Agenda Shows e Eventos Alphaville, Barueri, Osasco e Santana de Parnaíba

Agenda Shows e Eventos Alphaville, Barueri, Osasco e Santana de Parnaíba O que Parnaíba tem e o restante do Brasil ainda não conhece? Morgado de Mateus veio para ser o primeiro governador de uma capitania pobre e despovoada.

Esse é o nosso objetivo, divulgar o que Santana de Parnaíba tem de melhor e diferente!


>>> Conheça Mais Sobre Santana de Parnaíba

m 1765, ainda eram muito fortes. Muitos haviam deixado Parnaíba, São Paulo e as pouquíssimas vilas existentes para procurar ouro em Minas Gerais, Cuiabá e Goiás. Não havia nenhuma razão para retornar agora. Morgado fez o que era possível na época: incentivou a criação de novas povoações e o desenvolvimento das que já existiam na tentativa de estabelecer o povoamento da vasta área ainda vazia, especialmente a leste do território, que, na época, correspondia aos atuais territórios dos Estados de São Paulo e do Paraná. Começaram a surgir nessa época o que veio mais tarde a se tornar as cidades de Campinas, Araraquara, Piracicaba, Tietê e outras poucas. Parnaíba era então sede de uma vila[1] que englobava então os municípios de São Roque, Araçariguama, Cajamar, Pirapora do Bom Jesus, pelo menos metade de Barueri, de Franco da Rocha e de Caieiras, além do município atual de Santana de Parnaíba. A escassa população concentrava-se na sede da vila, e também em São Roque, Araçariguama e Pirapora. O resto espalhava-se por vasta área rural. Sua produção apenas sustentava o próprio município; as estradas eram precárias. Havia plantação de café em 1836, cultura que, anos depois, não existia mais.[2] O último censo conhecido, do tempo de colônia, em 1776[3], acusava cerca de 1 283 mulheres e 1 258 homens na vila. Para a época, uma cidade de tamanho semelhante às outras da capitania. Na virada do Século XIX havia duas formas de se alcançar a vila a partir da capital: pelas chamadas estradas “de dentro” e “de fora”. A primeira pela Lapa, Mutinga e Fazenda Tamboré; a segunda por Pinheiros e pela Aldeia de Barueri. Em 1809 a Aldeia de Barueri foi anexada a Parnaíba, desligando-se da Capital. Foi este o único aumento territorial que Parnaíba teve em toda a sua história. Tal fato pouco ou nada contribuiu para a vila; o acesso desta ao aldeamento era problemático, pois dependia de uma estrada com pouca conservação e de uma travessia por balsa sobre o Tietê.[4] Juntamente com ela, veio a parte ocidental que incluía a atual área central de Carapicuíba. A divisa entre Parnaíba e a capital passou a ser o rio Carapicuíba.[5] Vale ressaltar também que a Aldeia de Carapicuíba, atualmente no extremo sul do município de Carapicuíba e muito próximo da divisa com Cotia, jamais foi parte do município de Parnaíba, pois somente foi desmembrada de Cotia na época da formação do município de Carapicuíba, em 1964. Esta era mais ou menos a situação da cidade em 1822. Município pobre, com pouca receita, sem uma agricultura forte, produzindo apenas para sua própria sobrevivência, a cidade exportava eventualmente apenas uma pequena produção de aguardente: a cana de açúcar era a lavoura mais comum por ali. Alguns de seus atuais bairros eram embrionários, como o Suru, o Coruruquara, o Jaguari, Pirapora — hoje o município de Pirapora do Bom Jesus — e o Taboão — o atual bairro de Jordanésia, pertencente a Cajamar —, além de São Roque e Araçariguama, também hoje ambos municípios. Eram, provavelmente, sítios ou fazendas, cujos núcleos e colônias eram chamados de bairros. Os outros bairros nem existiam. E havia ainda o Voturuna, terra de antiga extração de ouro e ferro, que havia pertencido ao Padre Guilherme Pompeu de Almeida e que, com sua morte mais de cem anos antes, passou a ser terra dos jesuítas. Com sua expulsão em 1760, as terras passaram para outras mãos. Os