29/11/2024
No início de setembro, em Paderno Dugnano, uma comunidade da província de Milão, um jovem de 17 anos matou os pais e o irmão mais novo, de 12 anos. Um rapaz aparentemente sem problemas especiais, que vivia numa família normal, como tantas outras, mas que levou a cabo um massacre para o qual nem ele próprio parece conseguir dar uma explicação. Aqui, o panfleto preparado pelo Movimento sobre o ocorrido.
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A história trágica de Riccardo, de 17 anos, que matou o irmão, a mãe e o pai sem motivo aparente, impressiona-nos e interroga-nos. Pelo que sabemos, ele não indicou nenhum motivo para além de um mal-estar pessoal de que se queria livrar. Há um mistério tão insondável na manifestação de uma maldade tão desumana, que a primeira reação é a de um silêncio desolador. A dor pelas vítimas (e pelo culpado, que agora se vê diante de uma vida inteira marcada pelo que fez) é amplificada pelo olhar para os muitos jovens que sentem um mal-estar semelhante e que, muitas vezes, o comunicam de várias formas, mas que, com a mesma frequência, o escondem dentro de si. Este mal-estar assume a forma de um vazio interior e de um isolamento radical que não se limita a casos particulares. Aliás, ninguém está verdadeiramente livre dele.
A primeira exigência que sentimos, para além dos casos noticiosos, é a de nos interrogarmos e tentarmos compreender o que está na origem de determinados fenómenos, conscientes de que essa interrogação, no fundo, continua a ser um mistério inatingível. Muitos intelectuais, jornalistas e especialistas falaram sobre o assunto; alguns, em particular, acharam oportuno recordar, a «uma sociedade que se recusa a ver o abismo que tem diante de si», que «no mundo existe a presença ativa do mal» (Susanna Tamaro, Corriere della Sera, 4 de setembro). «Um mal insondável, por isso próximo e possível até para nós» (Maurizio Crippa, Il Foglio, 4 de setembro).
Dominados, como todos, por um sentimento de perplexidade, perguntamo-nos, porém, se este mal-estar não encontra um terreno fértil na concepção de liberdade em que estamos mergulhados. A liberdade entendida como autonomia total, como pretensão de que me basto a mim próprio, em que o único horizonte de realização admissível é a concretização dos meus desejos e projetos, muitas vezes derivados de expectativas impostas pela sociedade. Segundo esta visão, o outro não só não tem o direito de me ajudar a compreender quem sou, como tende mesmo a tornar-se um inimigo. O resultado dramático, independentemente da idade, é a ruptura dos laços: talvez não nos isolemos fisicamente, mas perdemos o sentido dessas ligações, correndo o risco de ficarmos aborrecidos ou mesmo deprimidos, cada vez mais vazios e solitários porque incapazes de reconhecer que a relação com o outro nos define enquanto pessoas.
Num tal contexto, afirmar que a emergência é a educação significa ter no coração o destino de todos nós. Ouvir os jovens e levar a sério as suas questões é decisivo, mas não basta se não houver também alguém que lhes indique um caminho e o partilhe com eles, como nos testemunham de forma simples os avós de Riccardo, que não o abandonaram. Nada é mais necessário do que os pais e os professores que propõem aos jovens uma hipótese de sentido para a vida. Na escola, em particular, este envolvimento deve ser favorecido, para que os jovens possam realmente verificar as propostas educativas. A tendência, pelo contrário, parece ser a de silenciar estas vozes, em nome de uma concepção mal compreendida de laicidade como neutralidade. O problema não é tanto educar para um modo de vida, mas educar para perguntar por que e para que viver. Essa necessidade de sentido que tentamos dissimular de tantas maneiras é, de facto, uma aspiração que não se pode eliminar, mesmo nas suas expressões mais áridas ou mesmo trágicas. O que desejamos, mais ou menos conscientemente, é que alguém nos ame, reconheça o nosso valor, nos liberte do mal.
Um amor assim parece impossível. Mas houve um momento na história em que ele se apresentou e se afirmou nos traços de um rosto com um nome muito preciso: Jesus de Nazaré. Como aconteceu com a mulher samaritana de que fala o Evangelho: Jesus decidiu tomar o caminho mais difícil, através do deserto, e ir ao poço numa altura do dia em que ninguém lá ia, de propósito para falar com aquela mulher. Aquele encontro salva-a: o próprio Deus incomodou-se por ela. É o início de uma vida nova, a possibilidade de um olhar sobre si mesmo e sobre a realidade cheio de esperança. Assim é também para nós. Frágeis e limitados como toda a gente, perante o abismo inexplicável do mal, não temos nada a oferecer ao mundo senão este amor que recebemos por nossa vez e a amizade como lugar para o experimentar.
Setembro de 2024
COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO