Jornal de Artes

Jornal de Artes Veículo de mídia impressa que busca destacar a análise da produção artística e cultural. ISSN: 2358-9019 Jornal de Artes | Uma públicação da Muruci Editor.

Veículo de mídia impressa, com periodicidade trimestral. Circulação em Porto Alegre e Osório nos principais pontos culturais da cidade.

25/01/2025
O Velho Roqueiro (Três)
25/01/2025

O Velho Roqueiro (Três)

24/01/2025

Turibio o roqueiro que não deu certo. (Dois)

A saga de um velho roqueiro nos anos 60.
23/01/2025

A saga de um velho roqueiro nos anos 60.

A saga de um velho roqueiro dos anos 60.
23/01/2025

A saga de um velho roqueiro dos anos 60.

16/01/2025

Eles tomam conta

16/01/2025

A Substância
Gabriely Ébano Santos
Análise Crítica
Jornalista, Escritora /
"Mistura misteriosas de mentiras mesmas" / "50 Luas" /" Saga Amorosa"

A substância
Grande filme da diretora francesa Coralie Fargeat com a Demi Moore (Elizabeth Sparcke) e a Margaret Qualley (Sue) maravilhosas, entregando tudo, sou suspeita pra falar de filmes com teor ligeira ou absolutamente feminista (estou terminando de ler O segundo s**o e hoje mesmo lia sobre as mutilações que as mulheres se fazem – desde sempre – em nome da beleza porque ela é uma moeda de troca num mundo de homens, enfim, isso mudou pouco, pouco demais). Mas o filme, onde uma apresentadora de TV é demitida por estar velha, ela tem a opção de tomar “A substância” ainda que não tenha entendido bem o que era – e o que era: uma injeção para criar um outro eu – um eu melhor, leia-se, um eu jovem que alternará de vida com ela de sete em sete dias. É difícil de imaginar querer algo assim, mas será mesmo?
E eu achei muito lindo mesmo o contraste porque mesmo Sue sendo linda e maravilhosa, com as cenas de body horror depois, em algum momento, a gente acaba percebendo que, meu deus, são só corpos, deixem nossos corpos em paz, sabe? São só carne, carne que a gente precisa pra agir no mundo, mas não a nossa real e única identidade.
Todo mundo pegou a referência a Carrie – a estranha - tentando não dar spoiler, aquele sangue não deixa de ser uma pequena vingança a uma sociedade que se alimenta – quase ou literalmente – do suco vital das outras, todos querem um pedaço da sua beleza, do seu sorriso, então tomem, com meus despedaços, parece ser a mensagem, se sujem com o que eu me sujeito, a repetição de comentários como: o peito devia estar no lugar do nariz ou algo do tipo que um dos caras faz na seleção de uma nova apresentadora é o tipo de coisa que toda mulher já ouviu em algum momento da vida, melhor só se tivesse três peitos ou não tivesse nenhum cérebro. E olha que eu nunca nem botei meus pezinhos em Los Angeles e muito menos num programa de TV (a não ser na plateia, claro), mas vivemos uma cultura que exigem uma imagem impecável e imperecível e impossível. Talvez uma referência menos óbvia seja aos musicais dos anos 20 ali no final com todas aquelas dançarinas – mas não sei se o monstro teve a intenção de lembrar The Elephant man, acho que a geração z não deve saber dessas coisas, ainda que dezenas de sites tenham comentado sobre o corredor que lembra o filme do Kubrick, O iluminado, mas depois tem a música de 2001 tocando também. Alguém comentou sobre O crepúsculo dos Deuses, talvez ali quando Elizabeth f**a presa nas costas do monstro. A imagem final, dela em sua estrela na calçada da fama parecendo a Medusa. A cena que ela desiste de ir no encontro porque se sente feia (mesmo não estando) quem nunca?
Eu, particularmente, achei o filme incrível, mas não fácil de f**ar revendo – talvez eu faça isso daqui alguns anos ou nunca, porque eu gosto de um horror, de vez em quando, à la Cronenberg, mas de vez em quando não é sempre, a violência a gente até já engole sem cara feia, mas o horror ainda nos lembra alguns nojinhos. Primeiro eu penso: eu teria coragem de tomar a substância, acho que não – já dissocio o suficiente assim inteira mesmo, imagina um eu de vinte anos querendo atacar a minha filha porque ela é o que me impede de fugir do país? Não, obrigada. Mas sei que tem gente que adoraria que isso fosse possível e que deixaria uma versão mais jovem de si comer toda sua carne por uma semi existência jovem, mas, sabe o que gente, acho que somos nós millenials que vamos ter que quebrar esse estigma sobre o envelhecimento, culturalmente, digo, nós já normalizamos ser adolescente até os 30, tudo bem, mas precisamos normalizar parecer ter 50 quando chegarmos lá, porque a gravidade e o tempo existem e nem todos nós podemos pagar ou queremos arriscar entrar no mundo das plásticas, eu prefiro ter a cara que nem sempre é linda, mas minha que herdei dos meus pais do que a cara genérica de qualquer burguesa contemporânea, mas isso é só opinião (me faz lembrar uma colega de faculdade que dizia que queria ser como eu magra e com peitos, aí ela foi lá e colocou silicone e eu fiquei, ainda bem que a genética me deu, porque eu não iria pagar, mas é meio injusto, né, tudo no mundo se compra).
A substância faz a gente pensar na idade – óbvio – na pressão sobre as mulheres (os homens que mandam no showbusiness são velhos caquéticos e ninguém diz nada, mas também faz questionar a facilidade com que abrimos mão de quem fomos em nome de uma juventude/beleza que exigem de nós – e eu falo isso de coração limpo mesmo, semana passada eu considerava entrar na academia porque, afinal, se eu voltasse a caber nas roupas de antes de ter filho seria muito econômico e bom pra minha autoestima, mas eu não tenho mais o organismo dos meus vinte anos que passava fome por três dias e emagrecia, muito menos sou meu eu de dezoito que era capaz de meter a escova de dentes na goela pra dispensar a janta. Hoje consigo ver como isso era pesado e inutilizava meus dias, eu ia bem na faculdade, eu tinha alguns amigos, eu lia livros, etc, mas tudo sempre diluído pela ansiedade da fome e da próxima orgia alimentar que acabaria no que eu chamava, carinhosamente, de número três. Depois passou. Mas é importante que a gente se aceite antes de precisar passar por isso, temos direito de ser e agir no mundo, independente de nossos tamanhos e idades e s**os. De qualquer forma, é um alívio que possamos coexistir e não disputar esse espaço com os jovens – ou será que essa era outra metáfora do filme?
As pessoas tem feito comparações de artistas em diferentes décadas e como elas continuam parecendo jovens – como a JLo ou a própria Demi Moore, que continua linda aos 50, mas assim, por que as mulheres precisam parecer ter vinte, trinta anos pra sempre pra continuarem sendo “lindas”? Por que elas precisam ter o rosto cheio de plásticas e procedimentos, até parecerem outras pessoas? Quando que ter o rosto natural e com “defeitos” vai viralizar? – ah, verdade, nunca, porque a indústria dos cosméticos e das plásticas e das mídias ganha demais com essa busca incessante da mulher pela “perfeição” – o que é uma pena. P.s: Não sou radical, claro que é bom passar um rímel e uma cor nos olhos e se sentir bonita, o que não é bom, é só se aceitar assim. Apesar de que, no fim do dia, cada um sabe de si, enfim. Mas vejam o filme, se quiserem, claro, porém, f**a a dica.