viajantes que reportaram suas viagens pela Província no século XIX não citam a vila. Possivelmente não passaram por ela, seguindo diretamente pelo Caminho Real de Ytu, que passava dentro dos limites do município em sua região sudoeste, na atual Araçariguama e nos limites do Cururuquara. Não são encontrados, infelizmente, desenhos ou gravuras dessa época hoje longínqua referentes a Parnaíba. Carlos Frederico Rath, por exemplo, que fez também diversas viagens pela Província, tendo retratado cidades como Apiaí, não se preocupou com a cidade. Sabe-se que a vila já contava com o traçado urbano do seu atual Centro Histórico, tombado desde 1982 pelo CONDEPHAAT. Sem os nomes atuais, este perímetro urbano corria, a partir dos fundos da Igreja Matriz, então uma construção diferente da atual, pela Praça 14 de Novembro, pela rua Bartolomeu Bueno, dobrando à direita pela ladeira da rua Santa Cruz, à direita pela rua Suzana Dias, seguindo até a parte baixa do Largo da Matriz, subindo por ele até passar pelo lado da Matriz e encontrar novamente a sua parte traseira. Além deste contorno, apenas zona rural, mesmo. Uma cidade minúscula para os padrões de hoje. Para os padrões da época, nem tanto, mas diversas cidades que se formavam no interior já cresciam mais rapidamente então. Havia, claro, diversas estradas, verdadeiras “picadas”, que levavam aos sítios próximos ou às cidades, estas nem tanto. Da vila, elas partiam para a capital, passando pela Aldeia de Barueri; para Araçariguama; o Caminho Real de Ytu passava longe, ao sul, sem atingir diretamente a vila; para Pirapora; para a ponte sobre o Tietê e dali para a “outra banda” do rio; para Jundiaí e para chegar à Estrada dos Goiazes, no extremo nordeste do município. Todas estas estradas, de alto custo de manutenção principalmente para os parcos recursos daquela época, não somente para Parnaíba como para qualquer outra cidade, levavam a que núcleos que cresciam mais rapidamente a pedirem sua independência como município, dada a dificuldade de ajuda quando dependiam da vila central. Não é por coincidência que a antiga Carambeí, agora São Roque, tenha conseguido sua emancipação em 1832. O território parnaibano perdia agora sua primeira parte signif**ativa desde a desanexação bem mais antiga de Itu, Jundiaí e Sorocaba, nos anos 1650. Esta emancipação de São Roque fazia com que toda a região além do que hoje é o quilômetro 54 da rodovia Castelo Branco, até o seu quilômetro 72, aproximadamente, fosse “perdida” para o município. Em 1836[6] Parnaíba fazia parte da Segunda Comarca da Província de São Paulo. Estava no Oitavo Termo, cuja cabeça era a capital, juntamente com esta e com a vila de Santo Amaro. Possuía a vila uma freguesia anexa a ela: Araçariguama. O censo realizado provincial indicava 4 296 habitantes para o município, sendo 1 977 homens e 2 319 mulheres, entre brancos, índios, pardos livres e cativos. Era um crescimento de cerca de 1 600 habitantes em relação ao censo de 1776, cinquenta anos antes. Nessas duas épocas a maior parte da população das cidades vivia espalhada pela área rural. No caso de Parnaíba, as maiores aglomerações estavam no centro, em Capela de Pirapora e na Freguesia de Araçariguama. Como a vila não se originara das fazendas em volta, como as cidades mais novas, a população maior era urbana, mesmo. Bairros rurais, como o Cururuquara, que possuía então 122 almas, davam uma ideia do que seriam esses bairros naquele tempo. Aliás, este não devia ser uma fazenda, pois o levantamento dos anos 1850 mostra que existiam ali inúmeros proprietários em diversos “campos de lavoura e de criar”. Sinal de que a floresta original se havia ido há muito tempo naquela região. A quantidade de escravos não poderia ser muito grande: a maior atividade da cidade era a cana de açúcar, com poucos engenhos apenas para