitas,
que vi o reino das histórias ainda não feitas:

o Rei Fagulha
com seu manto incandescente,
feito de lava que borbulha,
fugindo assustadamente
das labaredas que, ele jura,
perseguem-no sempre...

a Raposa de Alcaçuz,
com seus trinta filhotes azuis
que a devoram todos os dias,
sorrindo entre lágrimas de luz
ao servir-se de alimento às crias...

as Doze Fadas Lúbricas,
vestidas das carnes de suas vítimas,
repulsivamente irresistíveis,
delas tive que desviar meus olhos sensíveis...

a Nuvem de Almas de Vidro,
pairando sombria sobre os telhados coloridos
de um vilarejo antigo
que nem desconfia seu trágico destino...

as Gêmeas Paradoxo,
impossivelmente juntas,
com seus gestos opostos...

ainda existe um plano, uma morada
neste reino tão fecundo,
com seres cuja referência ao nosso mundo
nem sequer foi criada,
dificultando sua concepção,
Clorbúsfagos, Janjolépidos, ali estão.
Outros de origem tão tétrica
que seus nomes exigem demais
para nossa limitada fonética
de consoantes e vogais:
GHGTTR77, ()*KKOI₢, ÇRUUU #.
Estes realizam feitos incompreensíveis
para o atual estágio de nossa civilização,
existindo na paciente espera de que serão,
para os futuros seres humanos,
à luz de um clarão,
reveladores da verdade guardada pelos anos,
universal, infinita, sempre ali,
"como nunca ninguém disse isso antes?"
Eu sei porque os vi,
os pequenos e os gigantes,
pela fresta estreita da realidade concreta,
embaçando meus olhos de poeta.

06/10/2024

MANIFESTO: Sabote a tragédia!

Convergem
Centrípetas
As vozes individuais
Pelos novos canais de veiculação
Cujos dutos de dados quase se entopem
Mas escoam todos os gritos ao vórtice comum
Revelando finalmente o que tem a dizer a Voz Humana
Por mais que corrigida influenciada submetida cooptada coagida
Já fomos alertados pelos algoritmos do Google do monstro que virá
Esfregando em nosso nariz a engrenagem motriz do mundo já no ar
Implacável verbo-açoite carregado de ódios e farsas e fel
Exceto, apenas, pelos imprevistos que não prevê
Pois possuímos esse trunfo ainda na manga
Se formos redimidos enfim
Será ironicamente
Falha humana
Sabotando o programa.

Adriano Dias
Ilustração do italiano Andrea Ucini

https://www.behance.net/uciniandrec1fd

27/09/2024

Em certos momentos, não quer ser ela:
nem desejável nem estável, só alheia,
agir como as plantas agem,
misturar-se à paisagem.

Nunca é tão bela!

Adriano Dias
Ilustração da neozelandesa Anderson

24/09/2024

Vídeo novo no canal do Youtube - "Queria uma janela em tua cabeça"

Declamação e diálogo sobre o poema a seguir:Queria uma janela em tua cabeça,a olhar feito novela o que tu pensas.Ver com tua interna face risonhaa paisagem d...

23/09/2024

Há tanta mais força na negação,
e a quero toda a meu favor
ao máximo que pretendo transpor,
que, frenético, ansioso, intenso, todo:

Amo como quem odeia;
Espero como quem se atropela;
Aceito como quem nega;
Dou como quem inveja;
Sorrio como quem chora;
Permito como quem luta;
Acaricio como quem esmurra;
Calo como quem urra;
Fico como quem foge.

Sou urgente todo momento,
Pois vivo como quem está morrendo!

Adriano Dias
Ilustração do sueco Stvensson Ghurgar (https://www.behance.net/stvenssonsgur)

17/09/2024

"Posso fácil viver sem você,
que eu amo!
Como diria...
Todos os requisitos seriam cumpridos,
ano a ano,
que permitissem caracterizar como vida normal
o que faria de meus dias.
Em termos lógicos você não faz sentido:
Já possuo em mim o suficiente
para fechar a conta matemática.
Sua parcela pertence ao que excede, transcende,
Mora com descalabros e vivências catárticas,
Voo fora da asa,
Passo além da escada,
Como a sensação de uma Catedral milenar:
Notre Dame!
Algo como o que um Deus pode proporcionar:
Não sei o nome, como se chame,
Pertence ao reino da arte,
Mais contundente que qualquer crença.

Você não faz parte;
Faz a diferença!"

Adriano Dias
Foto da francesa Chalard Maud (http://chalard-maud.tumblr.com/)

17/09/2024

Há dias que transbordam,
arrancados do calendário com raiz e tudo,
a reger os acontecimentos como fina composição barroca

Mesmo que se diga do Tempo ser apenas convenção,
e a Tealidade um projeto particular,
cada um subjetivo em seu teatro,
e o faça com instrumentos que comprovarão,
ou filosofia e fórmula das ciências,

certas catarses esculhambam os deuses da coerência
num espalhamento de júbilo id**ta para toda parte,
que a realidade vira arte,
assustando risos aos amargos, mendigos, moribundos,
como nunca antes,
na mesma proporção dos aniversariantes.

Como um descanso mágico na programação,
feriado matemático
em que a alegria campeia em horda:

Hoje é um dia que transborda!

Adriano Dias
Fotomontagem de Sammy SLabbinck (http://www.sammyslabbinck.be/)

16/09/2024

PLENITUDE

Brilha teu Brilho
Chora teu Choro
Grita teu Grito
Voa teu Voo
Pousa em teu Pouso
Goza teu Gozo
Dorme teu Sono
Sonha teu Sonho
Ama teu Amor
Deseja teu Desejo
Vive tua Vida
Sê
e
Morre tua Morte!

Adriano Dias
Colagem do catalão Fran Rodríguez (http://www.lacabezaenlasnubes.bigcartel.com/)