10/01/2025
Paranaguá na Revolução Federalista de 1894.
A tomada de Paranaguá, sob a Ótica do Comte. Custódio de Mello, foi escrita em Relatório assinado no dia 4/2/1894, logo após seu retorno de Curitiba à Desterro (Florianópolis, na época, capital catarinense e da Revolução).
Publicado no Diário do Comércio no dia 28/2, com redação de Leôncio Correia, relatou os principais incidentes da gloriosa e recente expedição ao estado do Paraná e com base nele, vamos relatar aqui, os pontos principais, visando dar clareza aos fatos que se sucederam.
A 13/1/1894, a esquadra investiu contra Paranaguá, e às 7 horas da manhã do dia 14, os cruzadores Urano e Esperança - pela barra do norte, enquanto o República, pairando na do sul, protegia-lhes a passagem, atacaram a Fortaleza da ilha do Mel. A princípio enérgica e disposta à luta, fora pouco a pouco, espaçando o seu canhoneio até que, por volta das 3 horas, reconhecendo a ineficácia da sua resistência, ao 18º tiro com que respondeu ao ataque, calou os seus fogos, fugindo toda a sua guarnição para as matas dos arredores.
Já nesse tempo os 2 primeiros cruzadores, dando cumprimento às instruções recebidas, despejaram, na Ponta do Bicho, os contingentes de desembarque e em menos de dez minutos tomaram sem a menor resistência, o recinto da fortaleza onde, em substituição ao pavilhão nacional, hastearam a bandeira branca da paz e da concórdia. Lá, foram apreendidos dois canhões Krupp em perfeito estado, com 70 tiros; 11 peças de alma lisa; 70 carabinas e cerca de 30 mil cartuchos; 6 barris de pólvora e outros apetrechos de menor valor. Enquanto se procedia ao arrolamento do material abandonado pelos fugitivos, em perseguição dos quais seguiram alguns destacamentos, foram capturados 50 prisioneiros, entre os quais o Comte. da Praça alferes Joaquim Severiano da Silva Filho, 2 sargentos, 1 cabo e 6 soldados do 3º Regimento de Artilharia - que se prontificaram a servir à Revolução a que, só por dever de disciplina, combatiam até então.
Às 8 horas da manhã de 15, o Comte. Custódio de Mello ordenou aos navios que deixassem o fundeadouro que haviam tomado na tarde anterior, em frente à ilha das Cobras, e seguissem avante, em direção aquela Cidade.
Com o República na vanguarda da linha de combate e o Urano pela alheta de boreste – com ordem de forçar a margem e ir tomar posição para bater as trincheiras do porto d'água.
Seguiu o Esperança, a distância (à popa do República), a fim de entreter os fogos com as baterias situadas mais proximamente. Logo que os navios se puseram a descoberto da ilha da Cotinga vivo fogo rompeu de terra.
A resposta não se fez esperar e a luta tornou-se renhida, então de parte a parte, e assim se manteve enquanto durou a batalha, lenta e propositalmente demorada, diante das 6 bocas de fogo que defendiam o litoral. Em meio do combate o Gen. Div. Antonio José Maria Pego Júnior, que se achava em Paranaguá, esquecido dos deveres inerentes ao cargo de comandante em chefe do Distrito Militar, desapareceu inesperadamente, seguindo a caminho de Curitiba em um trem expresso, com todo o seu estado maior e a quase totalidade dos oficiais da guarnição daquela Cidade. Enquanto isto, as bombas ceifavam vidas e ocasionavam estragos materiais.
Às 11 horas da manhã, ainda do dia 15, transposta a última trincheira do Porto D'água, o fogo foi cessado, para que as guarnições repousassem e tomassem a sua primeira refeição. Ao meio-dia, chegou o Íris com um reforço de 150 homens, retornou-se à carga, resolvido manter-se a luta até realizar o desembarque projetado.
