A arte nos possibilita valorizar o que nos é próprio e favorece a abertura à riqueza e à diversidade da manifestação humana. Além disso, torna-nos capazes de perceber a realidade cotidiana mais vivente no exercício de uma observação crítica do que existe em nossa cultura, possibilitando a conscientização de que o patrimônio artístico é elemento imprescindível para o reconhecimento e valorização de
indivíduos e grupos. A consciência da necessidade de um posicionamento a partir da cultura popular e do imaginário sertão sustentado a partir das raízes rítmicas que tem no tambor do congado o seu ponto de sinergia por jovens músicos montesclarense vem de encontro com os processos sociais advindos do contexto da globalização e da Constituição de 1988, em que a afirmação das diferenças e especificidades ganha força ao lado das tendências à uniformização e a cultura de massa, num país que se afirma como nação pluriétnica e multicultural. Desta forma, fincada no sertão de Minas Gerais, numa região cuja diversidade cultural se expressa em diferentes modos de vida tradicionais que elaboraram formas próprias e peculiares de convivência com ecossistemas diversos e em transição, numa forte relação com a lida com o gado. Entre cerrados, caatingas, veredas, chapadas e vazantes as identidades regionais construíram um mosaico de tradições envolvendo a vida em torno do extrativismo de frutas como o pequi, o umbu, a cagaita... Entre os fazeres próprios da roça da rapadura, da farinha, da carne de sol...
Em 2006 um grupo de ativistas, antropólogos e historiadores especialmente motivados pela invisibilidade dos Gerais no Estado de Minas perceberam a necessidade de recontar esta história para a população local a partir “dos de baixo”. Isto é, a falta de conhecimento sobre sua própria historia foi suficiente para instalar um sentimento de desprestigio, de não pertencimento ou ausência de participação na construção do imaginário em torno do processo civilizatório do estado de Minas Gerais. O movimento pela busca do reconhecimento da contribuição do Norte de Minas na construção histórica do Estado de Minas Gerais e da valorização da cultura e do povo Norte Mineiro foi chamado de Movimento Catrumano. Catrumano para referenciar positivamente a própria gente desses sertões, identificando seu peculiar modo de vida, costumes, sua mundivivência! Numa nítida contraposição às atitudes de estigmatização e aos processos históricos depreciativos das gentes sertanejas. Com uma proposta especial para a música brasileira, a Orquestra Catrumana do Groove Solto (OCGS) fundada pelos arte educadores e ativistas sociais, Adriano Lellis, Edson Lima e Mateus Sizilio, brotou em 2011 com o propósito de fundir os ritmos fortes do congado, dos batuques dos quilombos, as toadas, cantigas de roda, o boi de reis, da rabeca de Zé Coco do Riachão, dos aboios que ainda se ouvem no sertão com a música contemporânea, universal , cosmopolita e experimental. A OCGS trabalha com prazer e sentimento de pertencimento e mescla narrativas, personagens e temáticas atuais da resistência cultural com expressões e sonoridades universais. A música é compreendida como rito e performance discursiva que põe em cena o jogo de positivação das identidades culturais subalternas de gênero, de etnia e as identidades regionais por meio das canções, que parecem germinar na sensibilidade e na originalidade do sertão mineiro. Entre descobertas e invenções provoca o público e a cena cultural mineira com identificações variadas com a linguagem do novo e da tradição que surpreende, seduz e encanta diferentes faixas etárias. A trajetória da OCGS se iniciou em 2011. Ainda em fase de formação e com estrutura mínima a OCGS se apresentou em espaços como o próprio centro Cultural Hermes de Paula no Salão Nacional de Poesia – Psiu Poético e por meio de intervenção de cortejo e microespetáculo se apresentou nas tradicionais festas de Agosto em Montes Claros (Festividade onde se manifestam os ternos de Caboclinhos, Marujos e Catopés entoando saudações, louvores e cantorias através das Congadas), e obteve grande aceitação do publico, critica e imprensa local. Em 2012 foi convidada a fazer show no Festival de Cultura de Bocaiuva por intermédio da secretaria de cultura de Bocaiuva dali em diante as apresentações, ensaios abertos e intervenções em espaços culturais não pararam.
2013 foi o divisor de águas pois em parceria com a Associação Baru Cultural a Orquestra Catrumana do Groove Solto realizou a 1ª Oficina de Construção de Tambores em Montes Claros. O projeto teve como objetivo capacitar os participantes para a fabricação de tambores, e utilizar o processo de aprendizagem na construção dos instrumentos para reafirmar e repassar valores da cultura e da música dos povos e comunidades tradicionais pelo sertão gerais. A oficina foi financiada pelo Edital de Microprojetos da Bacia do Rio São Francisco/ Funarte, do Ministério da Cultura. Ao todo foram fabricados 10 tambores e outros instrumentos que hoje fazem parte do acervo da Orquestra. Além da oficina, O calendário de atividades do projeto também contou com ensaios abertos em locais públicos, pré-apresentações gratuitas na Praça Dr. Carlos, na feira de artesanato da Praça da Matriz e em centros educacionais da cidade. A Orquestra Catrumana culminou o projeto com um espetáculo multimídia no centro cultural Hermes de Paula com a participação dos artistas Jukita Queiroz, Bruno Andrade & Fabiana Lima e a banda Apoenah. Ainda em 2013 tocou no palco principal das festas de Agosto ao lado dos parceiros, apoiadores e colaboradores Bruno Andrade & Fabiana Lima. No histórico cassarão Solar do Sertões, a OCGS levou o publico que transitava pelas tradicionais festas , em uma experiência fantástica através da linguagem do tambor e sua ancestralidade.Apresentou na abertura do Prêmio de Música das Minas Gerais realizado pelo Governo de Minas Gerais – Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais em parceria com o Grupo Pássaro Verde e Espaço Ampliar. Se apresentou em simpósios de psicologia, historia e desenvolvimento social por universidades estaduais e privadas. Recentemente se apresentou em um projeto de maratona cultural organizado pelos movimentos sociais em parceria com a prefeitura de Montes Claros, no corredor cultural da cidade. Além de construir alguns de seus muitos instrumentos, a Orquestra Catrumana compartilha seus saberes em diferentes meios sociais, partindo do próprio centro urbano e ate remotas comunidades tradicionais pelo vasto sertão Gerais.