Anderson França

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29/12/2024

Tem um fenômeno curioso acontecendo em Portugal. Quando morei lá, o português era o maior inimigo do brasileiro. Isso é histórico, não havia surpresa. Com a ascensão da extrema direita, e até um brasileiro negro neonazista eleito (🤔), os brasileiros agora são também os piores inimigos deles mesmos - e de outros imigrantes.

Brasileiros hostilizam indianos, nepaleses e árabes, dizendo que estes estão destruindo Europa e deveriam voltar pro seu país. Quem diz isso é o sujeito que mora num país que não é dele, igualmente imigrante, cujo país está inclusive aniquilando a língua local, pelo YouTube. Esqueceram que portugueses chamam brasileiras de putas, e homens de macacos.
Que plot twist. O Capitão do Mato 2.0.

27/12/2024

O espiritismo vai ser uma importante ferramenta de combate ao crime.

Claudio Castro, governador do Rio, vai abrir edital para policiais kardecistas.

Na madrugada da quarta feira, no humilde bairro de Osvaldo Cruz, uma câmera filmou um assalto praticado por um FANTASMA. O espírito levou uma bicicleta.

Crentes e ateus dirão que era Adejair, vestido com um lençol branco. Mas é uma forma de deslegitimar a caprichosa doutrina de Alan Kardec. Adejair é conhecido por roubar bicicletas, calotas de Kombi, baldes e butijão de gás. Os incrédulos na paranormalidade dizem que foi ele.

Mas a Federação Espírita do Brasil emitiu nota assinada por Divaldo Bolsonaro Franco, que confirma que era um espírito obsessor, que continua agindo na Terra.

Segundo fontes cavernosas, o espírito não é ladrão. É fissurado em crossfit. O que estabelece a certeza que os espíritos estão interessados em fazer exercícios. Não demorará muito para que espíritos comecem a roubar Ozempic na Drogaria Pacheco.

O FANTASMA DA BIKE ronda Osvaldo Cruz. E apenas policiais com capacidades mediunicas poderão fazer a ronda ostensiva e perseguir os para-meliantes.

A Delegacia de Crimes Espirituais funcionará com sede na Cidade de Deus, pois é de Deus, que sabe de tudo mas não é X9.

No lugar de armas na cintura, os policiais usarão velas.

Se você tem a habilidade para falar com espíritos Elzadores, aguarde o edital que sairá em janeiro.

26/12/2024

Tarcisio é um genocida.
Não sei quantos lembram, antes de Tarcísio, o governador com maior número de mortes nas costas era ele mesmo: Geraldo Alckmin.

Alckmin matou tanto, que o PT se mobilizou pra denunciar ele.

Hoje, ele é amigo de Lula.
E vice.
Compensa matar preto.

A PM de Tarcisio matou jovem à queima roupa. A PRF atirou contra uma família, cuja filha está no hospital em estado grave. O Ministro da Justiça, chefe da PRF, não deu uma palavra. Nem Lula.

Em resumo: não é despreparo. É projeto.

25/12/2024

Hoje é aniversário de Xande de Pilares, e eu queria falar sobre um PATRIMÔNIO do subúrbio:

Padaria e Pizzaria York.
O lendário rodízio de pizza da York.

Se você não conheceu a York, você nunca poderá dizer que viveu a vida que Deus te concedeu. Porque só quem saiu arrastado por amigos e estranhos, para uma ambulância do SAMU, depois de comer por 12 horas ininterruptas na York,

viveu intensamente a dádiva da vida -
louvado seja Jesus Cristo Senhor dos Senhores,
Exu de ama,
eu só te considero.

O paraíso dos amigo, dos apreciadores de rodízio de pizza, dos esfaimados, esganados, CONDENADOS AO PRAZER DO ALIMENTO, do queijo derretendo na sua boca, a pizza de

mussarela
estrogonofe
calabresa
batata frita
hamburguer
carne seca
chocolate
sorvete
churros
CHURRASCO

e mais 42 sabores para você e toda sua família.

Ficava no Largo da Abolição, e hoje não funciona mais. Tem uma outra padaria lá. Mas nunca o mesmo glamour.

