09/08/2024
RAÍZES
ERNESTO FERREIRA DE OLIVEIRA
PÉS COM RAÍZES VERMELHAS: A PROSA SABOROSA DE ERNESTO
O livro que o leitor tem em mãos é fruto de uma vida dedicada à contagem de histórias. Assim como em seus trabalhos anteriores, Ernesto leva mais adiante sua escrita apaixonada pela linguagem, falada, recontada e escrita. Creio que ele encontrou o auge de sua prosa vigorosa e humanista. É óbvio que a escrita do Professor Ernesto Ferreira de Oliveira aprimorou-se por conta de suas outras práticas: a experiência no ensino de Latim, Língua Portuguesa, suas pesquisas da História Informal do Campo e seus Relatos de Pioneiros Desconhecidos. Mas o que eu quero destacar aqui, são as impressões que tive ao ler essa prosa riquíssima. Ah, a literatura centrada na fala e na escrita de quem gosta de contar! Sobretudo porque o Professor Ernesto primeiro aprendeu a ouvir, com igual paixão, direto dos contadores de causos, respeitando os falares, os sotaques, as misturas de regionalismos no Paraná pioneiro dessas terras vermelhas, com olhos e ouvidos atentos a essa diversidade.
E em posse de toda uma vida estudando essas narrativas, junto ao seu vasto conhecimento de nossa fauna, flora. Nos oferta um esbanjo de nomes populares, dos seres, coisas, lugares, com uma personalíssima dicção e, ainda, com essa mesma paixão, nos apresenta um generoso compêndio das vozes desses personagens. Tudo intermediado por um narrador que domina em sua prosa poética, os nomes matutos de plantas, bichos, ferramentas... lançando mão de um verdadeiro arsenal de expressões típicas dos pioneiros, maneirismos populares, mixados aos diálogos de seus personagens.
Quanto ao gênero literário trata-se de um híbrido situado entre conto longo, novela e romance, cujo eixo central é a formação e crescimento de uma cidade aonde acorre uma verdadeira galeria de tipos, com seus nomes e apelidos populares. A história desliza entre idas e voltas no tempo, mas é nessa cidade em veloz expansão que os vários núcleos de personagens atuam, como os da Casa Verde, luxuosa boate ou casa de prazeres, a partir da qual a história ramifica-se através de uma galeria de personagens densos, de breves passagens, ou pivôs de outros microenredos... E quem costura uma boa parte das narrativas é Seo Antônio, que, sob a alcunha de Calumbi, carrega o estigma de sua antiga vida entre cangaceiros e presidiários. Até por fim estabelecer-se como braço direito de um grande plantador de café.
Por fim, chamo a devida atenção para a fina artesania da prosa do Ernesto, cuja simplicidade elaborada e sutil esbanja seu evidente zelo, tudo numa dicção personalíssima, enredos costurados com linguagem gostosa de se ler, como se ouvíssemos as conversas de entes queridos, em personagens tão verossímeis, que em poucas páginas, já deles somos familiares. Eu penso no trabalho de bordo desse Ernesto... Ouvinte atento. Portador das palavras da tribo. Seus arquivos repletos da experiência genuína com as palavras de peões, caçadores, agricultores, imigrantes, mas todos brasileiros, com a tradição oral dessa mistura que formou o Norte do Paraná. Que fartura de prosas, ouvidas, anotadas e reunidas... A velha e sempre nova trama duma pequena cidade cercada por plantações e mato; seu comércio, igreja, ambição dos políticos e dos bem-afortunados, casa de prazeres, progresso crescente, gente de toda parte do país e muitos estrangeiros se achegando também.
O que desejo ao leitor é o que tive: Boa leitura!
Serviço:
Autor: Ernesto Ferreira de Oliveira
Atrito Arte Editora
ISBN 978-65-86198-30-0 1. Literatura brasileira – Crônicas. 118 páginas, 1x1 cor.
Coordenação editorial: Chris Vianna
Produção: Beatriz Vianna Boselli
Assistente de produção: Gabriel Vianna Boselli
Capa, projeto gráfico e editoração: Marco Tavares
Revisão: José Augusto Pereira
Dia do lançamento: 10/08, 11 horas, SESC CADEIÃO
Contato: 43 9 9941 7414