11/02/2024
Deuses e Orixás
Por Maria Poletti e Émile Penha
“[…] porque no fundo de todas as religiões arde a mesma luz; as diferenças são históricas, sócio- políticas ou simbólicas, mas do ponto de vista filosófico a luz é una.” (Jorge Angel Livraga)
A palavra “Religião” vem do latim “religio, religionis”, formado por 3 elementos:
1 – o prefixo “re” que expressa repetição, reafirmação de algo, intensidade de algo;
2 – o verbo “ligare” que expressa o ato de ligar, fortalecer um vínculo;
3 – e se completa com o sufixo “ão” baseado nos componentes latinos “o” ou “onis” que estrutura uma palavra em função de ação e efeito.
Temos, então, que religião é o ato de reafirmar o vínculo entre o ser humano e a divindade, seja esta representada por um ou vários deuses, o ato de reunir o ser humano ao Divino, ao sagrado.
Na Grécia Antiga se cultuavam diversas divindades, especialmente os deuses que compunham o chamado Panteão Olímpico, fazendo parte dele: Zeus, Hera, Poseidon, Atena, Ares, Deméter, Apolo, Ártemis, Hefesto, Afrodite, Hermes e Dionísio.
Os deuses simbolizavam para os gregos os arquétipos, os princípios universais, enunciam as origens e também o destino ao qual se deve encaminhar os homens.
Para o povo iorubano também existe um panteão, formado de muitos orixás, que podem se multiplicar de acordo com as forças que representam, existindo uma variedade de devoções, de cantos, danças, ritos e cores em homenagem a cada um deles.
Um aspecto muito interessante e comum tanto para os gregos como para os povos tradicionais iorubás é a existência de um oráculo. Oráculo significa uma resposta, uma previsão de futuro, dada pela divindade a quem o consultava, através de intermediários ou mensageiros.
Os gregos da antiguidade costumavam ir ao Oráculo de Delfos, localizado na antiga cidade de Delfos, que era considerada o “umbigo do mundo”, pois se diz que o deus Zeus a considerou como o ponto médio da Terra. Muitos a ele se dirigiam para consultar o deus Apolo sobre alguma questão pessoal ou relativa à cidade, à política, às batalhas, em busca de conselhos e ajuda. As pitonisas eram as sacerdotisas quem serviam de ponte entre os deuses e a humanidade.
Na cultura iorubana fala-se no Oráculo de Ifá. Conta o mito iorubá que Exu, o orixá mensageiro, andava de aldeia em aldeia recolhendo as histórias e procurando soluções para os problemas dos homens e dos orixás. Todo esse conhecimento colhido era dado a Orunmilá, também chamado de Ifá, o deus do oráculo, que então o transmitia aos seus sacerdotes, também chamados de babalaôs ou pais do segredo.
O professor Reginaldo Prandi, no seu livro Mitologia dos Orixás, nos diz que “Para os iorubás antigos, nada é novidade, tudo o que acontece já teria acontecido antes. Identificar no passado mítico o acontecimento que ocorre no presente é a chave da decifração oracular” (p. 18). Assim, o babalaô, jogando os dezesseis búzios ou outro instrumento de adivinhação, tinha que resgatar dentro dos mitos a passagem que correspondia à questão trazida pelo consulente e a sua solução. Esse segmento que continha a resposta chama-se odu, que são “signos do oráculo iorubano, formados de mitos que dão indicações sobre a origem e o destino do consulente” (idem, p. 567).
Exu, o orixá mensageiro, é aquele que faz a comunicação entre o babalaô e Orunmilá, transmitindo as questões dos homens e suas oferendas aos orixás e trazendo as respostas da divindade, sem ele não existe movimento, mudança nem trocas mercantis.
Na cultura grega também existe um deus mensageiro, Hermes (Mercúrio para romanos), quem realiza a ponte entre o plano espiritual e o plano da matéria, entre os deuses e os homens, também profundo conhecedor da magia e considerado o deus do comércio.
Podemos ainda destacar Zeus, considerado o pai dos deuses e dos homens, detentor da luz, da claridade, simboliza o reino do espírito. De forma semelhante, há na expressão iorubá Oxalá ou Obatalá, também chamado de o Grande Orixá, por se tratar do criador do homem, senhor absoluto do princípio da vida.
O deus grego Hefesto, aquele que ata e desata os nós, que constrói e destrói, que tem o domínio do fogo, do ferro e da metalurgia, lembra as forças representadas por Ogum, que é o orixá forjador do ferro, também da metalurgia, da guerra, dono dos caminhos, das oportunidades e da realização pessoal.
Assim como tem Afrodite (Vênus para os romanos), simbolizando a fertilidade, deusa das águas fecundantes, há a divindade iorubana representada por Iemanjá, a mãe dos deuses, dos homens e dos peixes, senhora das águas, que rege o equilíbrio emocional e também a fertilidade.
Tanto na cultura helenística como na iorubá, as divindades, suas forças, seus feitos, suas conquistas e desventuras, suas guerras travadas, a relação com a natureza, o passado, o presente e o futuro, estão simbolizados e retratados nos mitos. A mitologia tem um papel fundamental na preservação e transmissão dos valores dessas culturas, também dos seus aspectos religiosos e sagrados. A história dos deuses, como a dos orixás, suas jornadas, conquistas e desventuras foram sendo contadas ao longo do tempo e chegou até nosso tempo através dos mitos.
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