12/04/2024
Nove indivíduos passaram com sucesso pelo processo de readaptação e já estão no único habitat natural da espécie, ameaçada, no mundo
A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) participou da soltura de um grupo formado por nove araras-azuis-de-lear (Anodorhynchus leari), efetivada no dia 19 de março, com sucesso, no único habitat natural da espécie no mundo, em uma região de caatinga no nordeste da Bahia. Seis indivíduos estavam sob cuidados da Semil, por meio do Núcleo de Conservação da Fauna Silvestre (CECFau), no município de Araçoiaba da Serra (SP), enquanto as demais estavam sob responsabilidade do Zoológico de São Paulo (Zoo SP).
O início do processo para soltura começou com a realização de uma série de exames de saúde das aves e, posteriormente, com todo o preparo e suporte para o envio para a Bahia, em 11 de dezembro de 2023, dos seis indivíduos da espécie – sendo quatro fêmeas e dois machos; desses, cinco são filhotes nascidos no CECFau. Após mais de três meses de adaptação e treinamento na ASAS, no dia 19 de março de 2024, começou o processo da chamada soltura branda (quando os animais são soltos, mas permanecem continuamente monitorados, com suplementação alimentar e podendo pernoitar no recinto, caso queiram), que foi concluído com sucesso. As araras-azuis-de-lear foram encaminhadas para a Área de Soltura de Animais Silvestres (ASAS) Boqueirão da Onça, localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) Boqueirão da Onça, na Bahia, onde ficam sob responsabilidade do Grupo de Pesquisa e Conservação da arara-azul-de-lear. Vale salientar que todas as aves aprenderam a reconhecer e a consumir o coco do Licuri, espécie de palmeira típica da região, resistente ao clima árido. As aves, desde cedo, apresentaram bom desempenho em voo.
“Essa é uma grande conquista para a Semil, que busca se tornar referência na conservação de espécies ameaçadas da nossa fauna”, comemora a coordenadora de Fauna Silvestre da pasta, Patrícia Locosque Ramos. “Além das pesquisas com uma espécie ainda pouco estudada, o CECFau contribui com o reforço demográfico e genético para ela na natureza. Entender a importância desses animais para nossa biodiversidade é primordial, e por isso iremos atuar cada vez mais na conservação das araras-azul-de-lear”, acrescenta.
Vale lembrar que a Semil, por meio do CECFau, integra o Programa de Manejo Populacional da Arara-azul-de-lear desde 2015, com o objetivo de auxiliar na conservação da espécie por meio de ações como as de projetos de conservação integrada. Desde 2019, 22 filhotes nasceram no núcleo e, ao todo, 10 indivíduos já foram enviados para soltura na região do Parque Nacional do Boqueirão da Onça, na Bahia.
O projeto de reintrodução é complexo, minucioso e envolve vários atores. O papel da Semil é o de obter a reprodução em cativeiro e enviar os indivíduos para a área de soltura, onde ficam meses em treinamento conduzido pela equipe específica do programa. “As solturas são feitas em épocas específicas do ano e dependem de alguns fatores, como disponibilidade de aves, oferta de cocos de licuri na natureza (principal item alimentar da espécie), e recurso financeiro para manutenção da equipe em campo para o processo de treinamento, aquisição de equipamentos e posterior monitoramento continuado. As solturas tiveram início em 2019, e são financiadas pela Enel Green Power Brasil. Este projeto é desenvolvido com o apoio de mais de 20 instituições parceiras, dentre órgãos ambientais do governo brasileiro, instituições nacionais e internacionais mantenedoras das aves e que reproduzem a espécie, e outras instituições de pesquisa; além do apoio essencial da comunidade local”, explica Erica Pacífico, pesquisadora coordenadora do Grupo de Pesquisa e Conservação da Arara-azul-de-lear.
Sobre o trabalho de São Paulo para a conservação da arara-azul-de-lear
O governo de São Paulo recebeu o primeiro exemplar da espécie no ano de 1986, nas instalações da Fundação Zoológico de São Paulo, onde permaneceu por 10 anos. A partir daí novos indivíduos foram recebidos oriundos do tráfico, em sua grande maioria, e passaram a ser alojados em recintos fora da exposição ao público. Em 13 de abril de 2015, após longos esforços, foi registrado o primeiro nascimento de arara-azul-de-lear sob cuidados humanos no Brasil. O filhote foi batizado como “Teobaldo”. Especificamente no CECFau, os primeiros exemplares chegaram em 2015, quando houve a continuidade no trabalho de pesquisa, manejo e reprodução da espécie, que resultou no primeiro nascimento em 2018. Desde então, já são 22 filhotes registrados.
Sobre a arara-azul-de-lear
A arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) é uma ave endêmica brasileira que costuma viver em família, bando ou grupos na região da caatinga, no nordeste do estado da Bahia. As araras utilizam os paredões rochosos de arenito-calcário, que são cheios de fendas, como ninhos e também como dormitório. São consideradas algumas das aves mais inteligentes, e possuem certa fidelidade aos locais de alimentação e reprodução, sendo difícil encontrá-las sozinhas em vida livre. É um pouco menor do que a arara-azul-grande e possui uma cauda longa e bico poderoso. Ela mede cerca de 75 centímetros, pesa 950 gramas e pode viver, em média, 50 anos na natureza. A plumagem é na cor esverdeada na cabeça e pescoço, desbotada na barriga, e cobalto na parte superior das asas e cauda. Possui ainda manchas amarelas características que ficam próximas ao bico. A ave se alimenta de coquinhos da palmeira Licuri (Syagrus coronata), embora também busque outros itens alimentares, como baraúnas, pinhões, umbus, mucunãs e até milhos-verdes. O tráfico de animais silvestres e a destruição do habitat são os principais fatores de ameaça desta espécie, considerada em perigo de extinção.
Nove indivíduos passaram com sucesso pelo processo de readaptação e já estão no único habitat natural da espécie, ameaçada, no