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02/02/2025
VOU DE TÁXI!
Pará Visagento
A mais clássica das visagens de Belém, aquela que adora turistar de táxi. A Lenda urbana de Josefina Conte: A Moça Do Táxi.
Era uma noite fria de chuvisco de 19 de abril de um ano qualquer, os ponteiros marcavam zero hora. As ruas de Belém estavam completamente soturnas e encobertas por um fino nevoeiro comum das noites de inverno amazônico. O taxista Alcides vinha dirigindo a altura da Avenida José Bonifácio em sua Brasília amarela, resolveu dar um último balão a fim de conseguir mais alguns cruzeiros. Ao passar em frente ao cemitério de Santa Izabel, viu longe um vulto branco acenando para seu veículo na pouca claridade do poste. Seu Alcides estava pronto para sua última corrida. E seria a última mesmo. Parou o táxi no portão do cemitério e uma moça bem jovem abriu a porta traseira, sentou-se, calada.
Alcides perguntou:
- Qual o destino, jovem?
Ela, com voz suave, respondeu:
- Sabe, hoje é meu aniversário e meu pai me presenteia todo ano com uma viagem de carro. Então, me leve pelas ruas do centro de Belém.
Seu Alcides estranhou o pedido, ainda mais vindo de uma jovem e tão tarde da noite. Mas, acostumado a não argumentar com seus clientes, obedeceu ao inusitado pedido. E assim o táxi andou pelas ruas da mangueirosa, pelas largas avenidas do Bairro de Nazaré às estreitas ruas da Cidade Velha. Após uma hora rodando, Seu Alcides já estava preocupado, o valor da corrida ia dar bem alto, mas, como se aquela moça lesse seus pensamentos:
- Não se preocupe, meu pai vai pagar a corrida. Me leve novamente ao cemitério de Santa Izabel. O taxista rumou para lá. Ao chegar, a moça lhe entregou um bilhete.
- Olha, como eu disse, a corrida é por conta do meu pai. Aí, nesse bilhete, está o endereço para a cobrança. Como já está tarde, vá pela manhã, logo cedo.
E assim a moça saiu do veículo, Seu Alcides ainda olhou para ela, pele muito branca, cabelo curto chanel, vestido branco, parecia tirado do fundo do baú. Encucado com tudo aquilo, seguiu para sua casa, já era para estar dormindo. Pela manhã, logo cedo, ansioso para pegar a bufunfa da corrida, seguiu para o endereço do pai da moça. Era o nobre bairro do Reduto, parou em frente a uma casarão de Barão. Tocou a campainha e um velhinho veio lhe atender. Era um italiano, dono de uma das sapatarias mais famosas de Belém.
- Bom dia, senhor! Vim cobrar a corrida de sua filha de ontem à noite. Aqui está o bilhete dela e aqui o valor da corrida.
O italiano arregalou os olhos:
- Eu não tenho filha...
O taxista olhou para o retrato na parede, bem de frente à porta, e reconheceu a moça da corrida.
- Não br**ca. É essa do retrato!
Com voz embargada, o velhinho respondeu sem rodeios:
- Ela é falecida e já tem muitos anos.
Na hora, o chão de Seu Alcides caiu. E um calafrio desceu pelo seu corpo.
- Mas não se preocupe, eu vou pagar a corrida, tu não és o primeiro. Todo ano acontece na data do seu aniversário.
Alcides, ali estático, branco como um papel, olhava petrif**ado para o retrato da parede.
- Aqui está! Não se assuste, ela só queria passear. Se quiser, vá ao cemitério de Santa Izabel, esse mesmo retrato está em seu túmulo.
Alcides saiu daquela casa suando frio, embasbacado, entrou em sua Brasília e com uma má impressão que a moça estava no seu banco de trás. Dali foi para o cemitério de Santa Izabel, até a quadra do seu túmulo, e deu de cara com um monumento com o retrato da moça. Desembestou a correr e, no caminho, encontrou o coveiro e contou tudo o que sucedera.
- Não és o primeiro, já vieram vários taxistas contando a mesma história.
Retrucou o coveiro. Dali correu a ponto de ter um passamento, foi até a pista onde havia um ponto de taxistas, contou, já falando coisa com coisa. Os taxistas riram achando que estava "mamado".
Mas um deles falou baixinho:
- Acredito. Aconteceu com meu tio. Igualzinho. Mas ele ficou doido e foi pro hospício.
Alcides foi dirigindo com as maos trêmulas no volante até a Igreja dos Capuchinhos. Rezou uma reza e disse que nunca mais voltaria a ser taxista. Não ficou doido, mas normal também não ficou.
No outro dia, vendeu a Brasília amarela. Passou a andar de ônibus, mas mal Alcides sabia que em Belém tem visagens que adoram uma viagem de busão. Mas essa já é outra história.
Essa é a famoso causo de Josefina Conte: A moça do taxi. História contada e recontada pelo povo. Autêntica visagem papa-chibé. Alguns podem dizer que essa história tem em vários estados do Brasil. Mas com nome e sobrenome, tendo o túmulo como prova e ainda virando uma santa popular. Eu garanto que em outro lugar não há.
Texto e ilustração: Joseph Kalazans