11/06/2024
Procura-se
Um lugar em que
se possa tocar,
cantar e poetizar
às pessoas, pássaros,
árvores, praças,
livros, flores, canções
que nasceram
nessa vida,
nas ruas,
vilas, cidades,
cantos, recantos,
regatos, escolas,
teatros, rodas,
creches, ritos...
e que ficaram
esquecidas
num canto,
feito alguém
que acorda
e vive nas ruas
daqui, ali,
acolá, alhures.
Canções
que nunca
existiram
para a maioria,
pelo fato de não
serem ouvidas,
mas salvaguardadas
pela memória
de quem
as compôs,
tocou e cantou
quando a sensibilidade
trouxe caminhos
e signos.
Museus, escolas,
teatros, ruas,
esquinas, bares,
terreiros,
encruzilhadas,
casas, galpões, tribos...
peço licença
para levar
um canto
que recolhi
na vida,
um batuque,
um pranto
alegre e triste
de arpejos,
mais a poesia
inerente
aos encontros
e descobertas
nessa jornada,
passagem
por essa terra,
onde acordamos
um dia,
escolhidos
que somos
pelos lugares,
territórios,
sobre os quais
fazemos canções
de amor, modas,
violadas,
cantatas voltadas
também para se opor
a segregação
e as injustiças
desse mundo,
e convocar vontades
para mudar esse mundo,
como diz o poeta,
vasto mundo,
Raimundo
que somos
na rima
e na lida
dessa vida.
Não há palco
nem tão pouco
separação
de quem canta
e o que chamam
de plateia,
pois caso
esta última exista
é de sua autoria
tudo que se manifesta
nas canções,
e tudo é canto,
tudo é poesia,
tudo é vida,
sendo que viver
a cantar, é melhor
do que não cantar
e viver a morrer,
porém muitos
trancam seu canto
em criados – mudos,
afastando-se
da arte de cantar.
Diante do valor atribuído
a um e a outro,
medidas a fazer
de todos
mercadorias,
coisas,
cada qual
com um código,
uma categoria,
um lastro,
um preço,
um negócio
para concorrer,
competir...
incoerência humana
pois o que existe é a arte,
sendo assim,
os que não concorrem
e nem vestem
as embalagens exigidas
para que as portas se abram,
estão fadados
ao esquecimento,
pois a falta de adequação
aos mercados
e até mesmo
aos espaços
da coisa pública,
impedem a difusão
dos sem – embalagem,
dos sem - lastro,
e a tal embalagem
passa a valer
muito mais
que a expressão,
e, nesse mundo,
passa a ser
o que importa,
exporta, vende,
revende, algoritimiza-se,
monetiza-se em bônus,
lucros, pontos, méritos,
ditando, mesmo dentro
do que se diz
ser “cultural”
o que é melhor,
na verdade
o que é mais adaptado
…. … … … …
às programações, alegorias, tendências e até curadorias,
editais, lugares de fala,
narrativas, financiamentos
nessa sociedade
em que estamos
a nos consumir,
na qual os sentidos
perceptivos
são domesticados
para gerar
armadilhas
que nos envolvem
em simulacros
da mesmice
e da hipocrisia.