Todos os dias a York funcionava, mas a chama da paixão e o calor no meu bundão era de quinta à sábado. Não tinha Roquenrio, carnaval, vigília no monte, não tinha nada mais importante que juntar 23 reais na época, e ir pra York, das 18 até o último cliente e ver O CARROSSEL DO QUEIJO, DO AMOR, uma caralhada de pizza passando uma atrás da outra, os garçom batendo os talher na bandeja, INSISTINDO PRA VOCÊ COMER, eles eram uma SEGUNDA MÃE PRA MIM, porque só minha mãe se preocupava tanto com minha alimentação.

Você, meu amigo, meu irmão,
zinho,

você f**ava numa fila,
pra entrar na York era uma fila que subia a Ferreira Leite, CENTENAS DE IRMÃOS E IRMÃS DA SA*****EM LATICÍNIA.
Nem Los Hermanos lotou o Maracanã assim. Por isso vocês tem que respeitar a Zona Norte, porque o que vocês encara de fila pra ver show de Taylor Swift no Engenhão, a gente faz por causa de uma fatia de pizza.

E vou te falar, a Parmê tem a manha. Mas a Parmê nunca trocava 5 minuto de p***ada com a York, que a York lavava ela no pau.

Eu lembro na fila, já olhando pra dentro e vendo as pessoas se alimentando, rindo, gritando, garçom-mãe, e eu já ali na janela cheio de tesão alimentício. Meu corpo se tremia todo, eu segurando os 23 merréis contado na mão suada, eu tava viciado, cara, eu era, aquilo era meu pó, minha maconha, meu vício é você, meu cigarro é você, eu te bebo, eu te chero, eu te fumo.

Na hora que a fila andava e chegava tua vez, o garçom fazia com a mão o número de pessoas pra entrar, eu me cagava molhado de tanto nervoso, eu tava diante da maior experiência da vida.

Eu ia com os amigo, e quando a gente conseguia tirar um cartão de crédito a gente tinha o combinado de estourar ele todo na York e deixar um abraço pro Bradesco, que nunca mais ia saber da gente. Recomendo? Jamais. Mas a vida foi assim.

Walter Salles dono do Itaú faz filme,
Bradesco arcou com muita pizza minha.
É assim que o capitalismo é.

Viado,
a gente comia pra ca***ho.
E vinha Coca Cola de lata? De garrafinha? KS?
Não.
Vinha DE 2 LITRO.

Tinha a opção de 2 litro no bagulho. Comida regado, Coca de Litro, a pergunta que eu te faço é: porque eu saí dali? Porque eu não morei dentro daquele lugar até o seu fim? O mundo, meus amores, não importa, nada era mais maravilhoso que estar ali.

Relíquia da Zona Norte.
Comia Lula, comia Bolsonaro, ninguém era brigado na época.
O Brasil acabou e se dividiu no dia que a York fechou. Era a York que segurava a paz do Brasil.

Então um dia, eu e os cara, uns 15, a gente enchendo o rabão de comida, o Canela me cutuca e diz: alá.

A gente olhou pra porta, e era ele.
Alexandre Silva de Assis e Pilares Fernandes,
o Xande de Pilares.

A Zona Norte era dividida em duas capitania. A da Leopoldina com o Imperador Adriano, a da Central com Xande de Pilares.

P***a, eu nem acreditei. O cara adentra na York. Ou a gente já tava doidão de pizza, ou era ele mesmo. E a gente puxou na mesa:

Ergue essa cabeça, mete o pé e vai na fé
Manda essa tristeza embora
(vai comendo nessa hora)

P***a. Era nosso.
Tu é meu.
Bagulho nosso, só quem é.
Quando te perguntarem o que é o subúrbio, lembra desse texto.
O subúrbio do Rio é uma irmandade de adoradores do prazer. Apenas.

Sem a gente, o Rio ia ser chato pra ca***ho, esse pessoal da zona sul fazendo palestra de filosofia, os cara nem come, e quando come é salada.

O Rio é uma cidade boa demais pra não ter a Zona Norte.
Só o Pão de Açúcar não ia sustentar o Rio, precisa do taxista, do pagode, do correria, de gente com cara de gente, com cheiro de gente, com fome de gente.

Essa é a parada.
Sempre f**amos na dúvida se era o Xande, mas se não foi, era uma visão de Deus.

Então, no aniversário dele, lembrei disso.
A York não existe mais, mas a Zona Norte é eterna. E a fila pra comer em rodízio, também. E o cara que carrega Pilares no nome, defende a nossa cara, o proceder correto.

