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Nascemos e vivemos on the ROAD forever praticando Arte quântica arround the World. Born to be Wild forever. Marquês Bonvivant de Casanova. https://youtube.com/user/mvtvcom
Conto OULIPO. Autor: Maggiar Villar Marquês de Casanova
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Literatura Brasileira. Ficção. Contos
USP - São Paulo – SP – Brasil - 2021. Para Susanna Galli
“Ao entardecer de outono nos separamos como as duas conchas da ostra”
1. Oulipô
A necessidade e a importância da arte na vida do homem, na vida de todo ser humano, passa obrigatoriamente pela catarse estética. Qualquer que seja a sua manifestação. A pintura mais ainda. Um quadro pode ser criado e pintado a partir dessa premissa. Dessa catarse criativa. Depois, pode ser vendido num leilão ou museu por um valor agregado e atingir a soma de dez milhões de dólares. Com o seu autor ainda vivo. Um dia vi uma cena num museu em Paris que me chamou a atenção e me inspirou a escrever este conto. Foi no Museu do Louvre. Eu estava visitando o museu numa manhã de sol acompanhado pela minha secretária e assessora Susy. Eram férias de verão lá. Muitos turistas do mundo inteiro. Dois eram brasileiros. Pai e filho adolescente. O pai dava aula de arte e história para o filho que aprendia tudo com muito interesse e atenção. Tinha tanta admiração pelo lugar e pela aula do pai, que chegava a suspirar longamente de prazer. Tinha o pai como um verdadeiro herói e personagem ao mesmo tempo. O pai dava a aula e falava da vida e do passado com grande satisfação. Parava em todos os lugares e obras e esboçava seu interesse e prazer de estar ali com o filho. Relembrava de sua vida de jovem aventureiro e estudante nos países em que viveu e morou na juventude. Ele começou a contar uma história para o filho, sobre um quadro que viu em Nova Iorque, em 1968, quando era estudante numa universidade naquela cidade. Nesse longínquo e histórico ano de 1968, sua família de classe média alta e tradicional de São Paulo, tinha o levado para estudar na grande metrópole da maçã: Nova Iorque. O Brasil vivia uma ditadura militar sangrenta, alimentada pela ideologia capitalista do Tio Sam. O ano de 1968 ficou conhecido como o ano que não terminou. Movimentos de estudantes de esquerda protestavam em Paris contra o capitalismo e ditaduras militares espalhadas pelo mundo à fora e incendiavam ruas da capital francesa. O movimento ficou conhecido como "Maio de 68". O turista contava essa história para o filho no museu do Louvre com entusiasmo e alegria. Percebia-se isso em seu rosto. Relembrar é viver duas vezes a mesma história. Ele continuou sua narrativa, colocou a mão sobre o ombro do filho adolescente e dizia: "veja, meu filho, que maravilhas de obras. Isto aqui me faz lembrar um dia na minha juventude, quando fui visitar um museu em Nova Iorque. Lá eu vi um quadro muito lindo, mas que me deixou triste. Era um quadro de um trem e umas pessoas com cores muito vivas. lembrava dores. Depois daquele dia sempre pensei naquele quadro. Não sei por que, mas esse quadro sempre vem à minha mente. Ele aparece até em sonhos.". Eles entraram numa outra sala grande cheias de quadros e nós atrás deles. De repente o turista-pai aponta para a parede e dá um grito que ecoa no salão e museu inteiros: "O QUADRO!! O QUADRO!! PAI DO CÉU!! Ó, NÃO!! OLHA O QUADRO ALI, MEU FILHO". O rapazote se assustou e colocou as duas mãos na boca. O pai dele todo eufórico se jogou no chão e começou a chorar de tanta felicidade de ver o quadro outra vez. O mesmo quadro que ele vira em sua juventude, nos idos de 1968. Ele chorava copiosamente e apontava para o quadro. Todos os outros turistas e a guia do museu se assustaram com a cena e ficamos assistindo imobilizados sem saber o que acontecia. Se era um ataque de euforia ou se era um teatro. Parecia que ele estava em transe hipnótico. O filho não arredava pé de junto do pai e o abraçava num gesto de solidariedade. Havia seguranças em toda parte. Câmeras filmando e gravando tudo. O turista conseguiu sentar-se no chão do museu. Depois, pediu água para o filho, que estava com uma garrafinha de água mineral na mão. Tomou a água e tentou se levantar e respirar