a fabricação de algum açúcar, de cachaça e de rapadura, o que não poderia demandar um grande número de escravos. A sede, com número limitado de ruas curtas, não poderia conter nem mil habitantes. Havia 149 pessoas alfabetizadas e uma só escola de “primeiras letras”, com 31 alunos. Plantava-se em 1836 milho, café, feijão, arroz e algodão, além das criações de gado. Quase tudo para consumo doméstico, exceto pequenas exportações de açúcar bruto, aguardente de cana e toucinho, levados geralmente para Santos; essas viagens pareciam ter o objetivo de, na verdade, trazer sal, vinhos, fardos de tecidos, ferragens, louças e vidros, sendo o que era levado meras “encomendas de ocasião”. Afastada de tudo e com difícil comunicação mesmo com a capital da província, a vida passava devagar, como num outro planeta. O tropeirismo tinha, na cidade, alguma atividade: sabe-se que o Barão de Iguape, pai de Veridiana Prado, mantinha na região próxima ao rio Itahim, na divisa com a Capital (região de Perus) uma fazenda de invernada de muares e também de gado. Havia invernadas também na região onde hoje é o centro de Carapicuíba, pertencente na época também a Parnaíba. A vila também não ficou imune ao movimento revoltoso de 1842. A encruzilhada da Estrada Real de Ytu com a estrada para Parnaíba — e aí não ficou claro se era a saída pela Aldeia de Barueri ou se pelo Cururuquara — também era área estratégica de vigilância das forças legalistas do Império: a própria vila foi ocupada por estas em 15 de junho de 1842.[7] Apesar disto — ou por causa disto —, a Câmara Municipal, quatro anos depois, nomeou o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, um dos revoltosos, para recepcionar o Imperador Dom Pedro II em sua primeira visita à capital de São Paulo. Coincidência ou não, em 1852 o brigadeiro comprou vastas áreas de terra em Parnaíba: uma no Morro Branco, na região do Juru-Mirim, já dentro do atual município de Pirapora, próximo à divisa, e outra grande área entre a Serra do Itaqui e o Tietê, entre os córregos do Sítio do Morro e da Cachoeira, local hoje ocupado por diversos bairros: o Germano, o Parque Santana, o Rancho Alegre, o Isaura, Chácara Marco e o Engenho Novo, estes dois últimos hoje em Barueri. Esta grande gleba era a Fazenda da Vacaria. Pode ser derivado desta época de aproximação do brigadeiro com a vila de Parnaíba as histórias e o seu romance com a Marquesa de Santos, que também possuía propriedades por aqui. As ruas não possuíam nomes: se os tinham, não eram oficiais, sendo reconhecidas por detalhes próprios ou pelo seu destino ou origem. As atuais ruas Bartolomeu Bueno, André Fernandes e Suzana Dias eram apenas as “ruas de Cima, do Meio e de Baixo”, pela sua posição geográf**a e também pelo fato de que inúmeras cidades brasileiras utilizavam este tipo de denominação; porém, neste caso, a rua de Baixo também era conhecida como “rua Direita”, numa alusão de que levava “direto ao largo, ou ao mosteiro, de São Bento”, que, realmente, f**ava no final dessa rua, em frente a esse final. Para se ter acesso ao largo, ainda hoje há que se fazer pequena dobra à esquerda, dali, ou se sobe a atual rua Santa Cruz, ou se segue à direita pela rua 13 de Maio. A “servidão do Fundo dos Quintais” ou “rua do Fundo dos Quintais” era a atual 15 de Novembro. Na verdade, ela não existia, pois tinha um leito totalmente irregular, dependendo em cada ponto da profundidade dos quintais das casas que davam frente para a rua Direita. Já o “beco que desce atrás do Mosteiro” é mais fácil de se identif**ar: ele “descia” para a várzea existente no local onde por hoje passa a Estrada dos Romeiros e f**ava atrás do Mosteiro de São Bento. Em 1850, nomes como “caminho que desta vila segue para a estrada dos Tortes a sair na estrada de Jundiaí” ou “Mata da Picada do Itaquerê” eram