06/08/2015
Entrevista com Wilson Alves-Bezerra sobre o livro de Jefferson Dias
Dia 19/11 - Lançamento do terceiro livro da Coleção Galo Branco: "Silenciosa Maneira
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"Galo Branco: Entre as grandes presenças deste “Silenciosa maneira”, livro de Jefferson Dias, algumas se destacam, como aquela do medo, da melancolia e da morte. Qual seria a forma específica com que o livro aborda esses temas que atravessam a poesia desde sempre? Em outras palavras, como eles nos chegam nesse livro de poesia contemporânea?
Wilson Alves-Bezerra: Os temas do medo, da melancolia e da morte, como você diz, são onipresentes em nossa tradição da poesia ocidental; a singularidade de Jefferson Dias, como no caso de todo bom poeta, reside na forma com que os trabalha, em como os faz funcionar em sua poesia. Vejamos um exemplo: a escolha de vocabulários em Silenciosa Maneira coloca o corpo em primeiro plano, um corpo orgânico e transbordante de humores e secreções, um corpo aberto ao olhar, à doença e à morte: “Abalançar o corpo aberto: / Ressaber com – a presença aberta.” Este corpo, destituído de sua condição divina e social, se torna objeto de frequentação, observação e putrefação. A obscenidade do corpo aberto também funciona em coro com outros elementos, como a interpelação ao leitor; o poeta põe em cena a falência geral da existência humana. Se há melancolia e medo, há também um gesto crucial do poeta de entregá-los ao leitor, sob a forma de provocação. O medo, funcionando como antecipação de algo funesto que possa vir a acontecer, já serve ao poeta para legar o papel de verdugo ao leitor: “Eu abro as mãos / E não há arrependimento, / Apenas há dissimulação. / Matai-me.”, diz ele, já no poema inicial. Para ensaiar uma comparação imagética, se no século 19, o poema “The Raven”, de Poe, nos assombrava com a presença funesta que adentra pela janela e nos perturba a noite e a existência; Jefferson Dias, seguindo a trilha de Augusto dos Anjos, ensaia ele mesmo exercer este papel, isto é, opta por ser o poeta-corvo, aquele que lança imprecações contra quem se aproximar de suas páginas."
"A escolha de vocabulários em Silenciosa Maneira coloca o corpo em primeiro plano, um corpo orgânico e transbordante de humores e secreções, um corpo aberto ao olhar, à doença e à morte". Esta é um...