23/01/2025
Uma olhada na história nos lembra que os primeiros escravos africanos chegaram às Américas por volta de 1501. Vinham das fábricas portuguesas, pois Portugal foi pioneiro no comércio de escravos, apoiando-se em líderes de tribos costeiras que capturavam e vendiam a membros de outras tribos consideradas rivais ou estrangeiras.
Estima-se que entre 1821 e 1860 tenham chegado a Cuba ap***s trezentos e cinquenta mil escravos africanos. Vinham do sudeste da Nigéria e da chamada Costa dos Escravos, uma região que se estendia da bacia do Congo à Libéria e à Guiné Francesa.
Entre as culturas africanas que mais influenciaram nossa identidade, destacam-se os ioruba. Este termo agrupa aqueles que partilhavam uma língua comum, mesmo que não estivessem politicamente unidos. Os Yoruba desenvolveram uma rica tradição artística e urbana, mas o seu maior legado nestas terras foi através da sua religião. Suas divindades, conhecidas como orixás, formam a base da Regra de Ocha, mais conhecida como Santeria.
Em África, cada orixá era reverenciado em uma região específica:
- Changó no Oyó.
- Yemayá em Egbá.
- Oggun em Ekiti e Oridó.
- Ochun em Ijebu e Ijosa.
No entanto, alguns cultos, como os de Obatalá e Oddua, espalharam-se por toda a região. Oddua, considerado o pai fundador, era reconhecido como o antepassado comum dos governantes ioruba. Vale notar que a maioria dos orixás eram figuras humanas divinizadas após sua morte.
De acordo com a tradição ioruba, essa transformação de humano para divindade ocorreu durante crises emocionais extremas, quando a paixão consumia o corpo físico e só restava o aché, uma energia pura e poderosa. Essa força deveria ser preservada pela família em um alicerce ou caçarola, que servia como um recipiente para oferendas e ligação com o orixá. Apesar de sua condição divina, o orixá era visto como um membro da família, um legado transmitido pela linha paterna.
Durante a época colonial, o Santo Ofício permitiu as festividades africanas como uma estratégia para manter a docilidade dos escravos, sem perceber que eram rituais religiosos profundamente elaborados. Assim surgiu o sincretismo, onde os orixás se associaram a santos católicos. Por exemplo, Changó se conectou a Santa Bárbara e Babalú Ayé a São Lázaro, dando lugar a uma rica tradição espiritual que perdura até hoje.