comuns na vila. Reconhecê-los hoje é uma tarefa praticamente impossível, a não ser que surjam dados adicionais em alguma documentação. Descrições em livros de atas da Câmara Municipal do tipo “foi lida uma petição do Sr. José Manoel da Silva oferecendo-se a pagar o foro da tapera onde mora (morou?) a falecida Ignes Roiz no lugar denominado Itahin” e “petição de Elias da Cruz a respeito do bairro Barueri-Mirim queixando-se do estado da fatura do caminho que desta vila segue para o dito bairro não havendo a cabo cumprido” mostram também que a simples menção de um bairro ou local já dava indicação de onde a pessoa morava, dado o baixíssimo número de moradores nos pequenos povoados espalhados pela imensa área que ocupava o município. O Itaim, no entanto, não é um local tão identificável assim: há um córrego do Itaim-Guaçu e outro do Itaim-Mirim, este último afluente do primeiro, por sua vez, afluente do Tietê, passando pela região do atual Suru, mas também há outro, que é o córrego do mesmo nome que historicamente divide Parnaíba de São Paulo e que hoje costeia o bairro de Colinas do Anhanguera. Outro fato bastante discutível na história da cidade, dando margem a inúmeras interpretações, é a existência de uma ponte sobre o rio Tietê. Em 1850 havia uma ponte, e, se havia, deveria estar no ponto mais fácil de transposição, historicamente, do rio, que era o final da rua da Meatinga — estamos falando de épocas anteriores à inundação do ponto em 1954, pela Light, como será visto mais à frente —, pois em setembro havia um pedido de conserto para a “a ponte sobre o rio Tietê e tapar seus buracos”. Qual das pontes? Aparentemente havia duas, pois em 1805, ou seja, 45 anos antes, documentos falam em duas pontes junto à vila. A se ler pelos diversos documentos existentes entre o início do século XIX e o ano de 1955, quando foi construída a ponte de concreto atual, no final da rua Padre Luiz Alves de Siqueira Castro de hoje houve épocas com duas pontes, com uma somente e até sem pontes. Em 1854, por exemplo, eram citadas duas pontes novamente.[8] Nove anos depois, em outubro de 1863, soube-se que, por um período, a vila ficou sem a ponte: foi nesse mês que e pagaram “a canoa e o canoeiro pelo serviço durante o período em que a ponte sobre o Tietê estava em conserto”. Por quanto tempo isto ocorreu, não se soube. Já a ponte de Pirapora, sobre o mesmo rio, tem um histórico mais claro. Em 1854 a construção dessa ponte estava bastante adiantada. Ainda não era a ponte metálica, que viria nos anos 1880 e ali f**aria por mais de cem anos. Outra ponte de grande importância era a ponte sobre o rio Juqueri-Guaçu[8], o rio que hoje divide os atuais municípios de Santana de Parnaíba e Cajamar, mas que, na época, nada dividia: estava no meio de mata virgem. Era, no entanto, o ponto de passagem de tropas e viajantes para Jundiaí. Acreditamos que, das quatro pontes que hoje existem sobre o mesmo rio, esta, também citada em 1854 como sendo construída a pedido desses viajantes, seja a que f**ava no mesmo local onde hoje está a ponte do Vau Novo. Esta ponte ficou pronta em 1855, e uma curiosidade é que se conseguiu identif**ar os diversos tipos de madeira usados na sua construção: entre outras, a canela, o guamirim e o guatambu. O novo cemitério da cidade ficou pronto também em 1854. Ele vinha para substituir aquele que f**ava atrás da Igreja Matriz, no alto da colina ainda hoje ali existente, e onde hoje está a Casa Paroquial. Tal fato não devia ser coincidência: no mesmo ano, a Assembléia Provincial aprovava o novo Código de Posturas, que proibia o enterro de cadáveres nos recintos dos templos e capelas dos municípios. A cidade, possivelmente, precisava de um cemitério maior do que o que já tinha. Com este código de posturas, as cidades começavam timidamente a cuidar de limpeza e