Deus abençoe o amigo.
E a York vive pra sempre nos nossos corações.
Largo da Abolição tem que ter um monumento em formato de pizza. Alô Eduardo Paes, favor providenciar.

24/12/2024

Eu só desejo que você tenha algo para jantar hoje. Algo pra comer, você, suas crianças. E que possa depois disso dormir, em segurança.

Desejo que você, que está trabalhando hoje, possa voltar pra casa e encontrar alguém te esperando com um abraço. É você de volta pra casa.

Desejo que você não sinta solidão.
Se isso te acontecer, a noite vai passar rápido. Amanhã já não falaremos mais deste dia.

Desejo que você pense uma, duas vezes, três vezes antes de abrir a boca. Não se irrite. Guarde pra você. Faça o que tem de ser feito.

E desejo que você continue acreditando na sua vida. Ela é a única coisa que importa. Se você está se sentindo tocado por isso que estou escrevendo, é porque eu e você sabemos que precisamos falar disso.

Jesus, não sei o dia em que nasceu, com certeza não foi hoje, mas ele não nasceu num hospital. Independente do dia, quando ele nasceu não havia lugar para ele nascer. O básico. Ele nasceu num galpão de madeira, onde os animais dormiam, ele nasceu dentro de uma caixa de madeira onde os porcos comiam.

Ele, e uma mulher cansada, sangrando sozinha, com dores. Uma mãe e uma criança nos braços, solitária na floresta de concreto e aço.

Ele nasceu neste lugar, porque não havia um lugar disponível para dormir. Não havia hospital, UPA, emergência.

Todas as portas estavam fechadas.

Jesus nasceu numa sociedade de portas fechadas.

O palestino, favelado, nasce numa sociedade que não tinha portas abertas pra ele. Ele era incômodo. Ele não era bem vindo. Nem ele, nem a mãe.

Sobre o seu berço no comedouro dos porcos, uma sombra se levantava. Uma cruz romana, objeto de tortura, na qual ele seria morto anos depois. O destino dele tava traçado. Como o destino do jovem negro que nasce hoje, a sombra de um PM sobre ele, decretando sua sentença.

Jesus nasceu numa sociedade de portas fechadas, com sua sentença de morte pronta. Assim é o negro e favelado nas periferias. Não tem porta aberta pra ele, e ele tem dia certo pra morrer.

É esse homem que eu sigo.
Todo resto, não me importa.

Eu desejo que você tenha algo para comer hoje. Que seu filho tenha.

Paz e bem.

18/12/2024

Algumas pessoas vieram me dizer que talvez eu esteja sendo injusto com o pastor Kleber Lucas, considerado progressista, cuja música é cantada por Caetano.

Eu não só discordo, como acho que Kleber e Caetano ainda pioram a situação.

Vou falar sobre isso, mas vou começar te contando uma coisa que eu vivi.

Eu estava descendo uma rua de Santa Teresa, numa manhã, e eu acho Santa Teresa muito bonito. Eu procurava um apartamento pra morar lá, um kitinet. Na época eu morava na Vila Aliança e era muito longe de tudo, do Rio, do Centro, e eu trabalhava vendendo quentinha no Méier. Eu namorava uma moça, e a gente ia morar junto, dividir o aluguel.

Andei muito em Santa Teresa, e as ruas, as árvores, o cheiro das árvores, o sol entre as árvores, eu nunca tinha visto um lugar mais bonito. Eu queria mesmo morar ali. Porque morar na Vila Aliança era barra pesada demais. Era sangue e gente morrendo, todo dia. Até hoje.

Eu fui descendo pro Bairro de Fátima, andando, olhando pra rua, pras casas, e eu estava flutuando. Eu ouvia no fone uma música de Djavan, "Ladeirinha". Eu amo essa música, e na época, eu ouvia repetindo umas 300 vezes por dia. Eu estava ouvindo a música certa, no lugar certo, eu estava muito cheio de vida e plenitude. Sentei num murinho, comi um biscoito Maizena, e voltei a descer.

