Tudo começou nos corredores da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero no início das aulas em 1981. Um grupo de amigos, que militavam no movimento estudantil, resolveu criar um jornal de bairro.A primeira idéia foi a de lançar um jornal na Vila Mariana.
Depois de alguns encontros que não avançavam o grupo se desfez e eu e a Mirna Leandro de Castro, o Homero Sergio de Moura, o Túlio Grespan e a Heloisa Helvécia de Luiz resolvemos fazer um jornal no bairro do Cambuci.
As reuniões aconteciam na casa de meus pais na Rua Paulo Orozimbo, sempre regadas a algum quitute oferecido pela Dona Celeste.
Foram dezenas de encontros até decidirmos lançar o primeiro número em novembro daquele ano. Montamos a editora e alugamos uma sala na Rua Teodoreto Souto em cima do açougue do Sr. Aurélio, já falecido, e colocamos as mãos na massa.
O projeto gráfico foi elaborado pelo desenhista Evanildo Nicoli, que seguindo um pouco de nossos palpites, fez um visual bem diferente do que havia de jornais regionais na época. O formato era tablóide e o “Jornal do Cambuci” vinha impresso na diagonal acompanhado de uma foto e uma manchete.
Nossa principal proposta era fazer um trabalho de defesa dos interesses da comunidade. Logo na primeira edição abordamos o problema das enchentes das ruas mais próximas a Av. do Estado. A edição era mensal.
Vivíamos aquele período de abertura política com o fim da Ditadura Militar e a organização civil começava a tomar corpo. Acompanhamos a 1ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (CONCLAT) que foi o embrião da criação da CUT.
Também fizemos uma entrevista com Sinval Rosa presidente da Escola de Samba Império do Cambuci que se preparava para o carnaval de 1982.
Na parte cultural publicamos dois artigos de cinema da Sandra Teixeira e do Celso Sabadin. Divulgamos o show que o Língua de Trapo, comandados pelo Laerte Sarramur, faria no Teatro Lira Paulistana. Elaboramos uma matéria sobre o Parque da Aclimação entre outros artigos que rechearam a edição.Tudo ficou pronto no dia 12 de novembro. Na madrugada do dia 13 o Jornal foi impresso e 9h00 começamos a distribuir a 1ª edição.
PRIMEIRAS LUTAS E EVENTOS
Com muita dedicação organizamos nosso trabalho. Tivemos História do Jornal do Cambuci e Aclimação que aprender muito rápido porque a aceitação do jornal foi acima de nossas expectativas. Vivíamos um período de retomada da democracia no final da Ditadura Militar.
No início de 1982 constatamos uma falta de atividades culturais e de lazer para os jovens. Tivemos a idéia de realizar um festival de arte. Em dois meses de reuniões mobilizamos dezenas de jovens na organização do evento que recebeu o nome de 1ª Mostra de Arte Livre do Cambuci. Levamos o projeto para a Secretaria Municipal de Cultura e o Secretário Mário Chamie nos ajudou na infraestrutura.
Foi o primeiro grande evento organizado por esse jornal o que nos tornou conhecido. Ao longo de 1982 fizemos uma campanha para levantar a história do Cambuci entrevistando moradores e reunindo um acervo de dezenas de fotos antigas. Montamos uma exposição com o apoio do Banco Auxiliar. Em junho decidimos mudar nossa periodicidade para quinzenal. Iniciamos 1983 com muitas idéias e projetos.
Em 12 de janeiro fomos pegos de surpresa com a notícia de que a prefeitura de São Paulo estava cedendo por 40 anos uma importante área do Parque da Aclimação para o Colégio Anglo Latino.
Imediatamente entramos em contato com lideranças do bairro e juntamente com a comunidade. Conseguimos organizar e realizar uma grande manifestação no Parque. Tudo feito em uma semana e neste dia a Prefeitura retirou a cessão de área. Foi uma grande vitória de todos.
Em função dessa luta foi criada a Associação de Defesa do Parque da Aclimação (ADEPA), que sob o comando da Maria Tereza Ribas Tavares e da jornalista Mirna Leandro de Castro, começou um trabalho de Tombamento do Parque.
Foram três anos de luta até o Condephat “tombar” a nossa principal área verde. Depois disso ninguém mais pode mexer no Parque e no seu entorno.