de saneamento: apenas três anos depois, em 1866, a Câmara estabelecia normas para os enterros no Cemitério, ordenando que estes fossem feitos “a oito palmos de fundos”. O velho cemitério, administrado pela Irmandade de São Benedito, continuou funcionando por muito tempo ainda, embora aparentemente tenha sido solicitada a sua desativação. No mesmo ano, a mesma Assembléia resolveu um caso polêmico entre os municípios de Jundiaí e Parnaíba, em relação às suas divisas. Com isto, f**aram estabelecidas as divisas que vigoraram até 1959, quando Pirapora e Cajamar, que hoje são os que fazem divisa com Jundiaí, se separaram do município-mãe. Para se ter uma ideia, esta divisa f**ava onde atualmente é o quilômetro 49 da via Anhanguera — hoje neste ponto dividem-se Cajamar e Jundiaí. Apesar de todas as dificuldades de comunicação, o isolamento de Parnaíba não a deixava de fora de tudo. As notícias podiam chegar com algum atraso, mas chegavam. Em janeiro de 1865, cerca de um mês depois do início oficial da Guerra do Paraguai, com a invasão de Mato Grosso pelas tropas paraguaias de Solano Lopez, a Câmara mandou afixar um decreto de 8 de janeiro “em edital no local de costume”, ou seja, junto à porta da Câmara Municipal (que aparentemente não tinha uma sede fixa, fazendo suas sessões na casa de um dos vereadores) acerca dos Voluntários da Pátria. Em outras palavras, recrutava voluntários para partir para a guerra, que, afinal, não tiraria tantos braços da cidade assim: desta partiriam apenas treze voluntários para a Guarda Nacional. Em mais uma prova de que a cidade estava atenta ao mundo, nesse mesmo ano chegava também o sistema métrico: uma circular do governo imperial de 23 de abril remeteu “a esta Câmara um exemplar dos trabalhos destinados à conversão das medidas métricas, nas que lhe corresponde no sistema usual de pesos e medidas do País, para que se façam observar neste município o novo sistema”. O que acontecia em Parnaíba durante o Século XIX não era tão diferente assim da vida das outras cidades da província, pelo menos até a metade do século. Podemos, entretanto, excluir desta afirmação as cidades do Vale do Paraíba, que já plantavam café havia tempos e tornavam essa região — então chamada de Norte Paulista — a mais rica da província. A partir daí, a migração das plantações de café para o então chamado Oeste Paulista, passando pela região de São José dos Campos e Jacareí para Bragança, Socorro e Amparo, e dali para a região de Campinas enriqueceu essa região, de terras melhores e mais adequadas para essa cultura. Ao mesmo tempo, o Norte começava a definhar, com terras já gastas para o cultivo. Depois da chegada da São Paulo Railway (depois Santos-Jundiaí) e da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, seguida quase que imediatamente pela Ytuana, Mogiana e Sorocabana, no período entre 1865 e 1878, o plantio de café cresceu de forma muito rápida, trazendo a riqueza e a mudança no modo de vida de seus habitantes. Parnaíba estava fora desse ciclo. Suas terras eram pobres para o plantio extensivo de café no município, apesar de, como vimos, esta ter sido tentada no início do Século XIX. Sua principal cultura, a cana de açúcar, também não era plantada num solo tão propício para isso quanto o quadrilátero Piracicaba-Porto Feliz-Itu-Jundiaí. Além do mais, a cidade era muito antiga e já estabelecida havia mais de duzentos anos, ao contrário das cidades muito mais novas do Oeste, com amplo espaço para crescer e terras mais ricas para o plantio. É fácil, aliás, de se verif**ar que o que mais tarde se transformou na área metropolitana da Grande São Paulo, à qual pertence Santana de Parnaíba hoje em dia, jamais foi área de plantações extensivas. E, por f**arem próximas à capital com economias pobres, eram política e economicamente mais pobres do que