Quando eu chego no Bairro de Fátima, passo por uma rua, e olho pra um buteco, porque tinha uma placa com PF barato, carne assada, arroz, feijão, essas coisas. E ao olhar lá pra dentro, vi os cara virado pra TV. Os copo de cerveja esquecido no balcão, e o dono do buteco aumentando a TV. Eu cheguei na porta do buteco e tentei entender o que tava passando ali.

Era um prédio em chamas.
Era 11 de setembro de 2001.

Um avião tinha acabado de se chocar contra a Torre 1 do World Trace Center. Eu olhei pro outro lado da rua, e as pessoas estavam olhando pra dentro da Tele-Rio, que era uma loja de eletrodomésticos, vendo a TV. Acho que tava todo mundo ali parado, vendo. Era o mundo se acabando.

Eu peguei o pacote de biscoito, e continuei andando, pra Central, pra pegar o trem pra Santa Cruz. Eu tinha mais o que fazer da vida. O mundo tava acabando, mas não me comovia. Eu, e de certa forma todo mundo, sabemos que um dia aquilo ia acontecer. mas as pessoas, elas parece que nunca tão preparadas pro dia que VAI chegar.

Kleber Lucas, o simples fato dele ter sido "escolhido" por Caetano pra ter música cantada em show, já revela a desgraça da Era Evangélica das Trevas que eu defendo que já começou.

Kleber não deveria ser pauta. Ele sequer deveria existir no debate público.

Eu conheço o Kleber, pessoalmente.
Me recebeu muitas vezes na sua igreja, na Barra.
Ele ajudou na reforma de um terreiro que foi destruído por crentes, anos atrás. Ele é contra Bolsonaro, ele é negro, ele é antirra***ta, ele é "do bem". Ele é amigo de gente de esquerda. Amigo de Henrique Vieira. É um "evangélico sem veneno", como uma escritora de esquerda disse.

Mas tudo isso que Kleber é, não deveria ser importante. Num país que fosse laico de verdade, ele seria apenas mais um cidadão decente, sendo decente.

Ele ajudar a reformar um terreiro é não mais que a obrigação dele, se ele realmente segue Jesus.

E a esquerda tem que tomar cuidado com os crentes "bons" e os crentes "maus", que ela decide apoiar ou cancelar. Porque nenhum crente é bom. Ninguém, de religião alguma, tem que ser eleito pela esquerda como agente político, porque ninguém, de religião nenhuma, tem que ser eleito pela direita. Simplesmente, todos os religiosos devem continuar sendo invisíveis para o mundo. Para o Estado, para a política.

É possível isso?
Sim. Veja o Padre Julio Lancellotti.
Ele não é amigo de Caetano, nem quer ser. Ele é um homem que acorda todos os dias às 5 da manha, pra fazer aquilo que ele tem que fazer: estar com os oprimidos.

Ele se veste com roupas simples. Ele não tem um carro. Ele não tem apartamento. Ele não tem igreja na Barra - e nada contra. Mas ele não tem. Ele tem cheiro de morador de rua, ele sua, ele cheira a pobre, porque essa foi a escolha religiosa dele: servir e amar o pobre.

Nesse Jesus, eu acredito.
Julio tá fora de política. Quer distância, não quer reconhecimento de classe artística, e sabe por que? Porque ELE AGE COMO SE ESTIVESSE NUM ESTADO LAICO.

França é um estado laico, embora islamofóbico.
Aqui, Kleber Lucas sequer seria notícia. Nem ele, muito menos o Malafaia.

Kleber só existe no debate, porque os evangélicos, como um todo, viraram pauta. E viraram, porque diversos líderes tem um projeto de poder com a Igreja.

A verdade é que tu não deveria nunca ter ouvido, nem de Macedo, nem de Kleber. Não era pro religioso ser aplaudido por fazer e dizer o óbvio, muito menos por dizer e fazer m***a.

Nós não deveríamos nem ter eleito Henrique Vieira, porque lugar de pastor, é na igreja. Seja ele Crivella ou Henrique. Se o chamado de Deus não é o bastante pro sacerdote, e ele precisa ir pro mundo dos homens, então ele fez uma escolha. E eu respeito Henrique. Mas já escrevi inúmeras vezes, e vou continuar escrevendo: lugar de pastor é na igreja. Martin Luther King Jr nunca se candidatou, e fez política, no lugar onde sempre esteve.

