22/03/2022
À espera do próximo blockbuster
(Paulo Sergio Almeida)
Desde que a pandemia chegou, acirrando ainda mais a forte concorrência do cinema com o streaming, acrescida de mudanças nas práticas de janelas de exclusividade de exibição, o mercado cinematográfico tornou-se refém de alguns blockbusters que as distribuidoras liberaram para o cinema, muitas vezes em lançamento simultâneo com as plataformas de streaming. Por um lado, os blockbusters fizeram seu serviço, ou seja, funcionam como tanques de guerra nesta cada vez mais concorrida disputa pela indústria bilionário do audiovisual. Se os blockbusters quebraram o gelo e conseguiram trazer o público de volta ao cinema, ele fez crescer uma tendência que já estava presente na maioria do mercado de salas de cinema, que eram os lançamentos cada vez mais agigantados de cada produto.
Cada estúdio buscava a máxima arrecadação, em suas filiais espalhadas pelo mundo, que necessitavam justificar a sobrevivência do cinema, bem como de sua própria existência física como agente internacional. Foi uma corrida em busca de recordes num difícil mercado dominado pela pandemia a princípio, e depois, cada vez mais, pelo início de uma recessão mundial que só favorecia o crescimento de seu maior concorrente, que era e continua sendo o streaming. Até que sobrou espaço nos cinemas para filmes independentes ou nacionais que ganharam lançamentos muito maiores do que normalmente teriam, mas que, sem grandes orçamentos de marketing, acabaram sem conseguir convencer o espectador a se arriscar a frequentar o cinema, ao contrário do público do blockbuster que são jovens fãs cativos das marcas. Houve também em alguns casos a preferência dos produtores e distribuidores desses filmes independentes ou nacionais em pular a etapa de lançamento arriscado e caro nas salas, e aceitarem as ofertas milionárias das plataformas de streaming que exigiam exclusividade.
Este conjunto complexo criou um mercado diferenciado nas salas de cinema que pode se eternizar caso não seja repensado por todo o setor no sentido de se buscar uma política de preços que seja mais acessível para todos.
O cinema, que sempre teve uma boa imagem de preços competitivos em relação à sua concorrência com os produtos chamados outdoor (teatros, shows, futebol), hoje encara uma nova realidade. Está claramente concorrendo com o produto indoor (streaming), e está perdendo seu posicionamento mercadológico, pois é sabido que qualquer um dos produtos oferecidos em casa é mais barato do que uma ida ao cinema.
Para finalizar, o preço do ingresso pode não estar caro para alguns, mas ele vem agregado a diversos outros custos, como transporte, estacionamento, taxa de conveniência, uma atraente bombonière, podendo chegar a mais de 200 reais para duas pessoas. Desta maneira os produtos das marcas Marvel e DC Comics podem valer o que entregam, mas, ao que parece, nem todo o público está em condições de arcar com estes custos. E atenção! Hoje até os filmes do Oscar não têm espaço neste clube seleto e vão fracassar ano a ano, assim como a maioria dos filmes independentes e nacionais, enquanto não houver uma visão clara sobre onde está o problema.
O mercado não pode ficar simplesmente à espera do próximo blockbuster para resolver todos os seus problemas.