08/01/2025

Gabriely Santos
Jornalista, escritora

Pedro Páramo
Dizem algumas línguas que o livro de Juan Rulfo é o precursor do realismo fantástico – que consagrou Gabriel García Márques, cerca de dez anos depois, em “Cem anos de solidão”, mas, também, por essa época, Elena Garro escreveu “Lembranças do Porvir” que, também, tem traços desse estilo, então, ela, talvez, seja a real precursora do gênero.
Mas a verdade é que quanto mais eu leio o realismo mágico além do Garcia Marques, mais ele me parece uma ilustração do sofrimento eterno que só o latino poderia conceber: sem um céu cristão e sem a expectativa de reencarnar melhor (ou pior) como prega o espiritismo, o realismo mágico nos transforma todos em assombrações que seguem vivas (mortas) pra sempre remoendo nossas desilusões, abusos e injustiças.
Nosso protagonista, Juan Preciado morre no meio do filme, apesar de que, ele mesmo, não tem grande influência na história – ele veio ao povoado para realizar o último desejo de sua mãe – mas ele mesmo, não tem grande culpa sobre a tragédia que ali se abateu, ele é, no fim, mais uma vítima do legado de seu pai, Pedro Páramo.
Pedro casou-se com a mãe de Juan para salvar suas terras, mas ela deu sorte, porque seus capangas fizeram outro dono de terras se enforcar. Ele era implacável. Mas charmoso. Uma combinação perigosa. Como acompanhamos sua vida, desde a morte do pai, a rebeldia com a mãe, a inconformação que lhe guiava as ações e caminhos, alguém poderia, quase, gostar dele.
Mas, no fim, desde dona Tuviges, a Miguel, outro filho de Pedro, famoso por seus estupros e assassinatos, a Damiana, todos os personagens, todos tem algo em comum: já estão do lado de lá. É um conto de assombrações que se descortinam diante dos olhos aterrados de Juan, desde a mulher que vira lama as que entram numa porta e somem. Mas sabemos que Juan, também, logo será fantasma.
Num ambiente de tanta maldade, até o padre acaba sendo um pouco ruim, ele nem sempre consegue conceder o perdão de Deus, ele não consegue fazer isso nem a Dorotea, pobre mendiga que foi usada por Miguel para conseguir meninas para ele estuprar (porque uma delas foi sua sobrinha).
No começo, achei que Comala, o povoado, tinha definhado pelas maldades de Pedro – que matou não sei quantos para proteger suas terras e para vingar seu pai, mas parece que a terra se tornou improdutiva e devastada quando ele sentou em sua cadeira para esperar a morte. O povoado se encheu de adeus – não sei se vocês já viram um povoado morrente, é a coisa mais triste do mundo, as casas vazias parecem esqueletos a céu aberto, como se a morte tivesse esquecido de lhes buscar.
É um filme difícil, porque todos os personagens são trágicos. Mesmo o primeiro amor de Pedro, o que o deixou emocionalmente aleijado pra sempre – sangrando em cima de todas as coitadas que gostaram dele depois – mesmo ela, tão inocente e bonita, levada do povoado pelo pai, que então, abusou dela até que não sobrasse nada, algo que descobrimos quando eles voltam e Pedro tem a chance de f**ar com ela, mas não f**a, porque ela já não é ela, é só uma sombra do que foi. Ainda assim, é ela, Suzana, que tem as cenas mais bonitas do filme, dos mergulhos de rio com Pedro no fim da infância a um amor que viveu depois, no mar.
No eco do final do filme, só pensei uma coisa: no fim, o único fantasma que não aparece é Pedro. Talvez tenha sido o único que foi para o inferno descansar.
P.S: a quem interessar possa – e a fotografia é mesmo linda, o filme é quase um terror realista com um pouco de romance – e está disponível na Netflix.

