
23/01/2025
Quem foi João Firmino?
Marcado na memória da cidade como nome de uma das principais vias do bairro Assunção e de uma das escolas do Jardim Lavínia, João Firmino Correia de Araújo nasceu em Recife-PE, em 1892. Pertencia a uma tradicional família do Nordeste – seu pai, Francisco Altino Correia de Araújo, foi governador da província do Rio Grande do Norte durante o Império, e seu irmão, Mário Altino Correia, deputado federal nos anos 50.
João cursou o tradicional Ginásio Pernambucano (1) e, a partir de 1907, a Faculdade de Direito de Pernambuco (2), caminho profissional quase natural da elite local na época, tendo estudado ali na mesma época do empresário Assis Chateaubriand, de quem foi amigo (3). Paralelamente à faculdade, ingressou na carreira pública, sendo nomeado solicitador da Fazenda do Estado em fins de 1908 (4). Já formado, casou-se em 1914 com Ignez Barreto. Em fins daquele ano, o casal residia em Olinda, junto à Praia de São Francisco (5).
Nos anos seguintes, seguiu sua carreira burocrática: em 1916 era agente fiscal da alfândega de Recife, função pela qual foi, em 1923, designado para prestar serviço no Rio de Janeiro, então capital do país (6).
Morando no Rio, aos poucos se aproximou da elite da cidade, participando de festas e eventos em locais como o Copacabana Palace, junto com figuras ilustres da sociedade carioca (7). Em 1928, concedeu entrevista ao Jornal do Brasil, que queria saber dele informações sobre a situação social e política de Pernambuco. Na entrevista, comentou sobre Lampião e o banditismo do cangaço, que então afligia o estado. Disse ele: “Não é só Lampião com seu temível bando que infelicita o Nordeste; muitos outros lampiões existem que em nada o iluminam, pelo contrário, o escurecem, trazendo o terror e a desolação àquele boníssimo, feraz e imenso pedaço do território pátrio. Ou o sertanejo adere ao cangaço ou se evade, por falta de necessárias garantias, abandonando suas fazendas, roçados ou lavouras, de tal modo que a produção de toda aquela região vem diminuindo consideravelmente. Por isso eu penso que o combate ao banditismo é o problema mais urgente para nós.” (8)
Próximo de figuras influentes da ditadura de Getúlio Vargas (1930-1945), como o ministro Oswaldo Ar**ha (9), João Firmino passou por outras funções de relevo na carreira pública, até aposentar-se em 1943, após integrar o Conselho de Comércio Exterior do governo federal (10).
No mesmo ano, mudou-se para o estado de São Paulo e iniciou carreira como empresário, tornando-se sócio majoritário e presidente da recém-fundada siderúrgica Confab (então localizada na Av. Prosperidade, em Santo André, próximo da divisa com São Caetano) e da Indústria Gaseificadora Vitória, em São Paulo (11). Foi nessa época que João Firmino adquiriu dos japoneses da Colônia Mizuho uma chácara em São Bernardo, batizada de “Três Lagos”, situada na Estrada do Alvarenga, no local onde depois estiveram os clubes Aranamy e Comodoro e hoje se encontra o Colégio Salvador Arena. Na chácara, Firmino edificou uma capela, a pedido do Padre Fiorente Elena, concluída em 1947, existente até os dias de hoje.
Associando-se com moradores vizinhos, como Vincenzo Zincaglia, Firmino ajudou a financiar a extensão da energia elétrica ao longo da estrada do Alvarenga, desde seu início, no km 23 da Anchieta, até a altura de sua chácara, num total de 3,5 km (12). As obras, executadas pela antiga Light, começaram em 1944 e foram concluídas em 1945. Segundo o memorialista Mario Stangorlini, antigo morador do Bairro Assunção, a inauguração ocorreu com uma feijoada de confraternização na chácara de Firmino, que teve a participação de moradores, autoridades municipais e funcionários da Light.
Firmino faleceu em sua chácara em 30 de dezembro de 1952 e foi sepultado no cemitério da Vila Euclides. Em 1954, em sua homenagem, trecho de 1650 metros da antiga Estrada do Alvarenga, a partir da Via Anchieta, foi batizado com seu nome (13). Em 1970, ele receberia nova homenagem com a redenominação do antigo grupo escolar do Jardim Lavínia (14).
Notas:
1 - Diário Pernambucano, 10-11-1903
2 - idem, 18-01-1907
3 - Moraes, F. Chatô, o Rei do Brasil, 2016
4 - Diário de Pernambuco, 10-12-1908
5 - idem, 14-11-1914; A Província,29-09-1914
6 - Jornal Pequeno, 17-02-1923
7 - A Noite 24-08-1935
8 - Jornal do Brasil, 08-01-1927
9 - Diário da Manhã, 11-09-1934
10 - Jornal do Commercio, 05-04-1941 e 2-12-1943
11 - Diário Oficial do Estado de São Paulo 21-10-1943 e Correio Paulistano 13-03-1945
12 - Stangorlini, M. As Colônias no Bairro Assunção. 1997.
13 - Lei PMSBC 265 de 27-02-1964
14- Decreto Estadual de 26-11-1970
Pesquisa e texto: Centro de Memória de São Bernardo
Imagens:
Acima, João Firmino em imagem publicada no jornal Correio da Manhã de 20 de dezembro de 1933; abaixo, a capela por ele construída em 1947 na sua chácara, na Estrada do Alvarenga - foto de 1969. A capela ainda existe na área, que atualmente abriga o Colégio Engenheiro Salvador Arena.