Bateu-se o adversário por partes, começando o ataque pela trincheira levantada à direita da estação do trilho de ferro, quase ao desembocar de uma estreita rua, em continuação à ponte do Lloyd. A configuração dessa trincheira possuía uma canhoneira voltada para a ilha das Cobras, mas o seu campo de tiro era restrito e limitado, e assim o República, foi colocado em posição tal, que permitiu o ataque pelo flanco, sem que fosse atingido e em
menos de 15 minutos de fogo contra aquele reduto de areia, foi ele abandonado, e os poucos defensores que restaram com vida, refugiaram-se no mato.
O cruzador Urano, por sua vez, aproximou-se o mais possível da terra, vindo colocar-se a uns 60 metros da praia, fazendo largar de bordo os seus escaleres cheios de oficiais e soldados, que foram recebidos por sucessivas descargas de fuzilaria partindo do mato, e que tiveram respostas condignas das metralhadoras dos canhões de tiro rápido, do Urano e do República. Dois disparos de bomba precisos, partidos deste último Cruzador, no lugar em que estavam concentrados os adversários, pô-los em completa debandada, abandonando muitas armas e munições, além de alguns de seus companheiros, que pereceram em luta.
Em seguida, de todos os navios partiram escaleres com pessoal para o desembarque, perfazendo um total de 316 homens assim divididos: 150 do Exército Libertador, 96 do Batalhão Fernando Machado, 20 do Corpo de Polícia do Desterro e 50 do Batalhão de Marinha; todo este contingente era comandado pelo Cel. Pahim.
Os soldados avançaram para a cidade pelo trilho da ferrovia, seguindo na vanguarda a cuja aproximação, adversários temerosos abandonavam o campo da luta e fugiam desordenadamente. Ao penetrarem, porém, em Paranaguá, foram atacados por tiros de 2 canhões Krupp instalados no portão da estação da estrada de ferro, mas os marinheiros num dado momento, avançaram resolutos a peito descoberto e os canhões, até então em atividade, foram tomados à mão, e aprisionaram suas guarnições.
Nos arredores da Cadeia (Rua XV), os adversários pensaram ainda poder resistir, acobertados do infortúnio dos 42 presos políticos; porém, cercados, não tiveram remédio senão render-se. O Gen. Eugênio de Mello, sentindo que a resistência por mais tempo seria inútil, recolhia-se à sua residência, quando foi feito prisioneiro, e conduzido para bordo do Urano.
Assim foi que a cidade de Paranaguá, defendida por cerca de 90 membros de infantaria e artilharia, guardada por seis canhões modernos, foi ocupada.
Do lado dos invasores, pereceram apenas seis homens enquanto dos contrários, caíram por terra cerca de 150, além de muitos feridos.
Ato contínuo à ocupação, as portas da cadeia foram abertas para deixar passar, aos aplausos da população, os 42 presos políticos, vítimas da insólita prepotência do Marechal Ditador.
A 16 de janeiro o cruzador íris seguiu para Antonina, e a cidade rendeu-se à discrição, fugindo os seus defensores, deixando o armamento em abandono. Seguiu para Morretes um destacamento de 50 praças sob o comando do Ten. Carpes, a cuja aproximação essa Cidade, a exemplo de Antonina, também se rendeu. Nas 2 cidades foram apreendidos espólios de guerra. (canhões, munição, carabinas, pólvora etc.)
Curitiba rendeu-se no dia 17 de janeiro, sem a menor resistência, à simples aproximação de um contingente de 100 praças, ainda sob o comando do Ten. Carpes. Fugiram para a fronteira do Estado, o ex-governador Dr. Vicente Machado, o comandante do Distrito, o Gen. Div. Antonio José Maria Pego Júnior e grande número de oficiais.
Eis, pois, como em concisos termos se efetuou a conquista do Estado do Paraná na ótica do Contra-Almirante Custódio de Mello.
Fonte/referência: Relatório do Comandante Custódio de Mello sobre a Invasão de Paranaguá. (BOLETIM IHGPR-LXII-2010)
Foto: Obras de Darci Régis, Acervo Lizangela Siqueira.