Uma parceria que começou na produção de eventos voltados tanto para bandas autorais quanto para seus respectivos públicos dentro do espaço de um estabelecimento carioca foi o contexto profissional e criativo que serviu de base à primeira colaboração entre os membros da equipe do Camelo Azul. Estruturada pelos músicos, estudantes de produção musical e entusiastas da música autoral Luisa, Barbanjo,
Marcelo, Sergio e Victor, a equipe teve contato com suas primeiras experiências colaborativas dentro do ramo de produção de pequenos shows, mesmo que em condições pouco favoráveis. Tendo à disposição apenas a própria experiência e uma infra-estrutura fora do ideal, além de responsabilidades severas, a equipe nunca deixou isso tornar-se um obstáculo para a qualidade da apresentação da música na condição de espetáculo.
À medida que a carga de trabalho se expandiu junto ao crescente fluxo de artistas, foi tornando-se cada vez mais evidente a cada um dos membros que a produção dos eventos naquelas condições específicas não possibilitava uma proporção de visibilidade compatível com o investimento criativo e profissional apresentado pelas bandas que passavam por ali. Tendo como principal influência as entrevistas produzidas pelo programa Ensaio, da TV Cultura, a primeira idealização de uma potencial estrutura de divulgação de artistas autorais independentes surgia ali. Construir um espaço autônomo com a finalidade de suprir tanto a demanda por divulgação quanto por um espaço de criação artística foi o passo seguinte. O planejamento nessa etapa já veio acompanhado de divergências profissionais cada vez mais difíceis de serem ignoradas e sobretudo relativas à autonomia sobre o espaço, desde sempre administrado através de uma ótica profissional incompatível com o projeto idealizado pela equipe. Tendo produzido apresentações ao vivo de mais de duzentas bandas em menos de um ano de trabalho, os membros puderam vivenciar um aprimoramento profissional no ramo, além é claro de um vínculo natural de confiança mútua com o cenário autoral. Mesmo não podendo ignorar o grau de responsabilidade ou de relevância do trabalho desenvolvido ali, as divergências terminaram por prevalecer. Perceber que o próximo passo seria a concretização desse rompimento foi o momento final da equipe dentro do contexto em que ela começou. Podendo contar com uma variedade razoável de propostas que até então não haviam tido a chance de serem apresentadas, além de outras tantas reservadas a um futuro mais autônomo, os integrantes da equipe hoje se vêem servidos de toda uma gama de possibilidades de trabalho que até então jamais seriam cabíveis dentro dos padrões aos quais estavam habituados. Da mesma forma que o calor do deserto representa um desafio à resistência de um camelo sob o sol quente, as condições profissionais, culturais e econômicas do Rio de Janeiro dos dias de hoje representam um desafio igualmente natural e impiedoso à prontidão do trabalho autoral. Porém é com essa mentalidade que os membros da equipe se dispõem a estabelecer diante dessas mesmas dificuldades uma postura de resistência e durabilidade em relação aos contratempos que impossibilitam a jornada de tantos. Essa resistência não se faz presente apenas no viés do prevalecimento, mas também no da versatilidade; o preparo não apenas às principais adversidades, mas sim a uma vasta variedade delas. Tendo essa referência, é com a mesma determinação com a qual chegaram até aqui que cada membro da equipe encara as dificuldades presentes no mercado de produção fonográfica, além de cada um dos outros meios artísticos no qual estarão dispostos a se aventurar munidos de sua experiência tanto pessoal quanto em grupo.