08/01/2025

Pedro Páramo
Dizem algumas línguas que o livro de Juan Rulfo é o precursor do realismo fantástico – que consagrou Gabriel García Márques, cerca de dez anos depois, em “Cem anos de solidão”, mas, também, por essa época, Elena Garro escreveu “Lembranças do Porvir” que, também, tem traços desse estilo, então, ela, talvez, seja a real precursora do gênero.
Mas a verdade é que quanto mais eu leio o realismo mágico além do Garcia Marques, mais ele me parece uma ilustração do sofrimento eterno que só o latino poderia conceber: sem um céu cristão e sem a expectativa de reencarnar melhor (ou pior) como prega o espiritismo, o realismo mágico nos transforma todos em assombrações que seguem vivas (mortas) pra sempre remoendo nossas desilusões, abusos e injustiças.
Nosso protagonista, Juan Preciado morre no meio do filme, apesar de que, ele mesmo, não tem grande influência na história – ele veio ao povoado para realizar o último desejo de sua mãe – mas ele mesmo, não tem grande culpa sobre a tragédia que ali se abateu, ele é, no fim, mais uma vítima do legado de seu pai, Pedro Páramo.
Pedro casou-se com a mãe de Juan para salvar suas terras, mas ela deu sorte, porque seus capangas fizeram outro dono de terras se enforcar. Ele era implacável. Mas charmoso. Uma combinação perigosa. Como acompanhamos sua vida, desde a morte do pai, a rebeldia com a mãe, a inconformação que lhe guiava as ações e caminhos, alguém poderia, quase, gostar dele.
Mas, no fim, desde dona Tuviges, a Miguel, outro filho de Pedro, famoso por seus estupros e assassinatos, a Damiana, todos os personagens, todos tem algo em comum: já estão do lado de lá. É um conto de assombrações que se descortinam diante dos olhos aterrados de Juan, desde a mulher que vira lama as que entram numa porta e somem. Mas sabemos que Juan, também, logo será fantasma.
Num ambiente de tanta maldade, até o padre acaba sendo um pouco ruim, ele nem sempre consegue conceder o perdão de Deus, ele não consegue fazer isso nem a Dorotea, pobre mendiga que foi usada por Miguel para conseguir meninas para ele estuprar (porque uma delas foi sua sobrinha).
No começo, achei que Comala, o povoado, tinha definhado pelas maldades de Pedro – que matou não sei quantos para proteger suas terras e para vingar seu pai, mas parece que a terra se tornou improdutiva e devastada quando ele sentou em sua cadeira para esperar a morte. O povoado se encheu de adeus – não sei se vocês já viram um povoado morrente, é a coisa mais triste do mundo, as casas vazias parecem esqueletos a céu aberto, como se a morte tivesse esquecido de lhes buscar.
É um filme difícil, porque todos os personagens são trágicos. Mesmo o primeiro amor de Pedro, o que o deixou emocionalmente aleijado pra sempre – sangrando em cima de todas as coitadas que gostaram dele depois – mesmo ela, tão inocente e bonita, levada do povoado pelo pai, que então, abusou dela até que não sobrasse nada, algo que descobrimos quando eles voltam e Pedro tem a chance de f**ar com ela, mas não f**a, porque ela já não é ela, é só uma sombra do que foi. Ainda assim, é ela, Suzana, que tem as cenas mais bonitas do filme, dos mergulhos de rio com Pedro no fim da infância a um amor que viveu depois, no mar.
No eco do final do filme, só pensei uma coisa: no fim, o único fantasma que não aparece é Pedro. Talvez tenha sido o único que foi para o inferno descansar.
P.S: a quem interessar possa – e a fotografia é mesmo linda, o filme é quase um terror realista com um pouco de romance – e está disponível na Netflix.

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