A segunda questão, é que poucas pessoas no show do Caetano vão procurar saber quem é o Kleber Lucas. E quando souberem, e souberem que ele é legal, mas veio da MK Publicitá, gravadora de Flordelis, Fernanda Brum e comandada pelo já falecido bolsonarista Arolde de Oliveira, pouca gente vai abrir o coração pra entender que tem evangélico "bom" e evangélico "mau".

Por que, meus amores, o Brasil NÃO PRECISA DE EVANGÉLICOS. Não como pauta pública. Não era nem pra gente estar falando disso. Nunca. A igreja evangélica bate em gay, lé***ca, taca fogo em terreiro, e isso nunca deveria ter acontecido, deveriam ter sido presos logo na primeira. Mas estão aí. E no meio do bololô, tem um ou outro que presta, mas a massa crente é uma b***a. E tá destruindo esse país. E os "progressistas" crentes precisam parar de se achar a salvação do Brasil, porque não são.

Porque nenhum religioso deveria salvar m***a nenhuma. Tá todo mundo errado. Eu sou crente. e eu tô errado, pelo simples fato de precisar falar que sou crente. Eu não queria jamais que você soubesse disso, eu queria viver minha vida quieto e isolado dentro da minha religiosidade. Mas não. Olha a m***a de exposição que tô tendo que ter.

Uma mulher me perguntou mais cedo: "porque você é crente? Pregunta sincera". Não sei se ela perguntou na filhadaputagem. Mas tem crente que pensa, senhora. Tem crente que aceita Orixá como Deus. Tem crente que respeita os outros, o cu dos outros, com quem essas pessoas deitam, casam.

É uma p***a o Brasil estar vivendo isso. De Claudia Leitte, de Caetano, de tudo. Eu sinto uma IMENSA saudade de quando os crentes eram 3% da população brasileira. E o Brasil, naquele tempo, era muito melhor. Os crentes já são 29%, e vão chegar a 50%, em 2050.

Não é natural para o Brasil. Se foi, para os Estados Unidos, é porque os brancos impuseram isso logo no começo. Mas no Brasil, não. Séculos de catolicismo autoritário, depois b***o, e as manifestações de fé afroameríndias, isso fez o Brasil real.

O mesmo Caetano pergunta, numa música:

Será, que será, que será, que será,
será que nunca faremos senão confirmar,
a incompetência da América Católica,
que sempre precisará de ridículos tiranos?

Parece que Caetano pensava que a América Protestante não tinha tiranos - e sempre teve, inclusive os que promoveram a ditadura, que obrigou a ele fugir do Brasil. Aliás, ninguém mais ridículo que Trump, que é crente, presbiteriano.

Caetano cantar Kleber Lucas é um fracasso. E só piora, no fim, a sopa, já azeda.

18/12/2024

Podemos falar o dia inteiro da Claudia Leitte, ou do verdadeiro problema.

Eu também posso usar o episódio da Claudia Leitte, pra fazer você prestar atenção no que eu quero te dizer. E é algo muito importante.

Mas.
Se tu quer começar essa conversa pela Claudia Leitte, deixa eu te dizer uma coisa:

Claudia Leitte, se você perguntar a ela, agora, dentro da casa dela, sem raiva, rancor, sem ressentimento algum, você colocar a mão no ombro dela e perguntar porque ela trocou a letra da música de Yemanjá, pra Yeshuá, o que gerou uma polêmica hoje no Brasil, no meio de um show, decepcionando milhões de pessoas, ela vai te dizer EXATAMENTE isso:

Eu fiz, porque eu creio que Jesus é o rei das águas, dos mares, da Terra, e não Yemanjá.

É isso.
Claudia Leitte é crente.
E o crente serve pra crer. E ela faz apenas o que um crente faz: crê. E ela crê na doutrina evangélica neopentecostal, invasiva, impositiva, que diz que Jesus é o dono de tudo. Que o Brasil é do Senhor Jesus. Portanto, é objetivo da Igreja levar o NOME DE JESUS a toda pessoa, povo e nação, em outras palavras, SUBJUGANDO, IMPONDO E TRANSFORMANDO toda e qualquer cultura, pensamento, poder que se recuse a servir essa ideologia.

Isso tem um nome: Teologia do Domínio.
Claudia Leitte acredita, de fato, que essa é a missão dela, como crente em Cristo. Ela acredita real. Ela não é "contra" ninguém no mundo. Ela só é radicalmente a favor de um Jesus que ela aprendeu que vai dominar a Terra. O Leão de Judá.