fundo. Cheguei perto dele e dei-lhe minha mão. Ele aceitou e fez força. Levantou-se e encaminhou para a parede onde estava o quadro. Mas antes de chegar perto da obra-de-arte, desmaiou de felicidade. Tentei ampará-lo, mas foi em vão. Os seguranças correram e o socorreram. Pára-médicos do museu reanimaram o turista ali mesmo. O filho do turista gritava desesperado com o pai. A guia do museu abraçou e consolou o rapaz. Enquanto isso, um senhor de terno preto petróleo Armani, aparentando uns 50 anos, cabelos longos encaracolados, castanho-claros entrou na sala onde tudo aconteceu, foi até a parede onde estava o quadro e o apanhou e levou embora, acompanhado por dois seguranças. Ele passou por mim, deu um sorriso e disse: "Sabe por quanto este quadro vai ser vendido hoje no leilão da Casa Christy?". "Posso fazer ideia.", respondi. "Dez MILHÕES de dólares. O leilão é hoje à noite. Te espero lá". O susto foi grande, mas o turista se recuperou rápido. Voltou de uma sala-ambulatório, abraçado pelo filho, que sorria de alegria do pai estar bem. O turista queria se aproximar da sua obra favorita, para contemplá-la melhor. Outro susto. Onde estava o seu quadro? Que mistério era aquele? Uma armadilha? Quem tirou o quadro da parede? O que aconteceu com o quadro enquanto ele teve um ataque de euforia? Ele não acreditava no que estava acontecendo. O quadro que sempre marcou sua memória, sua vida, que finalmente o encontrara e tinha a oportunidade de conhecer a obra mais detalhada, mais a fundo e mostrar tudo para seu filho que o acompanhara a Paris pela primeira vez, para ver e apreciar as obras-de-arte dos museus parisienses; não era possível que o seu quadro misterioso tinha desaparecido assim, sem mais nem menos. Ele olhou para a parede vazia, para o filho assustado, para os seguranças, para a guia e os demais turistas visitantes, voltou-se para mim e disse: "Por favor, o senhor pode me explicar o que aconteceu aqui ". Respondi: "Nada de mais, meu senhor. O dono do quadro, o artista que pintou a obra, veio aqui com dois funcionários do museu e o levou para a Casa Christy. O quadro vai a leilão hoje à noite. Se o senhor quiser, pode até comprar o quadro. Acaso o senhor sabe quem é o autor e quanto vale essa obra-prima?". Ele só balançou a cabeça negativamente e foi saindo do salão abraçado pelo filho, que estava um pouco decepcionado com o desfecho do episódio. No dia seguinte a manchete do Le Monde, maior jornal de Paris, estampava: " Quadro OULIPÔ, vendido por 10 milhões de dólares”. Levy, artista franco-brasileiro, filho de banqueiro de origem semita, o autor do quadro, doou todo o valor para o Museu do Louvre. Depois do leilão, chamei minha linda assessora e assistente e rumamos para o ateliê do artista Levy. Entramos e fomos recebidos com festa e champanhe. Ele me viu entrando e dirigiu-se a mim, levantou os dois braços para o alto, com uma taça cheia de champanhe, me abraçou e disse: "Então, meu caro Marquês, gostou da notícia sobre o meu quadro? Agora ele pertence a um Banco japonês. O Museu do Louvre engordou sua conta em dez milhões de dólares e eu atingi a imortalidade na arte. Sou o único artista plástico brasileiro vivo a conseguir tamanha façanha. Façanha de Hércules. Que tal? mandei bem?", finalizou sorrindo e bebendo seu espumante. Dei uma olhada nele de cima em baixo e pensei: A Metafísica existe e é possível. A vida e a física quântica existem mesmo. A catarse estética serve para isso. Para o ser humano deleitar-se com ela. Respondi-lhe: "Levy, o que aconteceu ontem no museu e na Christy se chama 'me-ta-fí-si-ca'. Oulipô! você merece! Essa é a verdadeira Catarse Estética. Parabéns, meu caro Levy! você é meu herói". Brindamos à sua saúde e ao seu sucesso. Ele abraçou suas namoradas e saiu sorrindo. Voltei para o hotel. Pensei em escrever sobre a catarse estética na arte, na vida do homem, mas me deu preguiça e fui para a cama embriagado de champanhe, na companhia da minha linda e competente assessora Susy Q. Só hoje lembrei-me dessa história. Espero que a metafísica encontre a catarse e revolucionem a minha estética literária. Sou adepto do Zen-nadismo e representante do Neo-Oulipô. A metafísica criou essa catarse. O Zen. OULIPÔ!