26/09/2024
A Única Forma de Habitar no Esconderijo do Altíssimo é Estar "Morto" (Salmos 91. 1)
Introdução
A vida cristã é frequentemente representada como uma jornada de fé, na qual o crente busca refúgio e proteção em Deus.
O Salmo 91:1 promete que “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará”, oferecendo uma visão do descanso e segurança divinos. No entanto, para alcançar esse estado de proteção plena, o apóstolo Paulo apresenta um conceito crucial: a morte espiritual. Em Colossenses 3:3, ele afirma: "Porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus". Este artigo busca explorar a relação entre a morte espiritual e o acesso ao "esconderijo do Altíssimo", sugerindo que a única maneira de experimentar a proteção divina é por meio de uma completa entrega e morte para o eu.
1. O Esconderijo do Altíssimo: Uma Promessa de Proteção
O Salmo 91 é amplamente considerado uma das mais profundas descrições de segurança e proteção para os fiéis. Ao declarar: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo”, o texto sugere que essa proteção não está disponível para todos, mas sim para aqueles que "habitam" nesse esconderijo. O verbo "habitar" implica um relacionamento contínuo e íntimo com Deus, e não apenas uma visita ocasional ou superficial. Estar "à sombra do Onipotente" evoca a imagem de alguém sob a proteção e o cuidado constante de Deus, semelhante ao pastor que cuida de suas ovelhas (João 10:11).
A ideia de esconderijo remete à segurança absoluta. No Antigo Testamento, a presença de Deus era muitas vezes associada a lugares de proteção, como a “rocha” em que Davi se escondia (Salmo 18:2) ou o “refúgio” mencionado repetidamente em outros salmos (Salmo 46:1). Essa proteção, porém, está reservada para aqueles que têm um relacionamento íntimo com Deus e confiam completamente Nele.
2. A Morte Espiritual: Renunciando ao Eu
A morte espiritual, conforme apresentada em Colossenses 3:3, é um elemento central para se habitar no esconderijo do Altíssimo. Quando Paulo afirma “morrestes”, ele não se refere a uma morte física, mas a uma morte para o pecado, o mundo e o eu. Essa morte espiritual é o ponto de partida para uma nova vida em Cristo. A morte do velho homem, ou a natureza pecaminosa, é uma ideia recorrente nas epístolas paulinas. Em Romanos 6:6-7, Paulo declara:
“Sabendo isto, que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao pecado. Pois quem está morto está justificado do pecado.”
Essa crucificação do "velho homem" implica uma renúncia total da antiga vida, caracterizada por pecados, egoísmo e independência de Deus. Morrer para o pecado significa que o crente não está mais sujeito às inclinações da carne, mas vive de acordo com o Espírito Santo (Romanos 8:1-2). Portanto, para habitar no esconderijo do Altíssimo, é necessário, primeiro, morrer para a antiga natureza.
3. A Vida Escondida em Cristo
Colossenses 3:3 não apenas menciona a morte espiritual, mas também introduz um conceito profundo: “a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”. Estar escondido com Cristo é uma metáfora de proteção e segurança espiritual. Assim como o Salmo 91 fala da segurança de habitar à sombra do Altíssimo, Colossenses apresenta a segurança de estar com Cristo. Essa união com Cristo é o que garante ao crente uma vida segura e protegida, não apenas no presente, mas também na eternidade.
A expressão "escondida" sugere que a verdadeira vida do crente está oculta, segura em Cristo. A vida em Cristo transcende a vida terrena, conectando o crente ao reino celestial. Em Efésios 2:6, Paulo declara que Deus “nos ressuscitou juntamente com Ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus”. Isso indica que a verdadeira vida do crente está em uma esfera espiritual, onde a morte física não tem poder. A vida escondida em Cristo é uma vida protegida da condenação, do medo e da insegurança.
4. O Caminho do Discipulado: Morrer para Viver
A morte espiritual não é um evento único, mas um processo contínuo de discipulado e santificação. Jesus enfatiza a necessidade de negar a si mesmo para segui-lo. Em Lucas 9:23, Ele diz:
“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me.”
Tomar a cruz é uma imagem clara de morte. A cruz era um instrumento de execução, e Jesus está chamando seus seguidores a morrer diariamente para si mesmos. Essa renúncia ao eu é a chave para experimentar a vida abundante que Ele oferece (João 10:10). Portanto, a morte espiritual é um pré-requisito para viver sob a proteção divina.
Além disso, o processo de santificação envolve um esforço contínuo de abandonar as velhas práticas e adotar as características de Cristo. Paulo, em Colossenses 3:5-10, exorta os crentes a "mortificar" os membros terrenos e a "revestir-se do novo homem". Esse processo de morte para o pecado e renovação em Cristo é o que permite ao crente permanecer no esconderijo do Altíssimo.
5. A Morte Como Refúgio de Proteção
A morte espiritual não apenas nos esconde em Cristo, mas também nos oferece uma proteção espiritual. A vida antiga, vulnerável aos ataques do inimigo, é substituída por uma vida escondida em Deus. A morte espiritual coloca o crente fora do alcance da condenação e das acusações do maligno. Como Paulo declara em Romanos 8:1: “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.”
Ao morrer para o pecado e para o mundo, o crente é elevado para um novo status espiritual. A sua vida agora está segura em Deus, onde as forças espirituais malignas não podem alcançá-lo. Assim como uma cidade fortificada oferece refúgio aos seus habitantes, estar morto para o mundo e vivo para Deus é uma fortaleza espiritual.
Conclusão
A promessa de habitar no esconderijo do Altíssimo, descrita em Salmos 91, é uma poderosa expressão de proteção e segurança. No entanto, Colossenses 3:3 revela a chave para acessar esse refúgio: a morte espiritual. Somente por meio da morte para o pecado e para o eu é que o crente pode experimentar a verdadeira vida escondida com Cristo em Deus. O processo de discipulado envolve uma contínua renúncia ao eu e uma busca pela santidade, que nos conduz ao esconderijo de Deus. Portanto, a única forma de habitar no esconderijo do Altíssimo é, paradoxalmente, estar “morto” para o mundo e vivo em Cristo.