ela, e, à medida que São Paulo crescia, com a migração dos fazendeiros do interior enriquecidos para ela (migração esta favorecida pelo estabelecimento das linhas férreas todas convergentes para a Capital e para o porto de Santos), seus arrabaldes definhavam. O que seria a Grande São Paulo em 1850? Lembremo-nos que esta área metropolitana não existia, apenas estamos aqui tentando imaginar do que a atual região se compunha. No mesmo território de hoje, os atuais quarenta municípios eram apenas cinco em 1850 (São Paulo, Parnaíba, Mogi das Cruzes, Santa Isabel e o já desaparecido Santo Amaro), que já haviam se transformado em oito, em 1877 (a eles se adicionaram Itapecerica, Cotia e Santa Isabel). Todas essas cidades eram pequenas e pobres, com exceção da capital, que, afinal, tinha, no mínimo, as atividades da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e as funções administrativas do governo da província. Com o café e as linhas férreas, a população de São Paulo já havia duplicado em 1880; nesse ano, a emancipação de Guarulhos levaria o número das cidades da “Grande São Paulo” para nove. Dessas nove cidades, apenas São Paulo, Mogi das Cruzes, Parnaíba e Cotia tinham ferrovia, sendo que nas duas últimas, ela passava a uma distância demasiado grande (mais de dez quilômetros) da sede das vilas. De fato, o progresso veio muito rápido para as duas primeiras, enquanto as duas últimas e as cinco restantes, estas sem ferrovias, permaneceram estagnadas. No interior, a expansão das cidades enriquecidas pelo café era muito rápida. Campinas, Rio Claro, Limeira, Araraquara e Amparo, estabelecidas desde o Século XVIII ou princípio do Século XIX, beneficiaram-se primeiro exatamente pelo fato de terem uma estrutura mais enraizada. Araras, São Carlos, Pirassununga, São Simão, Descalvado e até a distante Ribeirão Preto, mais recentes, surgidas depois de 1850, cresciam de forma a se tornar municípios em pouco espaço de tempo. Todas elas nasceram a partir de uma ou mais fazendas em volta do futuro núcleo central. Araras, por exemplo, surgiu nos anos 1860 — devido em grande parte às fazendas Montevidéu e Santa Cruz, entre outras — e em 1875 já era elevada a vila. Outras muitas se desenvolveram logo a seguir. O número de municípios na virada do Século XX no estado já era bem maior do que em 1850. E a “Grande São Paulo” continuava na mesma, crescendo a passos muito lentos, quando crescia. É fácil se comparar a história de cada uma dessas novas cidades e vilas no Século XIX com as cidades próximas à capital e perceber que a atividade nas primeiras era muito mais, digamos, agitada, do que nas últimas. Nesta estava Parnaíba, que não crescia, mas, como veremos, se auto-sustentava. Três anos antes da chegada da ferrovia a Barueri, a vila de Parnaíba possuía cinco eleitores no colégio eleitoral de São Paulo, Capital, em 1872: eram 83 eleitores nesse colégio e 400 no total do 1º Distrito, composto de onze colégios. Havia então três distritos na província, com 1 189 eleitores no total. O município pertencia à comarca de São Paulo, e era um dos quatro municípios dela (São Paulo, Santo Amaro, Parnahyba e Cotia). Distava 38 quilômetros, ou sete léguas, da capital. Possuía 160 casas, 3 mil habitantes, sendo 450 escravos. Seriam estes números somente para a sede da vila ou para o município todo (mais provável)? Parece, no entanto, poucas casas para 3 mil pessoas. A sede da vila tinha 160 casas e um edifício regular que serve de cadeia pública. A força da Guarda Nacional tinha ali uma seção de batalhão com duas companhias, com 420 praças, incluindo oficiais. Plantava-se milho, feijão, arroz, algodão, café e criava-se gado. O presidente da Câmara Municipal era o vereador João Pedro de Oliveira. Havia na vila lavradores, criadores de gado, professores, madeireiros, negociantes de fazendas e molhados, um organista e um mestre de música, alfaiates, um barbeiro, calcinadores de pedras (nas caieiras), um broqueador, carpinteiros, ferreiros, um fogueteiro, um mestre de moendas para cana, uma olaria, pedreiros, pintores e sapateiros. A descrição foi toda feita pelo Almanak da Província de São Paulo para 1873, de Antonio José Baptista de Luné e Paulo Delfino da Fonseca. Treze anos depois, em 1886, a nova Matriz e a cadeia já estavam em construção. O município pouco havia mudado em relação a 1873. Na vila plantava-se cana de açúcar, algum café, milho, feijão e trigo e exportava-se mil pipas anuais de aguardente, produzidas em dezenove cilindros para moagem. A população do município era “calculada” entre 4 mil e 5 mil habitantes. Entre os sete vereadores — esclarecendo que, na legislação do Império, vilas tinham sempre sete vereadores, enquanto cidades tinham nove —, estavam o velho José Rodrigues Fam, José Domingues Branco e o Coronel Raymundo Ignácio da Cruz, o “Coronel Raymundo”, todos beneméritos da vila por muito tempo. Havia uma subdelegacia de polícia: o subdelegado era um dos vereadores, João de Deus da Silva Serra. Vilas tinham subdelegacias, e cidades, delegacias. Essa diferença entre vilas e cidades era muito peculiar, sendo apenas uma questão de categoria, pois tanto cidades como vilas eram sedes de municípios. Havia dois professores: Joaquim Antonio Procópio e João Rodrigues de Jesus, na vila; Estephania Lydia de C. Procópio era professora no largo de São Bento; João da Matta e Luz, em Barueri; João José Pedroso e Joanna F. dos Santos Rodrigues, em Pirapora; João Baptista Procópio, no Ponunduva; Pedro Carlos da Pureza Procópio, no Taboão. Havia, portanto, oito escolas em seis bairros que, supostamente, seriam os mais populosos da época.[9] Os profissionais existentes podiam ser relacionados: quatro alfaiates, dois barbeiros, cinco carpinteiros, um cavoqueiro, um dentista, um ferrador, dois ferreiros, quatro fogueteiros, um funileiro, dezesseis lavradores e criadores de gado, três mestres de moendas e cilindros, dois possuidores de moinhos de fubá, três donos de caieiras, nove negociantes de fazendas e ferragens, treze negociantes de molhados e gêneros do país, dois donos de olarias, três organistas, um padeiro, quatro pedreiros, três pintores, dois pescadores, um sapateiro, um seleiro, um açougueiro e dois alugadores de tróleis, sendo um na vila e um na estação de Barueri. Estes tróleis levavam e traziam quem chegava pela Sorocabana. Não havia médicos, sendo esta uma situação que ainda se perpetuaria por muitas décadas. Havia também dezenove donos de cilindros de moer cana, ou seja, na maioria dos casos, de alambiques, mostrando que realmente a cana de açúcar era a principal atividade da vila e, dos seus produtos, o principal, talvez o único, era a aguardente.[10]
A relação acima pode não ser fiel ao que efetivamente existia no final dos anos 1880, principalmente porque possivelmente não contemplaria os mais modestos comerciantes dos bairros afastados da vila. Na época, pelo que se pode avaliar, eram afastados uns dos outros, dada a concentração nos maiores centros: a vila e a chamada Capela de Pirapora. Até mesmo o bairro do Porto da Meatinga, também chamado de Ilha, que f**ava a cerca de quinhentos metros do largo da Matriz, era considerado “arrabalde”. Podemos já identif**ar alguns bairros nessa época, como o próprio Porto da Meatinga, local de sítios e possivelmente, naquele tempo, sujeito a inundações, especialmente porque a montante do Tietê ainda não havia a barragem da usina que viria a ser construída em 1900. Ali era a passagem para se tomar a balsa, ou “barça”, como se falava e até se escrevia, e se atingir a ponte, quando esta não estava interditada. Também existia ali uma velha casa que, afirmava-se, havia pertencido a Suzana Dias — a construção teria então, se verdadeira a afirmação, pelo menos 260 anos de existência. A oeste da vila, já existiam o Fernandes, o Suru, a Capela Velha, a Boa Vista, o Ingaí, o Icavetá e o Cururuquara. Cada um bem afastado do outro. Chamados de bairros já na metade do século, eram provavelmente apenas pequenas colônias de trabalhadores de sítios e fazendas. Não se tem nenhuma notícia da existência de capelas nessa região antes de 1888, quando o Cururuquara conseguiu a sua. A história oral conta que na ocasião da proclamação da Lei Áurea, o proprietário da fazenda Santo Antônio, Manoel Bento de Oliveira, doou a diversas famílias de ex-escravos uma área de 12 mil metros quadrados. Um deles era seu filho adotivo. A fazenda de Manoel f**ava no bairro da Boa Vista, na serra do Itaqui. Dali, os escravos recém-libertados teriam descido o morro até chegar a uma capela rústica que existia às margens da Estrada Real de Ytu, a Capela de Santa Cruz, ou do Cururuquara. Ali era a parte mais alta da estrada nessa região e muito próxima à divisa tripla das vilas de Parnaíba, Cotia e Araçariguama (atualmente é a divisa de Itapevi e não mais de Cotia). Ali fizeram uma festa que durou três dias, tendo eles plantados oito palmeiras imperiais em frente ao largo da capela, que passou a ser conhecido como Largo das Palmeiras. Algumas delas estão em pé até hoje. Embora a festa tenha sobrevivido até os dias de hoje e sempre comemorada no dia 13 de maio, não se sabe se a festa original teria sido realmente nesse dia. Afinal, as noticias demoravam dias para chegar a uma cidade como Parnaíba, tão isolada. Além disso, os descendentes dos escravos moravam no Cururuquara, não na Boa Vista, até os anos 1960, quando começaram a sair para outras cidades da região metropolitana. E a capela? Existiria realmente antes à beira da estrada ou foi construída por eles após a libertação? O Cururuquara, antes, era um local de sítios não muito grandes onde se plantava e se criava gado. Não parecia ter um povoado que reunisse os parcos habitantes que ali trabalhavam. Este povoado teria começado a se implantar com a capela, haja vista que todas as histórias afirmam que a área doada era realmente nas suas proximidades. O Boa Vista não era tão próximo assim, estando localizado na serra do Itaqui, próximo ao Ingaí. Para o lado sul da vila, existiam o Votuparim e, depois, a fazenda Vacaria. Não se sabe quando esta última começou a ser desmembrada. Para além dela, f**avam o Sítio do Morro, a serra do Itaqui, e, além dele, a Aldeia e a estação de Barueri. A estrada que seguia para essa região era a “estrada de fora”, como já dito; o que não f**a claro é se o leito seguia acompanhando o leito do rio Tietê e suas curvas da época, como era a estrada de carregamento utilizada pela Light durante e após a construção da usina, ou se era aproximadamente o leito atual da Estrada dos Romeiros — com a diferença de um trecho somente construído em 1921, na região do córrego da Cachoeira, sobre o qual trataremos mais tarde. Para o norte, a Capela de Pirapora — nome do bairro na época — e bairros como o Jundiavira e o Ponunduva, este já possuindo uma capela. Às margens do Juqueri-Guaçu, as caieiras, espalhadas pelo Vau, pelo bairro do Juqueri-Guaçu e pela Várzea do Souza. A nordeste, o bairro do Taboão e as operações e caieiras do Coronel Rodovalho. A leste, toda a área da “outra banda” do rio Tietê, de onde vinha a “estrada de dentro”, que corria por dentro das fazendas Tamboré e Bela Vista, vindo dos lados do Mutinga, arrabalde da Capital dentro da Freguesia da Nossa Senhora do Ó. Os limites do município eram Jundiaí, ao norte, São Paulo, a leste, Cotia, ao sul, e Araçariguama, a oeste.

Endereço

Santana De Parnaíba, SP
06503-170

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