17/10/2024
PEDÁGIO NA PONTE DE URUGUAIANA?
A notícia de que o governo federal planeja privatizar a gestão das pontes internacionais, veio de longe e caiu feito um meteoro em Uruguaiana. Na última semana, o jornal O Globo publicou uma matéria onde anunciava o planejamento de uma série de licitações para a concessão de pontes federais, ao todo, seriam doze pontes que passariam para a administração privada.
O que isso significa? Ora, demonstra a incapacidade dos governos, nos últimos 40 anos, estejam eles sentados à esquerda ou à direita, em manter minimamente trafegáveis suas pontes internacionais. As pontes representam elos estratégicos de ligação e vínculos importantes para as economias e as populações regionais do Brasil e dos países vizinhos, por isso, deveriam ser tratadas com o máximo de atenção pelos diferentes governantes que passaram por Brasília. Só que não.
A ponte de Uruguaiana, por exemplo, foi construída na década de 1940 e inaugurada em 1947, mudando o perfil da economia da região ao redor do Rio Uruguai. A cidade deixou uma economia transfronteiriça de balsas e vapores para uma economia transportada em caminhões e trens. E a cidade, de lá para cá, tornou-se a principal via de saída e entrada de produtos para a Argentina e Chile.
No entanto, a importância da ponte foi crescendo de maneira inversamente proporcional ao interesse do poder público ( municipal, estadual e federal) em planejar sua manutenção. Nossa ponte foi usada intensamente para o trânsito de pessoas e produtos, mas nunca recebeu, na mesma proporção, o cuidado que merecia.
As concessões públicas são estratégias utilizadas pelos governantes para garantir serviços que eles se julgam incapazes de ofertar para a população, em algumas áreas, tudo bem, torna-se até compreensível, noutras não. As pontes são uma destas situações não compreensíveis, onde as concessões tornarão o “barato” algo muito “caro” num prazo bem curto de tempo.
A ponte de São Borja, que desde sua inauguração é gerida pelo Consórcio Italiano Mercovias, será a primeira que passará pelo processo de concessão neste novo modelo, como um tipo de projeto piloto. Ela já é a única ponte brasileira operada pela iniciativa privada, ou seja, em São Borja o pedágio para atravessar a ponte é a regra. A população da cidade já se colocou contrária a cobrança de pedágio, tanto que conseguiu bloquear ele via liminar judicial. O correto seria, tão logo terminada a concessão, que se deixasse a ponte sob gestão do DNIT.
As concessões das pontes interessam única e exclusivamente aos consórcios de empresas, conglomerados de investidores, que perceberam que as pontes, como alguns trechos das rodovias federais, são áreas altamente lucrativas.
Os idealizadores dessa maluquice, felizes, preveem que, após a nova concessão, São Borja, por já pagar pedágio, terá uma redução nos valores, diante da concorrência pela exploração da ponte.
No caso de Uruguaiana, por termos uma estrutura precarizada e sucateada, por óbvio, que o responsável pela manutenção precisará transferir para o pedágio um valor bem maior.
Isso vai gerar uma série de problemas para nossa cidade, além de uma migração das empresas que usam Uruguaiana para passar suas cargas, desemprego, fechamento de escritórios de despacho aduaneiro, teremos também a redução da passagem dos turistas, o desmonte do comércio transfronteiriço, que é uma característica cultural de nossa cidade. Ou você acredita que os uruguaianenses pagarão entre cinco e dez dólares para cruzar a ponte? Tão pouco pagarão os irmãos correntinos.
Uma outra questão que não deve ser deixada de lado é o duelo que está estabelecido entre Uruguaiana e São Borja pelo transporte internacional.
Ou seja, além das empresas exploradoras das pontes, São Borja também deve estar vendo com bons olhos o fato de nossa ponte ter sido colocada na lista das concessões. São Borja está fazendo o certo, seus políticos, suas lideranças e sua prefeitura estão lutando para tornar a cidade um pólo do transporte internacional.
Enquanto aqui, nosso prefeito planejava colocar o sucessor, em São Borja o prefeito articulava a vinda de um terminal de distribuição de produtos da Zona Franca de Manaus. Errado estamos nós, que em Uruguaiana elegemos representantes que assistem a tudo de braços cruzados e só se movem para tirar a lã do umbigo de seus interesses.
Uruguaiana não pode se curvar aos interesses de empresas que vivem de explorar as estruturas públicas, sob pena de sofrer um profundo impacto em sua economia, assim como, o próprio Brasil, que terá queda de arrecadação em termos macroeconômicos.
O governo federal, através do DNIT, que tome as rédeas de suas obrigações e faça a devida manutenção e as obras necessárias para manter nossa ponte em perfeitas condições. Que cumpra com seu papel e mantenha nossa ponte como o principal ponto de passagem de mercadorias do Mercosul.
Eu sou contrário a essa sandice de quererem privatizar a ponte de Uruguaiana. E se eu fosse você, também seria.
Por Roger Baigorra Machado
Imagem ilustrativa