Somos um estúdio especializado em produção, gravação, mixagem e masterização da música Rap e também somos uma marca (KDF Street Wear). A história do Kazadufunky estúdio começa nos anos 80, época em que seu proprietário Dall (Odair Silva), ainda criança, começava a ter contato com a música através de um rádio-gravador portátil comprado por sua irmã mais velha (Márcia) e que ficava o tempo todo sint
onizado na Band FM ou Rádio Cidade. Dall: “Ali ouvi pela primeira vez músicas como Leva e Telefone (Tim Maia), Careless Whisper (George Michael), I Just Called (Stevie Wonder) e We Are The World (Usa For Africa), entre outras. Fico muito feliz quando busco na memória minhas primeiras lembranças musicais e esses nomes surgem logo de cara.”
Em 1987 seu irmão mais velho (Marcelo, vulgo Cello) começa a trabalhar e junto com a irmã compra um aparelho de som 3 em 1 da marca Sharp, onde pela primeira vez o garoto viu um disco de vinil rodando, como relembra. Eu me lembro da minha irmã ouvindo um vinil da Legião Urbana e o meu irmão algum tempo depois chegou com o Som das Ruas, o Hip-Hop Cultura de Rua e uma coletânea da Band FM que tinha Eric B & Rakim. Eles falavam pra não mexer nos discos, mas sabe como é criança, assim que eles saiam pra trabalhar eu ia direto pro som .”
Nessa mesma época seu primo Kiko já freqüentava o centro da cidade de São Paulo e já comprava alguns discos, os famosos piratinhas (coletâneas com Flash Rap num lado e Melodia no outro). Ele tinha uns quarenta Lp’s mais ou menos e um dia vendeu tudo pro Cello, que também passou a comprar discos. Foi nessa época que o Rap se tornou a música preferida pelos irmãos e sempre que algum amigo do Cello ia em casa pra ouvir as novidades, o garoto ficava ali no seu canto, ouvindo a conversa deles e pescando os nomes que citavam. Em 1994 o garoto começa a trabalhar também e seguindo os passos do irmão, passou a torrar o seu salário na compra de discos e cd’s. Frequentou lojas como Trucks Discos, Hot Line, Flórida Laser, Discomania e Ghetto. Como era de praxe nessa época, os amigos pediam para gravar fitas k7 e foi aí que sua criatividade entrou em cena. Ao gravar as fitas, sempre fazia uma espécie de introdução, onde usava o botão pause do tape deck para fazer suas edições. No ano de 1997, cursando o colegial na escola Imperatriz Leopoldina, conheceu seu grande amigo e parceiro Oviane, vulgo Malaco Opi, que já escrevia as suas rimas. Ele começou a freqüentar a casa do Dall e pode comprovar que a paixão pela música estava ali, presente nos discos e cd’s que ouviam e falavam a respeito, como relembra. Dall: “Quando o Andrezinho (um amigo de infância) me apresentou o Opi e o Tchula eu já tinha percebido que eles ficavam me medindo e tal, porque eu já ia pra escola no estilo, calça big e camiseta do Snoopy Doggy Dogg por exemplo. Quando convidei ele pra ir na minha casa, ele me disse que ficava falando que não podia ser, aquele branquelo com a camisa do Snoop só podia ser por acaso (risos)"
Um dia o Opi lhe entregou uma fita k7 com algumas de suas letras gravadas acapella e o Dall gostou muito e perguntou porque ele não tinha uma fita demo, que se quisesse poderia ir em sua casa pra escolher alguns instrumentais. Dall: “O Opi foi a primeira pessoa que chegou pra mim e falou que eu seria produtor. A gente tava na escola, falando sobre o disco solo do Dj Yella (NWA) e quando comecei a fazer comentários sobre os beats, os instrumentos e os samples que ele usou ali, ele virou pra mim assim do nada e falou: Pô mano! Você tem uma sensibilidade e uma percepção embaçada sobre as músicas, é como se você ouvisse tudo separado.”
O processo de produção e gravação do disco do Malackcia entitulado Entrando em Cena levou cerca de três anos, iniciando na casa dos irmãos Carlos Junior e Jorge Lima (Hoje artistas da cena eletrônica, conhecidos como Dj Spy e Unreal) onde pela primeira vez tiveram acesso a gravação em computador e conheceram softwares como Sound Forge. O disco Entrando em Cena foi lançado em Junho de 2000, com produção independente e tiragem de 1000 cópias, bancada pelos próprios integrantes. Dall: “Depois de ter passado por alguns estúdios eu fiquei maravilhado com os recursos, com as possibilidades que a tecnologia associada a criatividade podem abrir. Um pouco antes de concluir o disco Entrando em Cena, eu comprei meu primeiro computador, no final de 1999 e foi ali que começou a minha história, colocando a mão na massa e fazendo meus primeiros beats.”
Dessa parceria com o Opi veio o primeiro contato com a dupla Spainy & Trutty, da zona norte de São Paulo, que haviam lançado o álbum Rasgando o Verbo e estavam começando o processo de produção do seu novo disco. A dupla gostou da forma como o Dall produzia os beats, sempre com foco na música suingada e com raízes no Soul, Funk, R&B e afins. Juntos produziram os discos Há Vida (2003) e Direto do Gueto (2005), ambos lançados pela gravadora OBI Music. Dall: “O Opi conhecia um dos irmãos do Spainy e comentou com ele que vinha produzindo comigo. Um dia o Spainy foi na minha casa e levou uma música do Bee Gees, que ele queria usar pra fazer o beat. Eu sampleei e coloquei uma batida em cima, foi uma espécie de teste e eles curtiram o resultado. Foi assim que nasceu a parceria eles e fizemos muitas coisas juntos.”
