A história da Santa Luz FM nasce entre os anos de 1997 e 1998, pela necessidade de obter-se a liberdade de expressão, de fato e de direito, através de um meio de comunicação, pois na região as rádios comerciais não abriam espaço para a comunidade se pronunciar e não permitiam a divulgação de suas atividades e demandas sociais. Foi exatamente em uma noite de quinta-feira, dia 21 de maio de 1998, qu
ando o agricultor vivia a esperança da chegada do inverno, para poder jogar embaixo da terra a semente do milho e do feijão, para no período certo fazerem a colheita. Naquele período setores sociais da CNBB (Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil) estavam realizando por todo o país a 3ª Semana Social Brasileira: Resgate das Dívidas Sociais – justiça e solidariedade na construção de uma sociedade democrática (semana de 3 anos – 1997 a 1999). As Semanas Sociais faz parte da ação evangelizadora da Igreja Católica de muitos países
A diocese de Feira de Santana, através do zonal III Bahia e Sergipe, realizava em Feira de Santana, no campus da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), a semana em três dias e teve como sub-tema: Terra, Educação, Saúde e Comunicação Social. Participou do evento, representando a Paróquia de Santa Luzia, padroeira da cidade de Santa Luz, o então líder Comunitário Ezequiel Santiago, que foi um dos que colaboraram para a fundação da rádio Santa Luz FM. Após o evento que ocorreu em Feira de Santana, o zonal quatro, sediado por Serrinha, avaliou de forma positiva a participação do seu grupo e decidiu realizar a semana social repetindo os mesmos temas de Feira de Santana. Assim começavam ensaiar a luta pela democratização da informação e iniciaram a escrever a história da comunicação do município de Santa Luz, fazendo nascer o grito pela liberdade de expressão. Naquele período, o problema identificado era: como as organizações sociais, sindicatos, associações e até mesmo as pastorais comunicavam e informavam suas ações? Alguns destes segmentos até possuíam programas apresentados nas rádios comerciais, pagando valores absurdos que não condiziam com a realidade das entidades do município e do Território do Sisal. Mesmo recebendo para veicular os programas destas instituições, estas mesmas rádios ainda dedicavam as suas programações para desconstruir tudo o que era falado nos programas destas instituições. E mesmo pagando pela apresentação dos programas, as pautas que seriam apresentadas por estas instituições eram submetidas à censura da direção das emissoras. Para fazer frente e ir de encontro aos detentores do poder, inclusive o midiático, os movimentos sociais, as igrejas Católica e Evangélicas, decidiram ousar e fundar a rádio comunitária Santa Luz FM. Por isso, era necessária a criação de um canal de comunicação que falasse a linguagem dos movimentos sociais, que discutisse as necessidades da comunidade. Desse modo, acendeu-se o desejo de fundar uma rádio que falasse com o povo e para o povo, sem ter que se submeter às ordens de grupos políticos ou mesmo de empresários e latifundiários de terras e dos meios de comunicação. A Santa Luz FM, assim como a maioria das rádios comunitárias do Território do Sisal, foi fundada para atuar como uma ferramenta de comunicação para as mobilizações populares fazerem o enfrentamento aos abusos e os descasos dos gestores públicos, além de denunciar todos os tipos de abuso e violência contra crianças e adolescentes. Neste mesmo contexto, as instituições que a criaram queriam possuir um canal que possibilitasse a divulgação da cultura regional e local, que discutisse o seu desenvolvimento, ajudasse a população na fiscalização dos recursos públicos e, sobretudo, que garantisse a informação sobre direitos e deveres do Cidadão. Os movimentos sociais de Santa Luz percebiam que era preciso fortalecer aspectos que interferem na apropriação de saberes e conhecimentos novos e/ou renovados e que pudessem intervir na formação sócio-educativa e cultural de indivíduos e populações com acesso dificultado às informações inter-contextuais promotoras das transformações sociais e das relações de poder entre diferentes indivíduos, grupos e organizações que os representavam. Desse modo, o grito que ecoava da sala de reuniões da sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais era a tentativa de mobilizar e solidificar a comunicação comunitária de forma interativa, crítica e democratizada, voltada para a instrumentalização de procedimentos multidisciplinarizados os quais possibilitassem melhorar a informação em busca de uma melhor qualidade de vida para a população de Santa Luz e região circunvizinha, à área de cobertura da rádio.
É nesse contexto, portanto, que nasce a Rádio Comunitária Santa Luz FM, a qual ao longo de sua trajetória tem buscado contribuir com o processo de fiscalização e monitoramento das ações dos poderes legalmente constituídos, possibilitando para a comunidade o empoderamento e o sentimento de pertencimento, em um cenário o qual, até então, era visto com certo estranhamento por boa parte da sociedade luzense. A Santa Luz FM nasce com a missão de valorizar e apoiar aspectos socioculturais de indivíduos e populações historicamente excluídos, facilitando a liberdade de expressão e intervindo na democratização da comunicação intra e inter-comunitária, capaz de ampliar a difusão e interação de ideias que estabeleçam transformações no exercício cidadão.