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18/12/2024
O Avanço da Violência Policial e a Influência do Discurso de ódio no Brasil
A violência policial no Brasil, marcada por denúncias de tortura e execuções sumárias, tem suas raízes em práticas consolidadas durante a ditadura militar (1964-1985). Apesar da redemocratização e da Constituição de 1988, que consagra os direitos humanos como pilares do Estado de Direito, essas abordagens violentas continuam a assombrar o país. Nos últimos anos, entretanto, especialistas apontam um agravamento dessas práticas, impulsionado pelo discurso político que legitima métodos autoritários.
A gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, conhecido por declarações públicas favoráveis à tortura e pela exaltação de práticas violentas no combate à criminalidade, é frequentemente citada como fator relevante nesse contexto. Em diversas ocasiões, Bolsonaro elogiou notórios torturadores do regime militar e defendeu uma atuação policial “sem limites”, reforçando uma retórica de endurecimento que encontra eco em setores das forças de segurança pública.
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou mais de 6.000 mortes decorrentes de intervenções policiais em 2022, sendo um dos países com maior letalidade policial do mundo. Para organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, o crescimento desses números está diretamente ligado a discursos que deslegitimam mecanismos de controle e incentivam uma lógica de enfrentamento indiscriminado.
A socióloga e pesquisadora Jacqueline Muniz aponta que o respaldo discursivo de lideranças políticas cria um “efeito cascata”, reduzindo a accountability das forças policiais e dificultando a fiscalização de abusos. “Quando lideranças políticas passam a defender abertamente a tortura ou execuções, ainda que de forma indireta, criam-se condições para que práticas ilegais sejam vistas como aceitáveis ou até desejáveis”, afirma.
Por outro lado, defensores das ações policiais argumentam que o aumento da violência é uma resposta necessária ao avanço do crime organizado. Esse discurso, porém, é criticado por especialistas que destacam a ausência de estratégias estruturais de segurança pública, como investimentos em inteligência, programas de prevenção e reformas nos quadros policiais.
A influência política sobre a atuação das forças de segurança continua a ser um ponto de tensão no Brasil. Enquanto familiares de vítimas de abusos policiais clamam por justiça, setores conservadores reforçam a defesa de uma política de “mão dura”. Nesse embate, o desafio permanece: construir uma segurança pública que não seja baseada na violação de direitos, mas em estratégias efetivas que promovam segurança e cidadania para todos.