09/01/2025
CONHEÇA A HISTÓRIA DO ZAGUEIRO DO DESPORTIVO BRASIL QUE SUPEROU UMA PARADA RESPIRATÓRIA
Uma vida cheia de superações e vontade de vencer. É assim que se pode resumir a trajetória de vida de Jovino, zagueiro de 17 anos do Desportivo Brasil que fez sua estreia na Copa São Paulo de Futebol Júnior 2025.
Filho de mãe paraguaia e pai brasileiro, o jovem nasceu Assunção no Paraguai em 2007 e, logo no início de sua vida, já teve que vencer grandes batalhas para se manter vivo.
Com apenas dois anos de idade, Jovino foi diagnosticado com uma bactéria nos pulmões que colocou sua saúde em risco, sendo necessário um tratamento invasivo com alto custo financeiro.
Com despesas chegando a cinco milhões de guaranis (equivalente a quatro mil reais), os pais do jovem ouviram de um médico brasileiro que tentassem buscar atendimento no Brasil.
Seguindo o conselho, Antônio e Rocio venderam tudo o que tinham, incluindo a churrascaria que administravam, e se mudaram para Foz do Iguaçu para tentar ajudar o filho.
Durante uma de suas internações no Brasil, o menino sofreu uma parada respiratória. A avaliação médica alertava que uma cirurgia provavelmente tiraria a vida de Jovino ou traria sequelas irreversíveis ao garoto, como revelou Rócio, mãe de Jovino. “Chamei meu esposo, nos ajoelhamos e rezamos. Pedimos a Deus a oportunidade de ter nosso filho e prometemos que, se ele saísse vivo daquela cama, nunca mais colocaríamos uma gota de álcool na boca. Eu fiz um propósito com Deus e nunca mais bebi. O Jovino é um milagre”, conta Rócio, mãe de Jovino.
Contrariando as estatísticas médicas, a bravura do paraguaio se fez presente e, apesar de perder 30% da audição como sequela, uma nova cirurgia restaurou sua capacidade auditiva.
O tempo passou e aos seis anos de idade Jovino começou sua relação com o futebol. Após avaliação dos pais que acreditavam que o garoto não tinha talento para o esporte mais popular do mundo, o menino direcionou sua atenção para o taekwondo.
Pela modalidade, conquistou títulos brasileiros e paranaenses, mas o sonho de ser jogador de futebol ainda permanecia vivo em seu coração.
Quando completou 11 anos, Jovino participou de uma peneira do Flamengo em Foz do Iguaçu. Em uma disputa com 180 participantes, conseguiu f**ar entre os três mais bem avaliados pela comissão. Ele viajava frequentemente a Curitiba para treinar, mas isso custava muito para a família do jovem.
A vida de Jovino ainda reservava mais um capítulo de superação. Após se destacar no Trieste, grupo de captação do Fla, e viver a expectativa de integrar o grupo de garotos do Flamengo no Rio de Janeiro, aconteceu a tragédia no Ninho do Urubu. Além de mudar seus planos, viu o acidente levar três amigos que treinavam ao seu lado, tirando temporariamente o seu sonho de jogar futebol.
Retornando à rotina do taekwondo, Jovino e o futebol teriam um novo encontro. O torneio Ibercup trouxe Jovino de volta ao caminho da bola.
“Eu levava o Jovino de duas a três vezes por semana a Cascavel, a 200 km de Foz do Iguaçu, e lá o professor Sandro me convidou para levá-lo na Ibercup em Porto Alegre. Desde então, ele fez teste no Avaí, Grêmio, São Paulo, e, voltando para Foz, o Desportivo Brasil o chamou mas a pandemia atrapalhou nossos planos”, revelou a mãe do jovem.
Apesar de despertar interesse de times como Avaí e Desportivo Brasil, em 2020, veio a pandemia e o jovem teve que se afastar novamente do futebol. Voltou a treinar taekwondo na casa dele.
No ano seguinte, surgiu um convite para um teste no Desportivo Brasil. A situação financeira delicada de sua família era um grande obstáculo, mas sua mãe, Rocio, conseguiu o dinheiro da passagem de ida para a cidade de Porto Feliz.
Jogando com uma chuteira remendada, que lhe causaria bolhas nos pés, Jovino conseguiu destaque e causou boa impressão nos avaliadores.
Durante a espera para saber o resultado do teste, a mãe do jovem conheceu o pai do goleiro Léo Link, do Athletico Paranaense, que, ao saber da história de superação do defensor, ofereceu suporte financeiro.
Mesmo com Rocio relutando, ela aceitou a ajuda financeira, que foi crucial para seu filho se manter no Desportivo Brasil. Tudo isso em apenas 17 anos de vida de uma das joias do Dragão Chinês, que está no Grupo 15 da Copinha. “Os pais do Leo Link me chamaram no dia em que viram as bolhas no pé do Jovino por conta da chuteira, e o Leo mandou uma chuteira nova para ele em cinco dias. Por isso, eu sempre falo que não chegamos sozinhos a lugar nenhum. Muita gente nos ajudou para o Jonvino correr atrás do seu sonho”, disse Rócio muito emocionada.
A estreia do DB na competição é no dia 3 de janeiro contra o Dom Bosco-MT, no estádio Ernesto Rocco, em Porto Feliz e Jovino falou sobre a expectativa e a importância de jogar o torneio. “Eu enxergo a Copa São Paulo como uma oportunidade magníf**a para a minha carreira. É um torneio que muitos sonham em jogar e pelo qual vou ter a oportunidade de mostrar quem eu sou em 2025. Estamos trabalhando para surpreender e poder chegar o mais longe possível com o Desportivo Brasil”, avaliou Jovino.
Com tantos obstáculos e sacrifícios que os pais de Jovino tiveram pelo caminho, o garoto expressa imensa gratidão pelo esforço que Rócio e Antônio tiveram para que ele chegasse até o Desportivo Brasil prestes a disputar sua primeira Copinha. “Sem dúvidas, tudo o que estou vivendo hoje de integrar a base de um clube, estar me preparando para estrear na Copinha, não seria possível sem o apoio da minha família. Sempre os meus pais e minhas irmãs, que, em momentos difíceis, estiveram ali comigo, me dando forças para continuar”.
“Um dia quero vê-los chorando nas arquibancadas por me verem estreando no profissional. Quero mudar a vida deles, pois, quando ninguém acreditou, lá estavam eles sendo minha maior força e combustível. Eles abriram mão de tudo pela minha saúde e pelo meu sonho”, emendou Jovino.
“Às vezes, o único dinheiro que minha família tinha era destinado ao Uber para eu ir treinar e, ao invés de minha mãe falar que não tínhamos condições, ela me motivava e dizia que eles dariam um jeito. Cada choro que já escutei deles, cada vez que vi minha mãe com os olhos cheios de lágrimas, meu pai me olhando e pensando ‘desculpa, filho, por não poder proporcionar algo melhor’, mas eles sempre deram de tudo por mim. Eu gosto de falar isso porque, se não fosse difícil, certamente eu não seria quem sou hoje. Se fosse fácil, não seria tão prazeroso viver esse sonho. Passamos por momentos tristes e felizes, mas hoje eu olho para trás e dou risada, porque tudo foram bênçãos de Deus em nossas vidas”, concluiu.