09/02/2024
Memória Esportiva Salinas
Duas temporadas épicas
A vida e o viver para a grande maioria é ter sucesso, salvar a alma, prosperidade, outros fazem história sem saber, resumindo, para os certinhos e capitalistas o objetivo é vencer na vida, o que eu não sei bem o que é.
Esse é mais um registro que eu chamo de eternizar, de contar causos e reviver bons momentos da nossa vida, especialmente, aqueles fatos que nem acredita que fez, é o que estou rememorando na escrita para filhos, netos, familiares e amigos, nossa cidade e região, no livro “Andanças”, já no prelo para esse ano onde conto, narro, registro e falo da vida, de futebol, musica, poesia, fatos regionais, pessoas, eventos, causos, crônicas e o rastro deixado por esse mundão de Deus.
Se vencer na vida é ter alegrias, deixar marcas e estar na memória popular, estou realizado e feliz. O meu legado é simplório, mas inédito, sem ovacionismo, arrazoados, sincero e fatos com algumas metáforas e raridades.
Um desses fatos e rastro foi no futebol e minha rápida passagem pelo Calhauzinho Esporte Clube, em 1981 na simpática e hospitaleira Araçuai, no médio Jequitinhonha, no campeonato municipal, que foi o ressurgimento e fim do time do Seu Jamil Tanure. O ressurgimento, cito por que havia cinco anos que o Calhauzinho não ganhava titulo, e o fim por ter o time acabado após a conquista do inédito título de campeão municipal direto dos dois turnos.
Naquela temporada, atuava pelo Internacional Esporte Clube em Salinas como polivalente, como zagueiro no Flamengo de Pedra Azul e no Calhauzinho era ponta esquerda, contratado que fui sem saber o que era e como jogaria.
Minha apresentação foi em 30 de outubro de 1981, num rebuliço politico na cidade, e eu junto de um senhor, Luís Inácio da Silva, o nosso presidente Lula, num dia de sol escaldante para variar em Araçuai. Estava “voando” como diz os boleiros quando está por cima. Eu tinha o futebol como fonte de renda, quando descobri que sabia fazer uns golszinhos, de chamar a atenção e de ser a estrela por onde passava.
Não era um jogador vaidoso, aparecido, marrento, mas determinado, objetivo, confiante, preparado sempre, treinava muito fundamentos, chutes, dribles e finalizações. Estudava futebol e encarava como uma tarefa, missão e trabalho superando o desafio da baixa estatura (1.66m), quando comecei a cobrar para jogar.
No Calhauzino Esporte Clube, como a temporada tava meio turbulenta pelo grande envolvimento politico, social e cultural que participava em Salinas e região, em tempos de ditadura militar, o futebol veio como complemento de lazer, renda e vida boêmia.
Boyzim, boa pinta e praça, meio hippie vindo da capital paulista e mineira banhado de aprendizados. assistindo futebol profissional, fui surpreendido pelo tom irônico do dono do Calhauzinho, Seu Jamil, na minha apresentação. “Pedi um jogador, não um hippie”, o que exigiu de mim reagir com trabalho e produtividade, o que ocorreu durante toda a competição. Foram apenas quatro jogos, sete gols e campeão direto, e eu como artilheiro do time, e claro, o bolso cheio de grana.
Falam que no mar agente tem que aproveitar a onda. No futebol também, mas com treino, determinação e bola com os pés e a cabeça. Foi o que fiz, mostrei serviço, cobrei, cumpri e deixei um belo rastro vivido, lembrado sempre que visito a cidade, reencontro velhos companheiros e amantes do futebol amador regional.
Futebol de Salão
Outra fase e temporada esportiva marcante, já em final de carreira, se deu no futebol de salão, aos 38 anos, num campeonato municipal em Salinas para veteranos meia idade.
Disputamos pela equipe da Casa Agripino Esporte Clube, uma tradicional loja de ferramentas dos amigos Cezar e Tim Agripino, no ginásio poliesportivo, no Bairro São Geraldo, de 1992, 1993 e 1994, fomos tricampeões consecutivos. Nossa equipe, descreditada, tínhamos um time firme, determinado com Zé Bento no gol, Tadeu e Paulo de alas, Jozair e Tiburcim completando.
Fui o artilheiro nas três competições, fiz 28 gols em 6 partidas de cada competição, um fato que até eu em dias de hoje me surpreendo pelo ineditismo, sagacidade e números até então nunca acontecidos, o que impulsionou a contar a fabula que parece.
É domínio público, “que a coruja não gava o toco”, mas fatos diferenciados, inéditos merecem registro e históriar, foram duas temporadas épicas. Também massagear o ego de vez em quando nunca fez mal a ninguém, viram causos, documentários, histórias da terra e boas lembranças guardadas para nossa gente e futuras gerações.
Considero uma fase linda da minha vida, pelas competições, amizades, feliz, fama adquirida e resultados que tornaram orgulho, satisfação e história no esporte regional.
“Sentimento que não espairo; pois eu mesmo nem acerto com o mote disso ― o que queria e o que não queria, estória sem final. O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de f**ar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito ― por coragem. Será? Era o que eu às vezes achava. Ao clarear do dia.”
(João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas - Página 193)
Salinas – sempre na luta!