Foi uma vitória espetacular para a época demonstrando a força da organização civil.O Parque da Aclimação se tornou a primeira área verde urbana Tombada no Brasil. Isso nos enche de orgulho.
Nesta época ampliamos o nome do jornal que passou a se chamar Jornal do Cambuci & Aclimação.
Essa experiência da luta no Parque nos ajudou, juntamente com um grupo de mães, a conseguir a primeira Creche Municipal gratuita na região, a Creche Silvia Covas, localizada na Praça José Vicente Nóbrega. Ao longo desses anos muitos eventos e campanhas foram realizados.
Participamos da Festa das Crianças organizada pelos comerciantes da região, Passeio Ciclístico da Primavera entre tantos outros.
DIRETAS JÁ
Em 1984 o Jornal do Cambuci e Aclimação foi o primeiro veículo de comunicação de São Paulo a entrar na Campanha das Diretas Já. Depois outros veículos como a Folha de São Paulo também se incorporaram.
Junto com representantes de vários partidos políticos e entidades, organizamos um grande Show no Parque da Aclimação em favor das eleições. A Banda Ultraje a Rigor fechou o evento.
Nos anos seguintes vários eventos esportivos e culturais tiveram nosso apoio e participação. Uma dessas atividades marcou vida cultural que foi a Praça do Rock. Fomos procurados por m grupo de jovens idealistas entre eles o Dalan Jr. e o Cássio Leite da Silva.
A proposta era a de realizarmos pelo menos uma vez por mês um evento de Rock no Parque da Aclimação. Entramos de cabeça no projeto que era a de dar espaço para bandas novas com composições próprias. Conseguimos convencer a Paulistur, que hoje é a Anhembi Turismo, para abraçar a ideia. O governador eleito João Dória Jr. era o presidente da Paulistur na época, e gostou de nossa iniciativa. Foram meses de parceria até a Praça do Rock f**ar muito grande e ter que ir para o Parque do Carmo na Zona Leste.
Em 1990 aumentamos de tamanho e periodicidade. Passamos a ser semanal no formato standard. Foi um salto de qualidade o que fez o jornal crescer em número de páginas. Nesta década consolidamos o Jornal do Cambuci e Aclimação e criamos uma metodologia própria de ação comunitária, por isso passamos a nos intitular “Imprensa Comunitária”.
Muitas reivindicações do Jornal junto ao poder público foram atendidas, como a primeira grande reforma do Balneário do Cambuci.
Em 1995 fizemos o nosso primeiro passeio ciclístico que se chamou 1ª Pedalada Ayrton Senna em homenagem ao grande piloto um ano após seu falecimento. Nos anos seguintes o passeio mudou de nome e tornou-se Pedalada Cambuci e Aclimação até 2001. Em 2002 recebeu o nome da jornalista Mirna Leandro Ribeiro de Castro que faleceu em 5 de agosto de 2001. Foram 21 edições. A última aconteceu em 2015.
Nosso objetivo, que era promover o uso de bicicletas, já tinha sido alcançado. Continuamos a realizar eventos e lutar pelas melhorias da região.
A LUTA CONTINUA
O Balneário do Cambuci, do qual fui diretor por três vezes, teve sua 3ª grande reforma em 2016 com a troca dos filtros da piscina de recreação.
Ajudamos na desapropriação do Colégio Anglo Latino para que não fosse construído um prédio de alto padrão. Hoje no local está a instalado o Colégio Pueri Domus que além de dar vida a um espaço tradicional de educação, valorizou sobremaneira a região.
Em 38 anos de vida temos muito mais coisas para lembrar, mas neste momento queremos agradecer a toda a comunidade que esteve ao nosso lado nas principais lutas. As entidades sociais e filantrópicas que fazem um trabalho incomparável e sério e que sempre divulgamos.
As lideranças sociais e políticas, que independentemente de partidos, colocam os interesses da comunidade em primeiro lugar. Aos fiéis colaboradores e funcionários. Aos nossos anunciantes e leitores que dão vida ao jornal. Aos amigos e familiares pelo apoio.
Continuaremos firme em nossa caminhada de um jornalismo comunitário que debate e tem posição.
Roberto Casseb