Ela deve ter chegado em casa ontem, e ter orado. Entregando a Deus todas as "hostilidades" que vocês fazem contra ela. Ela então se vê perseguida por proclamar a verdade.

Acredita em mim, truta.
Ela realmente pensa assim.

Ela, a Baby do Brasil, o André Valadão, a Maiara e a Maraísa.
A Claudia é a pontinha da goiaba.
Eu disse isso quando escrevi, dois dias atrás, sobre Caetano cantando música evangélica de Kleber Lucas no show com Bethânia.

Então, você pode chamar ela de safada, branca, ra***ta, piranha, arrombada. Tudo bem, porque da boca do povo e da cachaça ninguém escapa. Mas agora, eu vou te falar do problema real.

Curioso, que o Brasil começou na Bahia.
E é na Bahia, e com baianos, que estamos vendo o Brasil recomeçar. E esse recomeço é tão ruim quanto o primeiro, feito por católicos, agora, por evangélicos. Todos, brancos, eurocêntricos, crentes em um Jesus e um Deus dominador de culturas, o Deus Ocidental.

Um Deus que faz a mesma coisa que fez na Bíblia. O povo de Israel, que eram "o antigo povo de Deus" para os crentes, entravam numa terra "idólatra", que acreditava em outros deuses, outra fé, e derrubavam tudo, queimavam tudo, destruíam tudo. Aliás, Israel faz isso até hoje. Onde Israel pisa, haverá sangue, em nome desse Deus Domínio, esse Deus da Carnificina.

Os cristãos adotaram esse comportamento, e a Igreja Católica fez isso em Cruzadas, e também no Brasil.

Os crentes apenas copiam.

A Bahia está sendo um laboratório interessante de como um país rompe com sua História pra mudar o rumo. Baby do Brasil, no meio do Carnaval, dizendo que o Apocalipse começou e devemos nos converter - teologia do domínio.

Caetano cantando "Deus Cuida de Mim" - vitória da teologia do domínio.

Claudia Leitte mudando letra - teologia do domínio.

Uma teologia que perpetua o poder da branquitude, que fortalece a perseguição a todos que não são como eles.

O problema é que o Brasil está mudando. Antes, tinham os blocos de carnaval de Jesus. Agora, eles querem mais. Eles querem o próprio Carnaval. Querem a Mangueira cantando hino da Assembléia de Deus.

E vou te dizer, novamente: esse plano começa há 50 anos. E eles venceram. E seguem vencendo. Claudia, se processada, será mártir da fé. Mais gente vai aderir.

O Brasil já dá sinais claros de que todos vocês estão exilados no país que antes era de vocês. Não sou eu que estou fora do Brasil, exilado. No fundo, são vocês. O país em volta de vocês virou crente, conservador e cruel.

Não signif**a que você tem que aceitar ou virar crente. Mas será cada vez mais difícil ser quem você é. Você terá que fazer o dobro do esforço para falar de Exu, livremente, sem ser morto.

Claudia não se abala.
Ela tem poder econômico, tem a Lagoinha e a Sara Nossa Terra ao lado dela. Tem políticos. Tem inclusive PÚBLICO, que tá pagando por essa palhaçada.

A igreja venceu, queridos.
Nossa estratégia deve ser fortalecer uns aos outros,
porque o que vem por aí será a pior era da História do Brasil.
E eu, pasme, sou crente. Vi isso tudo acontecer. Desde criança.

Minha mãe frequentou a Universal, a primeira Universal, na Abolição, quando o Edir Macedo AINDA ERA UM CARA QUE MORAVA NO SUBÚRBIO. Vi tudo isso acontecer. Eu e muitos amigos. Agora, estamos vendo que eles venceram. Malafaia, Valadão, Macedo, Estevam, todos eles. Venceram.

O Brasil é do Senhor Jesus.
O Deus da Carnificina.
Do policial ao traf**ante.
Do cantor gospel ao Caetano.

E a luta precisa começar.

Não diga que não foi avisado.

15/12/2024

Tenho pra mim que alguma coisa no show de Caetano e Bethania, ontem em São Paulo, me parece um tipo de despedida.

Talvez não deles, ou não apenas eles, mas talvez deles, e de todos que estavam ali.

