08/12/2020
Os resultados virão a médio ou longo prazo?
Evanilson de Souza tinha 15 anos no dia em que foi abordado com o irmão, um amigo e um primo por seguranças. “Vocês vão ter de sair do shopping.” O jovem negro, seus parentes e o amigo – um oriental – estavam de bermudas, motivo alegado pelos vigias para a ordem de expulsão. “Então, porque vocês não tiram os brancos que estão de bermuda aqui?”, questionaram. Souza havia levado o primo, que morava no interior do Paraná, para conhecer o shopping, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. “Queriam nos tirar dali porque éramos negros. Foi racismo.”
Hoje, 35 anos depois, Souza é tenente-coronel da Polícia Militar de São Paulo e o primeiro negro a comandar o 11.º Batalhão da corporação, responsável pelo patrulhamento da área mais nobre da capital paulista, os Jardins, na mesma zona oeste. Recebeu ainda do comando uma nova missão: rever os procedimentos da corporação para combater o racismo nas ruas do Estado.
“Um branco não sabe o que é o racismo. Eu sei. Vejo o racismo no olhar de quem é ra***ta”, disse o oficial. Católico, Souza foi designado para o grupo de trabalho que está reformulando o manual de direitos humanos da PM. A corporação informa que decidiu que era preciso “avançar no estímulo às práticas de combate ao racismo”. A ideia é de que não basta “o policial não ser ra***ta, ele tem de combater de maneira clara qualquer manifestação de racismo com a qual tenha contato no trabalho”.
Ou seja, a ideia é acabar com posturas como a cultura do “deixa disso” diante de uma acusação de racismo, a tendência de se contemporizar, por exemplo, com injúrias raciais, como se o autor do crime tivesse agido “sem querer ofender”. “O procedimento operacional será claro: o racismo não será tolerado”, disse o tenente-coronel Souza. A atual versão do manual de direitos humanos da PM foi feita em 1998, ainda no governo de Mario Covas (PSDB) e dedica pouco mais de 20 linhas à questão racial e de gênero no capítulo sobre igualdade. "Toda atitude deve buscar a igualdade e abominar a discriminação."
A decisão de rever e aprofundar os procedimentos operacionais da polícia acontece em um momento em que a corporação é questionada pelo movimento negro a respeito de suas práticas. Há denún