26/12/2024
Feliz Natal
O Natal no Brasil de Antigamente
O natal de antigamente não tinha neve artificial nem árvores de plástico reluzentes em vitrines comerciais, a festa era guiada por tradições genuínas e profundamente enraizadas na cultura local.
Nas ladeiras íngremes de Salvador. escravizados equilibravam habilmente cestas na cabeça, carregando perus e frangos vivos e outros animais, doces feitos em casa e bilhetes delicadamente recortados. Ao chegar às casas, anunciavam com sorrisos largos: "Siô branco manda uns presente...". Naquela época, a troca de presentes não era meramente uma ostentação, mas um símbolo de afeto e generosidade, óbvio também uma forma de criar e fortalecer vinculos. .
As celebrações misturavam o sagrado e o profano de forma única. Danças como o bumba-meu-boi, os reisados e as congadas animavam as noites, enquanto as igrejas acolhiam tanto cânticos litúrgicos quanto bailes festivos ao som de instrumentos rústicos. Do lado de fora, a comunidade representava a Natividade, com pastores, reis magos e até animais reais compondo o cenário. Os cânticos ecoavam na noite, perpetuando tradições musicais que remontavam ao século XI, trazidas de Portugal.
Entre as tradições mais marcantes estava o "pão por Deus". O pão, claro, era o presente mais comum, mas um presente cuidadosamente preparado, muitas vezes decorado, simbolizando a abundância e o espírito eucarístico. A tradição, herdada de Portugal, ganhou no Brasil um toque especial: doces caseiros, carnes e até pequenos objetos simples eram oferecidos com esmero, envoltos em folhas recortadas. Crianças, adultos e até escravizados batiam de porta em porta, pedindo ou oferecendo o *pão por Deus* em uma prática que ia além do dar e receber – era um ato de reafirmação dos laços comunitários, um símbolo de solidariedade e convivência.
Mais do que uma festa, o Natal era principalmente visto como um momento de comunhão e partilha. As irmandades religiosas distribuíam carne, arroz e pão aos mais pobres, garantindo que ninguém ficasse de fora dessa celebração. Naquele tempo, o Natal era a festa de todos, onde o espírito comunitário prevalecia sobre o individualismo.
Na imagem vemos a obra "Os Presentes de Natal", de Debret .
Texto: Ph Máximo (*A História Esquecida).