Esses dias eu estava dando aula, e na turma há uma jovem de 13 anos, e pessoas com mais de 65. Eu falei que essa jovem vai lidar com um Brasil diferente. Quando eu nasci, em 1974, o Brasil era outro. Era ditadura, mas era um Brasil muito diferente de hoje. Tínhamos outras utopias, outros discursos.

Agora, o Brasil parece que mudou, no meio da nossa caminhada, e não combinou com a gente. E esse Brasil que conhecemos, muito mais interessante, sambista, tropical, vai sendo substituído pelo Brasil conservador, evangélico, cruel, atrasado. Puxaram nosso tapete. E Bolsonaro, mesmo preso, não vai fazer aquele Brasil voltar.

E isso veio na minha mente, quando vi Caetano cantar "Deus Cuida de Mim". Música evangélica. Talvez Caetano já tenha percebido que ele também já passou. Que o Brasil onde Caetano foi Caetano, passou. E o Brasil de agora é totalmente diferente. E ele decidiu dançar conforme essa nova música. Naquele Brasil que nascemos, uma cena dessas seria inconcebível. Havia um abismo entre a "cultura" brasileira e os "bíblia".

Esse sentimento de enterro, de saudade de alguma coisa, isso não está presente nos shows do Agro. Eles, pelo contrário, estão celebrando a novidade do seu momento. É o momento deles.

Um Brasil morreu, outro veio.
O Brasil que vem , exige que você saiba uma música evangélica. Exige que você saiba um versículo da Bíblia.

Eu sei. Você discorda, tá p**o, tá revoltada.
Mas se olhar bem pro Caetano, talvez perceba que ele já entendeu. Acho que perdemos. E temos duas atitudes diante disso: espernear e não aceitar, ou aceitar, e seguir o fluxo. Isso não signif**a perder estratégias. Mas é uma maturidade pra esse tempo.

Perdemos, queridos.
E há ainda um Brasil pra se viver.
Hora de trocar de roupa, e encarar.

04/12/2024

Olympe, 10 anos depois.

Em 4 de dezembro de 2014, eu escrevi um texto no Facebook que foi lido por 45 mil pessoas. Era uma coisa assustadora de grande.

Foi esse o primeiro texto que chegou a ser lido por milhares de pessoas. Por causa dele, dei entrevista no Programa Encontro, na época com a Fatima Bernardes.

A partir daquele texto, as pessoas começaram a me chamar de escritor. E ele foi publicado no meu único livro até hoje, Rio em Shamas, pela Cia das Letras, que foi indicado ao Jabuti em 2017.

Esse texto se chamava: o dia em que fui no Olympe.
E ele narra, de maneira simples, a noite de um homem que completa 40 anos, e vai com sua esposa no jantar de aniversário, num dos mais importantes restaurantes do Rio de Janeiro, no bairro da Lagoa, zona caríssima da cidade.

Eu morava em Cascadura, nos fundos de uma galeria comercial.
A ideia foi da minha então companheira, com quem vivi 10 anos.

Durante o jantar, vi pessoas, pratos e coisas que nunca tinha visto até então, porque eu vinha de uma vida muito simples. Morei em favela, subúrbio, a vida, 10 anos atrás, era muito dura. Tudo que eu tinha cabia numa kombi.

Durante 2 horas eu entrei no mundo que, pra mim, era chiquérrimo. E eu chorava, porque com 40 anos, não sabia como me comportar ali. Eu disse que a pobreza fode a cabeça da pessoa. A gente sente que não merece viver as coisas.

Claude Troisgros era o chef e proprietário do restaurante.
Lembro como se fosse hoje, ele de um lado pro outro, atendendo clientes um a um na mesa, e coordenando a cozinha.

Claude sentou na mesa ao meu lado, e ele já era famoso naquela época. E quando ele falou comigo, eu perguntei a ele qual o jeito certo de comer aquela comida, toda chique.

E ele respondeu: Como você quiser. Come com as mõons.

Claude me deu o jantar de aniversário. De fato, fez diferença na minha vida, porque eu fui, mas ia f**ar duro no dia seguinte. Ele ainda deu uma garrafa de vinho, levou na cozinha. Ali vi pela primeira vez uma cozinha profissional.