Da amizade e parceria com Spainy & Trutty veio o contato com o Thig, que era o líder do grupo Relatos da Invasão. O Trutty estava produzindo uma faixa chamada União, onde ele havia convidado vários rappers da Zona Norte para participar e o Thig era um deles. Quando foi gravar a sua parte no som, o Thig conheceu o local onde Spainy & Trutty estavam produzindo e percebeu que ali, junto com o Dall, poderia dar andamento em algumas faixas do disco do Relatos. Conversaram e alguns dias depois surgiu o primeiro beat produzido para o Relatos da Invasão, a faixa Ontem, Hoje e Amanhã. Dall: “O Thig chegou em casa uma noite trazido pelo Nego Trutty. Ele tinha ouvido as duas versões da música União, que eu tinha feito e gostou logo de cara. Então ele me falou sobre o Relatos, do projeto pra lançar o disco e fechamos a parceria ali na hora. Os recursos eram poucos, mas o entusiasmo e a criatividade supriam as necessidades e acabei produzindo sete faixas do disco É o Gigante, lançado pelo selo Equilíbrio Discos, do Dj Kljay.”
Nessa mesma época foram produzidas duas faixas com o grupo Última Chance, também da Zona Norte de São Paulo. As músicas foram Quem Foi Que Disse e Din-Din. Dall: “Os manos do Última Chance colaram querendo fazer um som com sample de Samba-Rock e eu já tinha guardado a música Speed, da Sônia Santos na minha mente, porque eu achava que ela tinha um clima legal pra um beat. O resultado foi um rap bem brasileiro e essa era uma das características dessa geração de rappers da Zona Norte, os manos eram jovens na sua maioria, mas eram muito influenciados por Samba-Rock, Soul, Funk e Samba verdadeiro. Os moleques tinham aquele molho na levada, tá ligado? Aquela parada de nego véio, estilo Branca di Neve, entende?”
Outro grupo que foi produzido por Dall foi o Suspeitos da Norte, os manos da Vila Maria e Parque Edu Chaves, que rimavam o cotidiano violento num estilo radical e pesado, na mesma linha do Facção Central. Fizeram em torno de dez músicas e lançaram um Ep chamado Realidade Brasil, com cinco músicas. Era outra linha de produção, com beats sinistros, estilo gangsta e letras fortes, o que somou muito na bagagem do produtor. Dall: “Eu sempre ouvi muito gangsta rap, gosto muito do estilo G-Funk e aquelas paradas mais harmonizadas que os manos de Los Angeles fazem. Quando veio o Suspeitos foi a oportunidade pra produzir nesse estilo mais pesado, sampleamos muito pouco, quase tudo foi tocado, criado do zero e isso me empolgou muito, saber que poderíamos criar a nossa própria música, sem depender dos samples.”
Nesse mesmo período, Dall produziu uma faixa com o rasta Sambah (Família 7 Velas), chamada Todo Mundo Pode, um ragga estilo Dancehall e também entrou para a banda Mangueroots, onde atuou como Dj, chegando a gravar um cd demo com eles, contendo cinco faixas, duas músicas próprias e três covers das bandas Nação Zumbi e Sheik Tosado. De 2007 a 2010 ficou um pouco afastado das produções, pois cursava a faculdade Ung em Guarulhos, onde estudou e se formou em Gestão da Tecnologia da Informação, porém sempre se manteve pesquisando música, comprando discos e livros e ouvindo coisas novas. Em 2012 se casou e foi morar na Zona Leste de São Paulo, onde um cômodo vago na casa reascendeu seu sonho de ter o próprio estúdio. Começou praticamente do zero novamente, comprando alguns equipamentos e voltando a fazer alguns beats. Em 2014 surge a parceria com o rapper Kuryña G-Funk, na música Exército de Um Homem Só, um som onde foi usado um sample de uma faixa do Syl Jhonson. O beat foi produzido por Dall e a música foi gravada, mixada e masterizada por Base Mc, no Refugiáudio Estúdio. Dall: “Eu sempre falo pro Kuryña da importância dessa música pra mim, tá ligado? Foi como um renascimento, ela abre uma nova etapa na minha vida e me traz de volta pra cena. Sempre agradeço a ele por ter gravado o meu beat, porque eu acho que foi coisa do Destino esse som. Eu não o conhecia pessoalmente, falávamos sempre pela internet e eu já conhecia e admirava o trabalho dele no disco do 1A+ e o álbum solo Na Caminhada Funk.”
O trabalho mais recente foi a música De Farol em Farol (Seguindo em Frente), do grupo Só Karaloko, com participação de Renan Maia no refrão. Um rap com beat no estilo Smooth Jazz e com letra consciente, exaltando a importância da motivação e perseverança para conquistar os objetivos. Esta á a característica do Kazadufunky Estúdio, produzir músicas relevantes e com qualidade, sem a preocupação de seguir as estéticas sonoras e os estilos impostos pelos modismos.