Os fornos, as panelas penduradas. As ilhas de cozinha, os cozinheiros, o Batista.

Comi também o mousse de maracujá. Nunca mais comi um mousse como aquele.

Quatro anos depois, o Brasil fervia com o bolsonarismo. O Brasil estava pegando fogo nas ruas, e estávamos mergulhando num esgoto, do qual não saímos até hoje, e não tem esperança de sair.

Eu saí do Brasil, com a ajuda de amigos e pessoas.
Em Portugal, morando em Lisboa, a cantora Roberta Sá me escreveu, que queria me conhecer, e lá no show estava o Claude. Então eu abracei ele, já fora do país. E disse pra ele, porque tinha saído.

Agora, exatamente 10 anos depois, eu estou em Paris.
Já entrei em muitas cozinhas, já tive uma cozinha, já vi muito francês e chef francês, igual o Claude.

Nunca imaginei que, em 10 anos, sairia de Cascadura pra Paris.
Foram motivos um pouco diferentes que levam brasileiros a vir, mas eu descobri que muitas pessoas veem pra Paris por motivos politicos. Paris, e a França, acolhem escritores, políticos, ativistas, do mundo todo. Eu aqui sou apenas mais um deles.

A cidade da Dama de Ferro, a Torre Eiffel, me acolheu e deu garantia de vida. Devo isso aos franceses.

De fato, devo isso a eles.

E por Paris, já almocei, já jantei em bistrôs, restaurantes. E já lembrei do Claude muitas vezes. A comida francesa simples, caseira, de inverno. Não a comida cara, alta gastronomia. A cenoura, batata, o pato. Coisa que trabalhador come. Comida de trabalhador, que no Brasil é chique.

Já comi em muitos mais restaurantes árabes. E me lembro dos restaurantes e pensões na Uruguaiana, da Praça da Sé. Comida popular, o prato feito.

Já briguei porque o francês chama batata frita de almoço. Batata frita é LANCHE. LANCHE.

Uma coisa é lanche, outra coisa é almoço.
Botar um bife com batata frita, sem arroz, feijão, farofa e salada, tá faltando comida. Isso não sai do patamar de lanche.

A Batata de Marechal Hermes no Rio é vendida num S**O DE SUPERMERCADO, 3 kilo de batata com bacon, frango a passarinho. E É LANCHE.

Na França seria um banquete da pornografia.

E eles comem escargot. Amigo, não. Eu não boto minha boca em caramujo. Vamo preservar a amizade.

Então, 10 anos depois vi que a gente merece sim, por qualquer meio, viver a coisa que a vida nos dá. Não interessa a M***A que você precisou viver. Você merece sombra, champanhe, praia, lagosta, camarão, pizza, um balde de cerveja.

Descobri que não preciso chegar de cabeça baixa nos lugares.
Descobri que pessoas como o Claude são pessoas como eu e você. Ele, imigrante. Agora eu, também. Ele no meu país, eu no dele. A vida imigrante é dura. Ele trabalhou muito na cozinha. E cozinha é lugar duro.

Eu trabalho muito escrevendo. E escrita é lugar duro. Quase que pago com a vida por isso.

E aprendi que o mundo muda, como o mar com correntezas violentas, que não deixam a gente controlar nada. A gente acha que controla, mas não temos o controle. Nós apenas vamos.
O mar da História,
é agitado.

Eu tinha 40 anos, agora tenho 50.
O Brasil que eu conheci, não existe mais.
A casa onde morei, virou uma padaria.
O Olympe, fechou.
Eu, divorciei.

Tudo passou.
Muita dor, muito vazio. Muita coisa que eu prefiro não falar. E que não respondo, quando me pergunto. Mas a vida andou.

E dez anos depois, tenho pouca coisa nas mãos, mas me sinto em paz. Me sinto amado. Me sinto vivo.

Jantei em casa mesmo. Comi pouco, porque estou meio doente. E lembrei de pequenas coisas.

Me resta o silêncio, e a lembrança de tudo que foi bom na vida.

Não sei.
Eu acho que, no fim, a vida é uma mesa de jantar. Nós mudamos, o tempo muda, mas a mesa f**a lá. Como testemunha de tudo que fomos.

Hoje, sou escritor.
E tudo começou ali.
No Olympe.

Comam a vida do jeito que quiserem.
Comam com as mõons.

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